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O homem havia sido degolado na noite anterior. Abigail, criada do Seu Lúcio que vinha conosco, foi quem primeiro sentiu o baque. Desmaiou. Segurei-a nos meus braços logo que ela desabou, mole, mole. Seu Lúcio não ficou muito menos abalado, dizendo que nunca tinha visto algo do tipo acontecer nas proximidades. Joanna permaneceu quieta e pensativa por um tempo, e então disse a mim: "Coitado, ele devia de ser uma boa pessoa, não?"

Tive pra mim que não era. Tive essa conclusão não de forma aleatória pois consegui identificar quem era aquele homem. Embora ele estivesse com o seu rosto completamente manchado de sangue, consegui ver que seus traços eram os mesmos do terrível homem que me esfaqueara semanas antes. Não mencionei a Seu Lúcio que eu já havia visto aquele homem antes, e hoje penso que minha decisão foi acertada. Coisas ruins precisam permanecer no passado, apenas.

Agora veja, meu amigo: eu não poderia saber a motivação que levara a tal ato. Sei de uma coisa: sujeito bom aquele ali não era. Era daqueles tipos que de longe se vê que não presta. Bronco. O destino de gente assim nunca é muito promissor. Se ele mereceu aquilo? Só Deus sabe.

Depois que isso aconteceu, senti uma nuvem pairando sobre minha cabeça. Naquela mesma noite, após o jantar, ouvi um violento grito saído do primeiro andar da casa de Seu Lúcio - logo me arrepiei. Soube depois que Abigail tinha encontrado um rato no meio do porão, em meio a despensa.

Seria bobo da minha parte tomar essas coisas como mal agouro?

Cartas de Um MiserávelOnde histórias criam vida. Descubra agora