Capítulo 12

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CAPÍTULO 12

QUANDO ESTAMOS FERIDOS, FERIMOS AS PESSOAS E INEVITAVELMENTE, ISSO INCLUI AS PESSOAS QUE AMAMOS.

HUGO:

Dias se passaram. Dias que eu não contei, e que nem mesmo vivi. Dias que tudo que fiz foi contemplar a minha existência, que agora parece inútil. Eu continuo afastando as pessoas de mim... meus pais, o Pedro, e a até mesmo a Mabel, e por mais que me doa, preciso mesmo ficar um tempo sozinho, porque eu não sei lidar com o sofrimento, e não tenho mais paciência de falar sobre como eu me sinto, é óbvio que não estou bem, porra, é só olhar para mim. É como se eu fosse tomado pela raiva, e tudo que vem depois disso é um vazio, angústia, medo, solidão e uma tristeza que eu sei que vai demorar para cicatrizar dessa vez, muito mais que antes. Quando eu era criança, a dor que eu senti, se dissipou aos poucos, mas ela cresceu comigo. A dor que eu sinto agora, pesa uma tonelada no meu peito, e é como se eu a entendesse só agora, de uma maneira cruel é piorada.

Estou sentado na poltrona do meu quarto em um completo silêncio olhando pela janela, a tv está ligada, mas não olho para ela, tampouco a ouço, só consigo pensar que minha vida é uma droga sem sentido, onde as pessoas podem ir embora há qualquer momento, das piores maneiras possíveis. Em alguns momentos, até passou pela minha cabeça que Mabel será a próxima, e é assustador imaginar ela partindo, por mais que seja eu a fazer isso agora, me mantendo longe.

Alguns dias atrás, estávamos no meu quarto em silêncio, eu não conseguia dizer nada, mas a vi tão paciente, que me culpava. Eu olhava para ela tentando fazer companhia a uma pessoa que não é uma boa companhia nem para si mesmo no momento, e só conseguia amá-la cada vez mais. Ela estava lendo um livro de capa azul que eu não conseguia enxergar o nome. Estava tão linda, com um coque no cabelo, e eu me sentia um idiota, porque não sabia o que dizer ou o que fazer. Eu pensei em iniciar qualquer tipo de conversa, mas o que eu diria? Eu a amo tanto, mas não estou pronto para encarar a realidade, e isso é uma merda.
Às vezes, eu acho que ela tem mais paciência do que eu teria, ela me olhava de um jeito carinhoso e não piedoso, e eu até torcia para que dissesse alguma coisa e iniciasse uma conversa, mas ela não dizia nada, porque eu aparentava não querer que ela dissesse algo. Ela me trazia comida, arrumava o meu quarto, organizava as minhas roupas, mas não ficava muito tempo comigo, porque meu silêncio é uma tortura até para mim.

Estou com tanta raiva que prefiro me afastar e ficar em silêncio, do que dizer alguma merda para as pessoas que não merecem, e deixar tudo pior. Já faz alguns dias que não a vejo, sinto falta dela, mas nesse momento, sei que é melhor assim.

Não sei ao certo que dia é hoje, estou tentando fugir da realidade lá fora. O dia amanheceu e a noite chegou depressa, e agora me sinto entediado, deitado na cama, cansado de olhar para a porra do teto, cansado dos meus pais me tratarem como se eu fosse cortar os pulsos a qualquer momento, cansado de pensar no porquê ele fez o que fez, cansado de me sentir assim. Então me levanto, quero parar de sentir pena de mim mesmo, tomo um banho, coloco um moletom, e decido ir até à praia, espero me deitar no chão de areia, colocar uma música, olhar para as estrelas e pensar, ou sei lá, só olhar as estrelas.

Logo no estacionamento, vejo que é dia de festa, um luau, voz e violão, com muitas pessoas andando de um lado para o outro, segurando copos vermelhos de bebidas e fazendo brincadeiras com bebidas. Penso em voltar para casa, mas quer saber? Preciso ocupar a minha cabeça com outra coisa que não seja a tonelada de sofrimento me sufocando. Que se foda, eu vou ficar. Deixo o celular no carro, porque quero realmente ficar sozinho, e me sinto mal por isso, mas é o que preciso.
Basta alguns passos para eu começar a ver rostos conhecidos, a galera da faculdade em peso, tem gente aqui, que eu nem sabia que bebia.

A DROGA DO AMOR. ❤Onde histórias criam vida. Descubra agora