ⅤⅠ

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Fiquei inquieto. Um homem morto ali, no meio da rua? Não consegui dormir. Revivia o tempo todo aquela cena grotesca em minha mente. Seria possível que a crueldade estava de algum modo me perseguindo onde quer que eu fosse? Tive pra mim que o rastro da morte atravessara o campo de batalha e chegava até mim como uma serpente putrefata. Minha imaginação me atormentou naquela noite. Eu sentia os açoites.

No dia seguinte as notícias logo chegaram. Do lado de fora havia um burburinho que se formava. Bebi rápido meu café para que pudesse pegar um bom lugar no meio da multidão. Fomos eu, Joanna, seu Lúcio e uma de suas criadas. Chegando lá a confusão era imensa. Amontoavam-se ali desde crianças pobres a mulheres da vida*. Me aproximei da vítima em meio aos empurrões dos curiosos. Alguns poucos policiais tentavam em vão bloquear o cadáver de nossas vistas. Um deles segurava uma caderneta, parecendo anotar algo supostamente importante, ou ao menos fingindo. "Afastem-se, cambada de curiosos!" - bradava um outro. Não adiantou; éramos mais.

Vi quando os policiais manipulavam o corpo, com intuito de o identificarem. Viraram-no de barriga pra cima para revelar o rosto.

Nesse momento, meu amigo, foi quando eu quase expulsei o café para fora do meu estômago.



*Isto é: Prostitutas. (Nota do autor)

Cartas de Um MiserávelOnde histórias criam vida. Descubra agora