Shivani Paliwal
Às sete e meia da manhã de segunda-feira, estou de pé. Trampo está calmo. Dou seu remédio e sua comida. Em seguida entro no chuveiro.
Dez minutos depois, saio, me visto e ponho maquiagem. Às oito e meia, chego ao escritório. No elevador esbarro em Josh e nos damos parabéns pelo título da Eurocopa. Estamos emocionados. Falamos sobre nosso fim de semana e, como sempre, terminamos em gargalhadas. Subimos até a cafeteria e ali trocamos abraços com outros colegas pela vitória de ontem. Depois nos sentamos para tomar o café da manhã.
Dez minutos depois, o biscoitinho que eu segurava cai das minhas mãos, quando vejo Bailey entrar com minha chefe e outros dois diretores. Está incrível em seu terno escuro e sua camisa clara. Sua expressão séria indica que está falando de trabalho, mas, quando chegam ao balcão e pedem seus cafés, ele me vê. Eu continuo falando, aproveitando a companhia dos meus colegas, ainda que, olhando de canto de olho, eu consiga vêlos sentando-se numa mesa afastada da nossa.
Bailey se acomoda na cadeira que fica diante de mim. Me olha e eu o olho de volta. Nossos olhares se encontram durante uma fração de segundo e, como era de se esperar, meu corpo reage.
- Que saco! Os chefes já chegaram - diz Josh. - Aliás, me disseram que outro dia você e o novo chefão ficaram presos no elevador.
- Pois é. Nós e algumas outras pessoas - respondo sem muita vontade. Mas, interessada em saber mais sobre o chefão, pergunto: - Vem cá, você que era secretário do pai dele, ele morreu de quê?
Josh olha com curiosidade na direção da mesa do fundo. - Na verdade ele era um homem estranho e muito calado. Morreu de ataque cardíaco. - E, ao ver minha chefe rir, sussurra: - Pelo visto, nossa chefe gosta do novo chefão. É só ver como ela ri e mexe no cabelo.
Sem conseguir evitar, olho para a mesa dele e, de novo, meus olhos cruzam com o olhar gélido de Bailey.
- O senhor May tinha outros filhos?
- Sim. Mas só o Iceman está vivo.
- Iceman?!
Miguel ri e cochicha: - Bailey May é o Iceman. O homem de gelo. Não reparou na cara emburrada que ele tem? - Isso me faz rir e Josh acrescenta: - Pelo que a chefe me disse, ele é duro na queda. Pior que o pai.
Não me admira que seja assim. Dizem que a cara é o espelho da alma, e a cara de Bailey é de desespero contínuo. Mas o apelidinho me agradou. Ainda assim, quero saber: - Por que você disse que ele é o único que está vivo?
- Tinha uma irmã, mas morreu há uns dois anos.
- O que houve com ela?
- Não sei, Shivani... O senhor May nunca falava disso. Só sei que morreu porque um dia ele me disse que tinha que ir à Alemanha para o enterro da filha. Saber disso me dá pena. Duas mortes em tão curto espaço de tempo deve ser muito doloroso.
- O senhor May estava separado da mulher - continua Josh. - icema e ele não tinham uma boa relação, por isso o novo chefão nunca vinha à Espanha.
Esses novos dados me inquietam. Quero saber mais, então pergunto: - E por que não tinham boa relação?
- Não sei, lindinha - responde Josh, enquanto ajeita uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. - O senhor May era muito reservado em relação à vida particular dele. Aliás, quando você vai sair comigo?
Escutar isso me faz sorrir. Apoio os cotovelos sobre a mesa e, com minha cabeça entre as mãos, respondo, encarando-o: - Acho que nunca. Não gosto de misturar trabalho e prazer.
Minha resposta carregada de uma ironia que ele não entende me diverte. Josh chega mais perto e murmura: - Quando você fala em prazer, a que tipo se refere?
Sem me mover um milímetro sequer, respondo: - Deixa eu te explicar, seu metido. Você é o docinho que todas as garotas do escritório gostariam de comer e eu sou uma mulher muito ciumenta e não gosto de compartilhar. Então, vá procurar outra, porque comigo você não tem a menor chance.
- Hummmmm... Adoro as difíceis!
Seu comentário me faz soltar uma gargalhada, e em seguida Josh faz o mesmo.
De repente, vejo Bailey se levantar e sair da cafeteria. Enfim respiro. Não tê-lo por perto é um alívio para mim. Dez minutos depois, meu colega e eu voltamos pros nossos lugares. Quando chego à minha mesa, vejo que a porta da sala do chefão está aberta.
Droga. Não quero vê-lo. Sento e de repente o celular apita e eu leio: "Paquerando em horário de trabalho?" Isso me incomoda, mas acabo sorrindo.
No fundo, o humor de Bailey me diverte. Não pretendo responder, mas, como sempre faço quando estou nervosa, começo a coçar o pescoço. Meu celular apita novamente e eu leio: "Pare de se coçar, senão as brotoejas vão aumentar." Ele está me observando. Olho na direção da sua sala e o vejo sentado na mesa que foi do pai. Sente-se poderoso. Está me provocando, mas não vou cair no seu jogo. Aperto os olhos, irritada. Faço uma cara de poucos amigos e, surpreendentemente, ele curva os lábios enquanto segura uma risada.
De repente minha chefe aparece e diz, atrapalhando nosso campo de visão: - Shivani, se alguém me ligar, passe a ligação para a sala do senhor May.
Sem abrir a boca, concordo com a cabeça. Minha chefe, rebolando os quadris, entra na sala de Bailey e fecha a porta. Começo a trabalhar e, no meio da manhã, a porta da sala se abre. Vejo minha chefe sair com uma pasta nas mãos.
- Shivani - diz. - Vou me ausentar do escritório por uma hora. Se o senhor May precisar de qualquer coisa, resolva pra ele. - Logo se vira para Miguel e acrescenta: - Venha comigo.
Meu colega sorri e eu também. Ai, ai...! Se eles soubessem que estou sabendo de tudo... Quando somem da sala, o telefone interno toca. Me irrito ao saber que é ele. Acabo atendendo.
- Senhorita Paliwal, pode vir aqui na minha sala, por favor? Fico tentada a dizer que não. Mas isso não seria profissional e eu, antes de tudo, sou uma profissional.
- Agora mesmo, senhor May. - Levanto, entro na sala dele e pergunto: - O que deseja, senhor May?
Vejo que apoia a cabeça no encosto alto da cadeira de couro preta.
- Feche a porta, por favor - responde, olhando para mim.
Suspiro e sinto que minha pele começa a arder. Meu maldito pescoço vai me denunciar e isso me incomoda. Mas obedeço e fecho a porta.
- Parabéns. Vocês ganharam a Eurocopa!
- Obrigada, senhor.
O silêncio entre nós dois fica insuportável.
- A noite foi boa? - acrescenta. Não respondo. - Quem era o cara que você beijou e com quem passou 17 minutos dentro do banheiro masculino? - pergunta. Boquiaberta, continuo olhando para ele. - Te fiz uma pergunta - insiste. - Quem era?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Um Passo Atrás De Você
Fiksi PenggemarCom apenas 21 anos de idade Shivani tem que lida com sua mãe que descobriu que é bipolar, a morte de seu pai e um novo estágio na Cazs. Shivani em seu primeiro dia de trabalho acaba cometendo um grande erro quando confundi seu chefe com um trabalhad...