E lá estava ele. Parecia mais cansado que o habitual, como se fosse possível. Abri a porta e o vi segurando o braço, mas soltou rapidamente ao me ver, como se seu reflexo estivesse mais fraco. Sua camisa estava manchada de algo que eu não conseguia distinguir o que era.
— Aizawa, você está bem?
— Estou.
Deixei que ele entrasse, e ele cambaleou em direção ao sofá, e se jogou lá.
— Você já jantou?
Ele balança a cabeça, suspirando cansado, e eu sinalizo que a janta está no fogão.
— Você precisa comer. Heróis não duram em pé sem nada na barriga.
Preguiçosamente ele levanta do sofá em direção à comida. Observo que seu semblante parece mais cansado, mais preocupado. Ele se serve e se senta na mesa, sem dizer nada, sem levantar o rosto.
— Você tem certeza que está bem?
— Sim, tudo bem.
Me sento na mesa e uso minha quirk sem ele perceber. E logo vejo os sinais de uma mentira.
— Não deveria mentir pra mim.
Ele levanta os olhos surpreso. Sem me olhar nos olhos, ele se entrega.
— Estou. Desculpe.
— Então seja sincero.
Ouço ele suspirar, coçando os olhos cansados.
— Você acha que isso vai dar certo?
— O que? - Digo surpresa.
— Isso. Nós. Você tem certeza que vai funcionar?
Ele me encara. Sinto meu coração pesar, fui pega de supetão, esperava muita coisa, menos isso.
— Por quê está dizendo isso?
— Essa é a vida que você vai levar comigo. Noites acordadas, sem saber a hora que eu volto, sem saber se eu voltar bem.
— Não entendo o que quer dizer com isso. Você acha um problema? Eu nunca me incomodei.
— Mais vai, um dia. Sou um herói, June. Não posso garantir que vamos envelhecer juntos. Não posso te dar garantia de nada.
— Eu não me importo.
— Mais eu sim. Não sou capaz de ser a pessoa que você precisa. Não agora, não sei quando.
— Você está mais preocupado com isso do que eu. - Digo me levantando. — Se veio aqui só para terminar comigo, então seja breve.
— Eu não disse isso.
— Mais quis!
Sinto meus olhos marejarem. Prendo a respiração tentando não pensar nessas palavras, no que sublimemente ele disse.
— Eu sinto muito. - Ele diz se levantando. — Eu não vim aqui para terminar, June.
— Então diga de uma vez o que quer dizer!
— Que eu não vou estar aqui pra sempre!
— E desde quando isso é um problema? - Digo me afastando. — Eu nunca me importei de você ser um herói, eu sempre me orgulhei de você, Shouta!
— Eu sei disso. - Ele diz, cansado, se aproximando. — Mais eu sou um herói, eu corro riscos todos os dias. Eu posso morrer June.
— E você acha que eu não sei disso?
Aizawa se aproxima de mim, me tomando nos braços.
— É claro que sabe. - Ele deposita um beijo casto nos meus lábios. — Sei que sabe.
— E qual é o objetivo dessa conversa então? - Eu me afasto dele.
— Eu não sou capaz.
Pisco meus olhos, sem entender. Ele faz uma pausa longa, me olhando, procurando palavras.
— Não consigo conceber a ideia de que eu posso morrer algum dia desses, e te deixar sozinha. Você merece mais que isso. Uma pessoa com quem pode contar sempre.
— Você tem medo, então? De mim? De nós?
— É claro que eu tenho! June, não é possível que voce nunca tenha pensado nisso!
— Obvio que já pensei!
Silencio. Ele me olha de uma forma torturosa. Não passa arrependimento ali. Nada. Não consigo entender o que está acontecendo. Eu engulo o choro.
— Aizawa, eu penso nisso todos os dias! Mas sempre que eu vejo você, eu... eu esqueço de toda essa merda.
Ele me olha, parado, sem se mover, nem piscar. Me enfureço. Meu coração dói, e ele não diz nada.
— Diz alguma coisa! Porra, fala comigo!
Mudo de novo. Respiro fundo, tentando conter as lágrimas.
— Se você não tem certeza, então por quê está aqui? Por que não diz nada?
— Não consigo.
— Então é melhor pensar nisso.
As palavras saem da minha boca como laminas cortantes.
E sem dizer mais nada, Aizawa sai pela minha porta noite a fora.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Love Soul - Aizawa Shouta
RomanceO diretor Nezu, preocupado com a saúde mental de seus alunos após o estressante ataque de vilões a UA, decide pedir reforço. June Masami, uma brilhante psicóloga com histórico impecável é contratada para ajudar. Inteligente e introvertida, ela logo...