Eu gelei. Quem pudesse dizer que a guerra viria em minha direção? Confesso que por um tempo — que agora não sei quanto tempo foi — eu não soube o que fazer. Sem mais nem menos, tive que precisava fugir. Eu entrava em desespero. Primeiro saí lentamente da sapataria, olhando ao redor e não vendo uma viva alma passando naquela rua gelada. Aquela calmaria certamente era um sinal de que o pior estava por vir.
Só sei que corri sem nem pensar muito. Saí de lá apavorado; cortando ruas e esquinas com uma velocidade que você não acreditaria. Naquela hora minha mente estava em tal êxtase que mal podia notar qualquer detalhe à minha volta; a minha única preocupação era fugir.
Cheguei à uma ruela estreita que havia sido bloqueada talvez por conta de alguma obra abandonada. Por um momento vi que havia até um espaço ou passagem que eu podia atravessar, mas decidi que seria melhor não; algo me dizia que eu devia tomar outro caminho, fosse o que fosse.
Virei à esquerda sem pensar duas vezes, indo parar numa rua sem saída. Meu coração já batendo forte no peito. Olhava ao meu redor — ninguém; a ausência me fazia sentir mais medo. Senti que eu iria morrer ali mesmo se não tomasse alguma decisão.
Olhei para o chão e vi um bueiro semiaberto e não hesitei. Eu precisava sobreviver, nem que para isso eu precisasse entrar naquele lugar. Abri, jogando a tampa para longe. Pulei lá dentro.
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Cartas de Um Miserável
Mistério / Suspense~HISTÓRIA CONCLUÍDA~ Perdido. É assim que o autor dessas cartas se encontra durante o maior conflito da história da humanidade. Ao escrever para um amigo de infância com quem não fala há muitos anos, decide expulsar seus demônios ao contar sobre os...