Capítulo 13

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CAPÍTULO 13

ALGUMAS FERIDAS SÃO COMO FANTASMAS, VEZ OU OUTRA VOLTAM A NOS ASSOMBRAR.

HUGO:

Dias se passaram e eu tenho a impressão que não mudei muito em relação ao que sinto, ainda não me acostumei com a falta dele, tampouco superei o fato de não ter uma resposta. Às vezes, me pego olhando para a gaveta onde guardei a carta que ele deixou, como se lá existisse respostas que eu nem sei se quero. Ora acho que sim, ora tenho certeza que não. Eu não sei. Tenho medo de saber, e no momento, é tudo que sei.

Estou me preparando para voltar à faculdade porque preciso voltar, mas ainda não sei como vou fazer isso. Eu entendo que preciso seguir com a minha vida, mas eu odeio quando me dizem isso, é como se eu estivesse aceitando viver em um mundo onde ele não existe, e eu não aceitei, eu se quer fui questionado sobre isso, a vida só agiu, e passou por cima de mim. Eu sei que ninguém se cura cutucando as feridas, inicialmente nos acostumamos com elas, depois de um tempo, fingimos que elas não nos machucam mais, e depois até podemos esquecê-las, mas elas sempre estarão presentes em nós.

Olho para o relógio ao lado da minha cama e percebo que ainda tenho tempo, então decido ir para a faculdade. Tomo banho, me visto, pego minha mochila e desço as escadas lentamente, um passo de cada vez, bem parecido com o que eu quero fazer de agora em diante.
Meus pais se surpreendem ao meu ver, eles não dizem nada, mas seus rostos dizem tudo. Consigo sentir o profundo alívio da minha mãe ao meu ver com uma aparência limpa, e isso é bom.
— Bom dia — murmuro.
— Bom dia — os dois dizem juntos, de uma maneira desconfiada.
Minha mãe sorri, e meu pai beberica seu café calmamente enquanto ler o jornal
Eu fico parado na frente deles por alguns minutos, sem saber o que fazer com o silêncio, eu sei que eles tem muito a dizer, mas não dizem, porque sabem que eu não quero que digam.
— Bom, eu vou indo.
Eles acenam e eu faço um maneio de cabeça.

Paro o carro no lugar de sempre e tudo parece igual, e é engraçado como eu achei que não estaria, mas também sei que no fundo não está, para mim não está. Olho para a escada vazia onde tive as melhores conversas e as melhores risadas com meu melhor amigo, e suspiro engolindo o choro, então decido ir direto para a minha sala. É estranho estar vivendo o meu novo normal, uma parte da minha vida que precisa adaptar-se a um novo que eu se quer queria, mas que agora tenho. Andando pelos corredores vejo algumas mensagens de luto espalhados pelos armários. Fotos e cartazes que anunciam uma falsa preocupação de que mais alguém faço o mesmo.

" Procure ajuda"
Como se as pessoas ajudassem.
" Estamos aqui por você"
Nos primeiros cinco minutos.
" Você é amado"
Depois de morto.

Ler esse tipo de coisa, só faz eu me sentir ainda mais culpado, porque parece que faço parte de uma hipocrisia barata, onde as pessoas fingem se preocupar, mas não passa de curiosidade. Olho por alguns segundos todos os cartazes escritos por pessoas que nem o conheciam direito, reviro os olhos e continuo andando, definitivamente, eu odeio tudo isso.
Agora todo mundo está aqui para ouvir, para apoiar, para ajudar, para perguntar se o outro está bem e confortar, que conveniente!

Eu odeio o fato do Felipe ter morrido para tudo isso começar, para as pessoas fingirem que se importam por um tempo, até começarem a tratar uns aos outros como lixo novamente. Eu odeio que seja ele o motivo de tudo isso. Odeio que essas mensagens sejam direcionadas a ele.

Assisto as aulas sem dizer uma palavra, quero evitar das pessoas falarem sobre o Felipe e funcionou. No intervalo, me sentei perto de uma árvore, um pouco distante de tudo, queria tentar um novo lugar, mas percebi que já fiz isso antes quando o Julian morreu e que talvez, isso seja covarde demais, então faço o trajeto de volta até a escada e vejo a Mabel andando em minha direção, com algumas pessoas de sua turma, porra, que saudade. Ela está linda como sempre, usa uma calça jeans, uma camiseta preta, uma jaqueta jeans mais clara que a calça e tênis, ela sorri, sem saber se pode sorrir e se aproxima, meu Deus, como é bom sentir o cheiro dela.

A DROGA DO AMOR. ❤Onde histórias criam vida. Descubra agora