Capítulo 2

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" Um restaurante pequeno e acolhedor aparece depois de andarmos algumas quadras. O cheiro gostoso da comida invade minhas narinas e o meu estômago reclama ainda mais. A fachada alegre e convidativa se destacava em uma rua pacífica.

—O soba deles é muito bom. -Aizawa diz com o rosto impassível. Sem convite o moreno entra e eu fico estática na calçada. Ele percebeu que estou paralisada com a sua atitude. Não entendo. Ele vai jantar comigo? Meu corpo arrepia com a possibilidade.

—Qual o problema?

—Vai jantar comigo? Meu rosto cora nesse momento.

—É quase um crime não comer aqui. —Vem. -Ele acena com a cabeça e um sorriso quase imperceptível aparece em seus lábios. Respiro fundo, tentando não ser uma adolescente emocionada com o primeiro crush.
O moreno se senta na mesa distante ao lado da janela. Aizawa tira um maço de cigarros e um isqueiro do bolso.

— Se importa?

—Não, tudo bem.

O clima receptivo do restaurante parecia deixar o momento mais especial. Achei que Aizawa não conseguiria ficar mais lindo, e ele me parece mais sexy fumando seu cigarro.
Pelo jeito ele não parecia aberta a conversas animadas ou qualquer troca de palavras. E o tempo passou, as conversas alegres das pessoas em volta e o cheiro bom de comida caseira fazia o tempo parar.
Nossos pratos finalmente chegaram e eu devorei com gosto.

—Isso tudo é fome? O moreno diz apreciando seu soba.

—Sim, considerando que eu não comi bem o dia todo.

—O prato não vai sair do lugar.

—Desculpe se pareci grosseria. Estou com fome.

E tudo que eu ouvi foi um sonoro "tsc" vindo do moreno. Eu o encarei, imaginando como seria ter intimidade com ele. Pela primeira vez em muito tempo eu quis me aproximar de alguém. Ele tem uma aura introvertida e misteriosa que me atrai.
Aizawa percebe que eu estou olhando. E com um sorriso um tanto cínico, ele diz:

—Perdeu alguma coisa no meu rosto?

—Huh, você é engraçado agora, fazendo piadas?

—Não, mas a sua cara de psicopata me encarando é estranho.

—Não fiz nada além de olhar a pessoa que está me acompanhando.

—Isso não é um encontro. -Seu rosto muda, parecendo irritado.

—Eu não falei que era. Parece um encontro pra você? Meu coração dispara ansiando pela resposta.

—Não, até por que eu não saio com colegas de trabalho.

—Certo.. -Fico um pouco triste pela resposta, mas ele não está errado. É minha culpa permitir desejos tão adolescentes... —A quanto tempo está na UA?

—Poucos anos.

—Gosta mais de dar aula ou de trabalhar como herói?

—Os dois, eu acho.
É difícil manter uma conversa com o Aizawa. Não consigo puxar assunto e ele está pouco interessado em se aproximar mais. Sei que ele pode ser introvertido, mas gostaria que a convivência não fosse tão estranha dessa maneira. Parece que só fala e responde por educação.
Terminamos de comer. Sem mais palavras Aizawa paga a comida dele e eu a minha. Prosseguimos em silêncio até a fachada do restaurante.

—Obrigada por me apresentar esse lugar. Até amanhã. -Digo um pouco frustada. Achei que essa noite poderíamos pelo menos nos conhecer melhor, mas ele continua impenetrável.

—Até amanhã.
Aceno para o táxi na rua que imediatamente para. Aizawa segue seu caminho, com os óculos amarelo no rosto, pronto para mais uma noite de vigília.
...
Um bom banho, é isso que eu mereço. Logo no primeiro dia já fico interessada na pessoa mais reclusa que existe naquela escola.
Imersa na água quente, pensando no dia de hoje, penso nos breves momentos em que Aizawa parecia menos distante... Quando ele tentou uma piada e o momento que eu juro ter visto um sorriso.
Suspiro irritada. Na faculdade, aprendi que as paixões eram reações bioquímicas fortes, onde nosso coração batia mais rápido e a pressão arterial aumenta, o rosto corava, as pupilas dilatam, e um sentimento enorme de felicidade é desencadeado por dopamina. E eu manifestei a maioria dessas coisas... Mas Aizawa não. O coração dele sequer mudou de ritmo.
Saio da água agora morna e espumada em direção a minha cama.
Dormir... O único refúgio que eu tenho agora pra tirar o moreno dos meus pensamentos.

(Outro canto da cidade)
Numa grande avenida, Aizawa prendia um ladrão que tentou roubar a mochila de um universitário e esperava polícia. As pessoas curiosas formavam uma aglomeração de celulares filmando, e fuxicos cercava Herói e bandido. Todos queriam ver quem era o herói que tirou um criminoso das ruas.
Irritante. Era isso o que Aizawa pensava daquela situação. Não gostava de ser o foco das atenções, só queria fazer seu trabalho. Ele só esperava que a polícia chegasse logo para ele ir pro seu apartamento e se jogar na cama. Com um suspiro impaciente, olhou pra cima, desejando que aquela agitação acabasse logo. Não pode controlar seu pensamento agora.
"Quando eu vi os olhos azuis dela pela primeira vez achei que estava vendo o céu estrelado".
Ops.
O que foi isso? Sentiu seu coração quente por um momento. Ele gritava dentro de si. Nos seus pensamentos, agora ela reluzia. O moreno nunca viu outra mulher com uma beleza tão diferente e única.
Quando a branca surgiu na sala de reuniões, de cara a achou graciosa. Via que a maneira dela de andar esbanjava sofisticação. Mic disse que a novata era bonita, mas Aizawa não achou que era tanto.
Ele quase riu quando a viu paralisada na frente do restaurante. As bochechas vermelhas de vergonha e o olhar surpreso dela desmancharam uma camada dura da distância que Aizawa fazia questão de manter das pessoas.
E o moreno se amaldiçoava por isso. Os profundos olhos azuis despertaram nele sentimentos que ele fazia questão de não sentir. E nem foi necessário muito esforço.
Suspirou. Estava numa encruzilhada com seus próprios sentimentos.
Percebe a besteira que fez. Foi rude com ela nessa noite. A branca não queria mais do que um pouco de socialização pra quebrar o silêncio.
Aizawa não fez questão de ser rude. Era só o jeito dele. Não fazia questão de falar com as pessoas, suas poucas amizades eram um tanto forçadas,
Yamada e Nemuri eram invasivos com ele, e isso o irritava, mas achava que eram bons amigos de qualquer maneira.
Sorriu lembrando que ela parecia ter tanta expectativa quando perguntou se aquele estranho jantar era um encontro. Mas quando lembrou que disse que não namorava colegas de trabalho, um sentimento misto se apossou dele. Um era a razão. Outro era arrependimento.
E era na razão que ele se guiava. Mas seu coração se rebelou.

Love Soul - Aizawa ShoutaOnde histórias criam vida. Descubra agora