Isso é tudo, meu amigo. Agora só me resta contar sobre o lugar onde estou: é um lugar que você passa meses sem ter praticamente nenhuma novidade pra contar. Bem sei que você não gostaria de ler sobre isso, sabendo do seu jeito agitado.
Soube que você arrumou um novo emprego aí. Gostaria muito que me escrevesse e me colocasse a par das novidades. Eu ficaria muito feliz em ler daquelas suas incríveis anedotas que desde nossa mocidade você costumava contar. Lembra-se da história do lago? Ah, aquela sim é um clássico! Todos os companheiros paravam o que estavam fazendo para cercar você e ouvir a história, pra no final explodir em gargalhadas. Bons tempos!
Enfim, a vida continua em frente enquanto a nossa mente ainda quer ter com o passado (ao menos o bom passado). Coisa estranha é o tempo, não? Um vai pra frente e outro pra trás... Antes eu tentava entender essas coisas; agora sou apenas um homem simplório do campo. É melhor que seja assim. Estou satisfeito desse jeito.
Agora preciso me despedir, meu amigo. Minha linda esposa me chama pro jantar. Iremos comer frango ensopado com batatas — um dos meus pratos favoritos. Se Deus assim permitir, continuarei lhe mandando novas cartas contando mais sobre este maravilhoso lugar. Mas isso deixarei mais pra frente — por enquanto me deixe aproveitar mais um pouco da vida mansa que levo aqui.
Do seu caro amigo Gesualdo.
Dezembro de 1948.
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Cartas de Um Miserável
Misterio / Suspenso~HISTÓRIA CONCLUÍDA~ Perdido. É assim que o autor dessas cartas se encontra durante o maior conflito da história da humanidade. Ao escrever para um amigo de infância com quem não fala há muitos anos, decide expulsar seus demônios ao contar sobre os...