Prólogo

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Amanda

Onde eu estava com a cabeça quando eu propus aquele absurdo?

Em cima do meu pescoço que não era. Impossível.

E eu não sabia o que era pior. Ter feito o que fiz, ele ter aceitado, ou a consequência dos nossos atos.

Droga, era uma consequência e tanto. Uma baita consequência.

Mas isso era apenas uma suposição. Pelo menos até aquele momento.

— Aqui está. — O atendente da farmácia me esticou uma sacola junto com meu troco.

— Obrigada. — Abri um sorriso, tentando ser o mais verdadeira que eu conseguia. Mas eu sabia que não era muito boa em fingir.

Ele também me ofereceu um sorriso, provavelmente supondo pelo que eu estava passando, devido o conteúdo da minha compra.

Assim que coloquei meus pés para fora da farmácia, olhei para os dois lados, tentando buscar onde eu faria aquilo. Em casa seria um ótimo lugar, pois eu poderia surtar, chorar e desabar à vontade, mas eu era um pouco ansiosa, e esperar mais algumas horas iria me matar.

Bom, para vocês entenderem a história um pouco melhor, vou tentar explicar: eu fiz uma proposta... eu diria indecente, ao meu melhor amigo.

Perder a minha virgindade com ele.

Sim, eu sei, ele me disse que era difícil uma mulher de vinte e três anos ainda ser vigem... mas ainda existe.

E depois de alguns dias, com um pouco de relutância, ele aceitou e tudo rolou.

Sobre a minha primeira vez, vamos criar um pouco de intimidade para que eu possa falar sobre isso, ok?

Mas voltando ao conteúdo da sacola, que você já deve imaginar o que é, eu ainda estava à procura de um lugar para que pudesse realizar o procedimento.

Comecei a caminhar vasculhando os comércios, a procura de um estabelecimento em que pudesse entrar, e dei de cara com uma lanchonete na esquina, do outro lado em que ficava a farmácia. Atravessei a rua olhando para os dois lados, e caminhei até o balcão.

— Uma água, por favor. — Aquilo era feito com xixi, né? Eu precisava encher a minha bexiga ao mesmo tempo em que precisava consumir para pedir para usar o banheiro.

Após cinco minutos com a garrafinha na mão, escorada no balcão olhando o movimento na rua, com a maldita sacola na outra, que parecia pinicar a minha pele, perguntei sobre o banheiro, e o moço que atendia me entregou a chave, explicando onde ficava.

Meus passos não se decidiam, se iam rápido para acabar com aquela aflição, ou se iam devagar, para adiar qualquer resultado que pudesse aparecer.

Mas por fim, acabei chegando ao banheiro, e me tranquei lá dentro.

Respirando fundo, analisei tudo ao redor. Era um banheiro limpo e estava cheiroso, muito bem mantido.

Pelo menos o lugar em que eu receberia uma notícia que poderia mudar todo o trajeto da minha vida era decente.

Desabotoei o zíper do short e me sentei na privada, tirando o conteúdo da maldita sacola, joguei-a no lixo e comecei a ler a bula, para saber como dar início ao procedimento.

Bom, eu poderia coletar o xixi, ou fazer direto nele... e eu só tinha uma opção naquele momento, então retirei a tampa e posicionei.

Após os segundos necessários, que até passaram pelas minhas contas – amém, água – recoloquei a tampa, e me vesti, aguardando o resultado.

Na bula dizia que demorava em torno de três minutos para aparecer a confirmação, então coloquei o teste sobre a pia, e comecei a andar de um lado para o outro no pequeno espaço do banheiro.

E o que eu faria se desse positivo?

Como eu contaria?

Meu Deus, o que seria da minha vida?

E se ele não aceitasse?

Eu seria uma mãe solteira com apenas vinte e três anos... ok, esse não era o problema, eu não esperava que ele me assumisse, mas estar sozinha em uma situação como essa, seria o dobro mais difícil.

Como eu iria sustentar uma criança sozinha?

Minha cabeça não parava de funcionar, quando meu celular apitou.

Olhei achando que tinha dado a hora no despertador que havia colocado para o teste, mas era uma mensagem.

Felipe: Onde você esta? Não me deu mais notícias. Está tudo bem?

Não respondi. Ainda não tinha o que responder. Afinal, eu não sabia se estava tudo bem.

E mais um minuto andando em círculos, até que meu celular apitou novamente, desta vez com o despertador, e eu levantei o teste até a altura dos meus olhos.

Ok, havia uma linha horizontal... e outra logo acima dela, no meio, uma vertical.

Isso significava dois risquinhos?

Era isso que tinha que ter, não era? Era isso que eu sempre ouvia falar em novelas e livros.

Droga.

Peguei a bula novamente, analisando o que dizia.

É... aparentemente, o sinal do mais "+" que era o tracinho horizontal e o vertical passando por cima, no meio do outro, significava um positivo.

Bem óbvio, né?

Mas eu não estava mais pensando naquele momento.

Aparentemente eu não vinha pensando há alguns meses.

Merda, tinha dado positivo.

Isso poderia significar um falso positivo, não é? Claro que podia. Na embalagem dizia que a precisão era acima de noventa e nove por cento, mas aquele um por cento existia, era uma possibilidade.

Droga, eu estava grávida.

Havia outro ser crescendo dentro de mim.

Assim que levei minha mão à barriga, dando conta da grandiosidade que era aquilo – coloque o medo, susto, insegurança e desespero no mesmo nível – meu celular apitou novamente.

Felipe: ???

Amanda: Não estou muito bem... preciso falar com você, mas tem que ser pessoalmente. Encontre-me na minha casa às 18:00.

Ainda eram quatro da tarde, e eu teria algumas horas para elaborar uma conversa na minha cabeça.

Uma conversa onde eu explicaria para o meu melhor amigo que estava grávida, e que o pai era ele.

E que a sorte estivesse ao meu favor.

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