CAPÍTULO 11
TUDO AQUILO QUE NÃO DIZEMOS EM VOZ ALTA, NA VERDADE, ESTÁ GRITANDO DENTRO DE NÓS.
MABEL:
Preto. A cor favorita de muitos, a cor universal, que combina com tudo, exceto com o luto, porque não gostamos do que simboliza, nem do que traz consigo. É como se você amasse um vestido preto e de repente, você se ver em frente ao espelho com ele, só que sem o mesmo brilho, a mesma vontade, ou qualquer indício de felicidade. O luto transforma tudo em preto, para onde quer que você olhe, lá está o preto, simbolizando que alguém partiu, deixando um enorme vazio, uma ferida aberta, um borrão preto na nossa memória e um escuro no nosso coração.
Estou na cozinha em silêncio, tomando uma xícara de café com a minha mãe, é o máximo que consigo engolir, estou tão triste, não consigo acreditar, e ao mesmo tempo, me preocupo com Hugo, que desde então parece um robô.— Mãe, por que alguém faz isso?
— Dor, muita dor, filha.
— E por que ele não disse nada?
— Pelo menos motivo, dor.
Me debruço sobre a mesa, sinto meu corpo se transformando em líquido, é uma sensação estranha, ele não morreu, ele tirou a própria a vida, e isso torna tudo mais difícil.
— Eu não sei o que fazer, mãe, Hugo está arrasado.
— Tudo que você tem que fazer é ficar ao lado dele, ele vai precisar de você.
Limpo as lágrimas e me preparo, não sei como agir perto do Hugo nessa situação, não consigo encarar seus olhos, eles foram inundados de tristeza, eu nunca o vi assim e nem queria.
Minha mãe me deixou na casa dele, e eu caminhei até a porta sentindo meu estômago embrulhar, não paro de pensar no que ele me disse, que tinha medo de que as coisas mudassem de repente, e mudou, só que ainda não fazemos ideia das proporções dessa mudança. Henrique abriu a porta e vejo que seus olhos também são muito tristes. Claro que seria, e a minha única reação é abraçá-lo.
— Oi querida — ele diz.
Eu entro, não consigo esboçar muitas reações, e tenho medo de parecer uma idiota.HUGO:
Encaro o espelho usando um terno preto ridículo, para um momento ridículo. Eu não consigo decidir o que sinto mais, se é raiva ou tristeza. Engulo cada lágrima que ouse sair, uma a uma, formando um enorme nó na minha garganta. É engraçado o tamanho da profundidade humana, engraçado porque são em momentos como esse que a gente percebe a nossa tamanha força para acumular nossas lágrimas, ou acumular as coisas que não dizemos. Ter tanto a dizer e não poder dizer, é cruel.
Vejo meu pai me observando na porta entre aberta, com a certeza de que eu não sou mais uma criança, e que dessa vez, a dor é sentida, penetra na minha pele e machuca minha alma, é real, talvez nem ele consiga encarar a tamanha tristeza que se instalou no meu peito, eu não consigo, o motivo acaba comigo. Eu tento não pensar nisso, mas o vazio no meu coração é grande demais, a dor é insuportável.
Ele não diz nada, almas também não me encara por muito tempo.Abro a porta e não o vejo mais, eu desço a escada ouvindo o silêncio que tanto odeio, o silêncio que vem de dentro para fora, e que acaba de assolar mais uma vez a minha vida. Vejo que Mabel me espera no fim da escada, usando um vestido longo e preto, cabelo solto, sapato preto e uma maquiagem bem leve. Seus olhos são tristes e desconcertantes, embora tente disfarçar. Ela me abraça, eu correspondo, seguro seu corpo com força, com todas as lágrimas presas dentro do nó na minha garganta. Eu fecho os olhos e exalo seu cheiro, depois suspiro bem forte, pois não consigo falar, e é bom ver que ela entende isso.
Ela segura minha mão e me leva até o carro, sinto meu corpo em câmera lenta, enquanto olho para a varanda da casa do Felipe atrás de mim. Não parece real, o mundo agora parece borrado, silencioso, e sem sentido. Desvio o olhar e entro no carro, mas vou todo o caminho em silêncio, segurando a mão de Mabel e as minhas lágrimas que estão insistindo muito em cair.
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A DROGA DO AMOR. ❤
RomanceO amor é uma DROGA, foi isso que Mabel e Hugo descobriram depois de se apaixonarem perdidamente um pelo outro, e viverem juntos momentos de amor emocionantes. Os dois carregam dores do passado. Ela, um relacionamento abusivo, ele, uma grande perda n...