Capítulo 21

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FELIPE

Eu estava sonhando.

De verdade mesmo, era um campo todo florido, Amanda estava lá, tomando sol, sentada e apoiada com as mãos no chão, o rosto para o alto de olhos fechados.

Era uma bela visão. Ela estava relaxada, absorvendo a vitamina do sol. Na verdade, para os meus olhos, ela brilhava mais que o próprio sol.

Um sorriso involuntário escapou dos meus lábios e eu me preparei para caminhar até ela.

Estava com uma enorme vontade de chegar perto, encostar nela, poder beijá-la.

Assim que dei o primeiro passo, percebi que meus pés estavam amarrados por algum tipo de mato. Quanto mais eu tentava me soltar, puxando-os, mais apertado o nó ficava.

Queria gritar, chamar Amanda, avisar que eu estava ali, para que ela fosse me ajudar. Mas minha voz não saía. Era como se estivéssemos em mundos opostos, ou que houvesse uma parede entre nós dois.

Como se não pudesse piorar, quando voltei meus olhos para ela, vi que alguém já havia chegado, sentando-se ao seu lado. Era um homem, mas não tinha fisionomia, aparecia apenas de costas no meu sonho, mas a sensação de impotência que eu nunca havia sentido antes, tomou conta do meu ser. Era como se tudo aquilo fosse real, e eu estivesse sentindo na pele o que realmente acabaria acontecendo.

Uma dor ainda mais profunda tomou posse do meu coração quando ela se virou para ele, com um sorriso enorme no rosto e se inclinou para beijá-lo.

Era como se cem elefantes pisassem no meu coração ao mesmo tempo, e eu estivesse vendo tudo de camarote, sem fazer nada para impedir.

O ciúme tomou conta de todo o meu corpo, fazendo com que eu me debatesse cada vez mais e mais, mas isso causava um efeito reverso, e eu comecei a ser puxado para dentro da terra, sendo sugado por ela.

Acordei assustado, remexendo-me sobre a cama e passando as mãos por toda extensão do colchão, procurando por Amanda, já que havíamos pegado no sono juntos.

Mas o lugar ao meu lado estava vazio e gelado.

Chamei por seu nome, e minha voz saiu quase com desespero, medo.

Para meu alivio, ela entrou no quarto às pressas, enrolada em uma toalha, ainda molhada dando a entender que tinha acabado de sair do banho.

— O que aconteceu, está tudo bem? — ela se preocupou.

— Eu... — Como explicar que eu havia tido um pesadelo e acordei com medo?

Medo de perdê-la, de que tudo o que havíamos feito não fosse real, medo de acabar com nossa amizade.

E se isso acontecesse?

Por algo que nós dois fizemos, e mais de uma vez naquela manhã. Amanda me pedira apenas uma coisa, e nada além disso, e se ela se sentisse sufocada? Ou se acabasse achando um clima estranho entre nós e se afastasse de mim?

Será que seria fácil superar minha melhor amiga?

E será que ela era apenas minha melhor amiga?

Mas que merda de pensamento, Felipe. Amanda era apenas minha melhor amiga, não era um sexo que me faria mudar de ideia assim.

O problema seria se esse sentimento já existisse dentro do meu peito.

Mas eu o deixaria retido, no fundo, se não era aquilo que Amanda queria, então eu aceitaria isso, queria tê-la na minha vida, e isso já seria o suficiente para mim.

Viver esses dias com ela tinha sido um presente, um vislumbre do que era ter com ela uma relação amorosa. E agora era hora de aquietar o coração pulsando alto dentro do meu peito.

— Nada, desculpa, só tive um pesadelo e fiquei preocupado.

— Ah sim, mas está tudo bem?

— Sim, desculpa te preocupar.

— Sem problemas. — Ela se virou para sair do quarto, mas voltou ao se lembrar de algo. — Vamos embora logo? Preciso arrumar minhas coisas.

Embora... era segunda a tarde já, e o combinado era apenas um final de semana.

Havia cumprido minha parte da nossa proposta, então era hora de voltar ao normal. E aparentemente Amanda estava ansiosa por isso.

— Claro, só vou tomar um banho e podemos ir.

Ela apenas confirmou com a cabeça e saiu do quarto sem dizer mais nada.

E o resto da tarde seguiu neste mesmo ritmo, ela arrumando as coisas em seu quarto, eu no meu, quase não nos vimos, a não ser pela vez que descemos para comer alguma coisa pronta, mas ainda ficamos com um clima meio calado entre nós.

No carro, quando já estávamos na estrada, não foi dito nada em relação ao que havíamos feito, não houve comentário, nem uma palavra sobre como ficaríamos.

Ok, não havia o "como ficaríamos" se não tinha nada para mudar. E a reação de Amanda deixava isso muito claro para mim.

Eu fui um meio para um fim. E era isso. Seriamos apenas Amanda e Felipe, os melhores amigos.

Se era assim, então faríamos do jeito que ela queria, não poderia me dar ao luxo de ficar chateado ou decepcionado com alguma coisa, já que sabia desde o momento em que aceitei a proposta que seria daquele jeito.

Seguimos o caminho com o som baixo no carro, curtindo uma música, sem falar muitas coisas, mas a felicidade e expectativa de como éramos, estava mudada, não era mais o mesmo clima.

Quando chegamos em frente à casa de Amanda, desliguei o motor do carro e saltei, na esperança de trocarmos mais algumas palavras.

Saí do banco do motorista e cruzei para o outro lado, encontrando-a já fora do carro.

— Bom, então é isso. Foi um bom final de semana — falei sem tentar esboçar muita pretensão.

— Foi sim, sem dúvidas.

Infelizmente, ela também usou da mesma tática que eu.

Mais uma vez o silêncio. Isso dificilmente aconteceria com a gente, mas estávamos extrapolando neste quesito só nas últimas horas.

— Bom, a gente se vê por ai. Qualquer coisa, me liga.

Qualquer coisa, me liga?

Era como se ela precisasse de uma transa e discasse para o sex boy? Esperava sinceramente que ela não interpretasse dessa maneira.

Depois da gafe, despedi-me dela, sem abraços, beijos ou sequer um aperto de mão, foi uma coisa muito seca mesmo, o que mostrava realmente que não era apenas eu que estava desconfortável com toda aquela situação.

No caminho para minha própria casa, fui pensando na burrada que tinha feito.

Fui o caminho todo torcendo para que voltássemos ao normal o quanto antes, era o mínimo que eu poderia ter e querer.

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