Capítulo 24

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FELIPE

Eu não conseguia ficar parado. Era incontrolável, no mesmo nível em que não conseguia parar de olhar o relógio. A cada minuto meus olhos paravam no celular, conferindo se não tinha mensagem, ou se já poderia sair de casa.

Enquanto andava, começava a me culpar por lhe dar espaço nesses últimos meses.

E se ela só queria perder a virgindade por não ter muito tempo de vida?

Minha cabeça produzia mil e uma possibilidades, e nenhuma delas eram boas.

Um trovão estrondou do lado de fora interrompendo minhas ideias e pensamentos. Caminhei até a janela e olhei para o céu, que estava cinza e apático, como minha própria mente naquele momento. E pensar no sol que estava quando acordei. Deus parecia estar corroborando com minhas emoções, mudando o tempo no momento certo.

Voltei a caminhar de um lado para o outro quando minha cabeça retornou às atividades. Eu tinha a impressão de que se parasse, entraria em colapso.

Quando finalmente o meu relógio bateu cinco e meia, saí de casa em direção a de Amanda. Ela não poderia se importar se eu chegasse algum minuto adiantado.

Naquele momento, o céu já despencava em uma chuva torrencial, mas não me importei, dirigi até a entrada de sua casa, e saí na chuva, assim que estacionei.

Não queria esperar muito tempo.

Bati à sua porta e esperei que me atendesse, enquanto ia ficando cada vez mais encharcado.

Mas rapidamente o portão foi aberto e entrei no seu quintal.

Amanda já me esperava na porta, e pela pequena distância que nos separava, juntando com a água que escorria por meu rosto, vi seus olhos.

Poderia jurar pela aparência que andara chorando. Mas não poderia confiar nos meus julgamentos naquele momento.

Apressei mais ainda os passos até ela, que me deu passagem assim que lhe alcancei.

— Você deveria ter esperado a chuva passar. Ou me ligado, eu ia te buscar com um guarda chuva — ela falava enquanto passava as mãos pelos cabelos, levando-os para trás.

— Eu não estava aguentando esperar. Não conseguiria mais nem um minuto fora daqui.

Ela ficou calada por alguns instantes, mas seus olhos não estavam em mim, ela fitava qualquer coisa ao seu redor, menos a mim.

— Amanda — segurei seus braços, em uma demonstração de conforto, ou preocupação no meu caso — o que está acontecendo? Passei a tarde toda preocupado com você.

— Você precisa se secar primeiro. Não podemos conversar assim.

Concordei com a cabeça, mesmo não querendo.

Por mim ela me contaria tudo ali naquele momento. Mas eu estava todo molhado, não poderia nem confortar minha amiga, dar-lhe um abraço ou qualquer coisa do tipo.

Ela me entregou uma toalha e fui para o banheiro, tirei as roupas molhadas e Amanda me entregou uma calça.

Olhei para ela tentando entender o porquê que ela tinha uma calça masculina em sua casa.

Não que fosse do meu interesse, mas aquilo me deixou curioso.

Ela disse que era minha mesma, que estava em sua mala quando saímos da casa de campo, e ela não tinha tido a oportunidade de me entregar.

Vesti a calça e fiquei sem blusa, e colocamos minhas peças para secar.

Assim que estava seco, fomos para a sala, sentamo-nos um do lado do outro no sofá e ficamos calados por um tempo.

— Você está bem? O que aconteceu? — perguntei, mas Amanda ainda não dizia nada, e nem me olhava.

Mas do nada, seus ombros começaram a tremer, denunciando que estava chorando.

Aquilo estava me matando, eu não sabia o que fazer.

Na verdade, eu sabia, e foi o que eu fiz.

Puxei Amanda para mim, encostando sua cabeça em meu peito enquanto ela chorava.

— Vai ficar tudo bem, eu estou aqui. Não vou sair do seu lado.

Dizer isso parecia que tinha acarretado mais uma onda de choro. Amanda convulsionava em meu colo, enquanto fazia carinho em seus cabelos.

Deixei que ela se acalmasse mais para levantá-la e fazer com que me olhasse nos olhos.

— Por favor, fala comigo, o que você tem?

— Eu...

Antes que completasse a frase, ela voltou a chorar, e também a me abraçar, apertando com força os braços ao redor do meu pescoço.

Aquilo só estava contribuindo ainda mais para minhas paranoias.

Mas ainda assim deixei que tomasse um pouco mais de tempo, e fiquei afagando suas costas em um movimento subindo e descendo.

Quando vi que ela não se acalmava, levantei-me para pegar um copo de água para ela, aproveitando para tomar um também.

— Você tem que respirar e tentar me contar o que está acontecendo, tudo bem?

Parecia que eu estava falando com uma criança, pedindo para que me contasse o que havia feito de errado.

Ela puxou o ar fundo, enchendo os pulmões e eu imitei seu gesto, também respirando fundo, e soltamos lentamente.

— Eu estou grávida — ela falou junto com a respiração, enquanto eu parava a minha pela metade.

Grávida?

O que... como assim?

Grávida tipo... grávida? Qual a possibilidade disso?

Meu Deus, ela estava grávida de um filho meu.

Mas havíamos usado camisinha, não?

Sim, claro, nas primeiras vezes, mas aconteceu mais de uma.

Meu Deus, um filho.

O que eu tinha que fazer agora?

Tipo... um filho. Meu e de Amanda.

Olhei para ela e estava sendo encarado por olhos vermelhos e inchados de tanto chorar.

Um filho nosso... meu Deus!

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