Capítulo 3

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Eu ainda permaneci jogado no chão por longos minutos antes de me sentir preparado para encarar o mundo outra vez.

Podia sentir os olhos de Ron e Mione queimando minha pele em milhares de perguntas mudas e curiosidade ardente, mas tudo o que eles fizeram foi tornar a fechar a porta do apartamento e se sentarem no sofá afastado em um silêncio carregado de reticências. Draco ainda estava enfiado no banheiro, e eu queria cavar um buraco no chão da sala para poder desaparecer também.

Os últimos resquícios de embriaguez haviam deixado meu corpo e naquele momento eu estava com o rosto enfiado no tapete, tentando respirar com calma, lembrando dos últimos minutos que antecederam a chegada de meus amigos. E eu simplesmente não podia acreditar no que havia acontecido, até onde minha mente havia me levado.

Pelos céus, eu havia mesmo pensado e sentido aquelas coisas por Draco? Por Draco? E, pior de tudo, eu estava mesmo prestes a beijá-lo?

O que deu em mim para me deixar levar por aqueles pensamentos... Absurdos? Tanto álcool havia me feito perder completamente o juízo? Eu sentia uma parte de mim lutando desesperadamente para se manter sã enquanto a outra se entregava a um profundo desespero, o que apenas se agravou ao me lembrar da sensação quente de seu corpo contra o meu e da minha ânsia incontrolável de beijá-lo...

O que teria acontecido se meus amigos não tivessem chegado bem na hora? Eu teria beijado Draco? Estremeci, imaginando como deveria ser a textura daqueles lábios, que gosto teriam, que... Então arregalei os olhos novamente, percebendo para onde meus pensamentos estavam indo outra vez. Eu não podia pensar essas coisas, por Deus! Era tão, tão errado! Era Draco, Draco Malfoy, meu melhor amigo, mas que merda! O que estava acontecendo comigo?!

Gemi baixinho em confusão e vergonha, não sentindo vontade de fazer coisa alguma além de pedir, em uma prece silenciosa para qualquer divindade que estivesse me escutando, que me levasse de uma vez e acabasse com o redemoinho de sentimentos desconexos e tão novos que estava ameaçando me tragar completamente. Pude ouvir Ron e Mione discutindo aos sussurros e sabia que falavam sobre mim, mas tinha certeza que Mione estava impedindo Ron de fazer alguma pergunta ou falar qualquer coisa que fosse.

Então eu a ouvi se levantar, reconhecendo os passos suaves que se aproximaram de mim. Senti o corpo dela se aconchegando no chão ao meu lado e a mão carinhosa começando a fazer carinho nos meus cabelos. Por um momento, estranhei aquela reação dos dois. Eu estava esperando algo mais enérgico, como Ron me pegando pelos ombros enquanto me enchia de perguntas, Hermione ao lado do noivo me olhando inquisidora como fazia quando sabia que eu estava fazendo algo errado.

Mas então suspirei, lembrando a mim mesmo que aquele dia havia saído completamente dos trilhos desde as primeiras horas da manhã, e que eu não deveria estar tão surpreso com mais uma coisa inesperada acontecendo. Na verdade, eu estava gostando muito mais desta reação suave e acolhedora; de outra forma, eu entraria em colapso mais rápido do que estava acontecendo.

— Harry? — Mione chamou tentativamente, mas eu não me mexi. — Harry, está tudo bem?

Gemi baixinho outra vez, não sabendo o que dizer. Ela continuou fazendo carinho nos meus cabelos suavemente.

— Harry, o que aconteceu?

— Não... Não aconteceu nada, Mione — murmurei, finalmente virando a cabeça para encontrar seus olhos castanhos, que me observavam com curiosidade e criticidade.

— Olhe, eu aceito que me diga que não sabe o que aconteceu, ou que não quer me contar, mas não aceito que diga que não houve nada. Vamos lá, Harry, sejamos sensatos e não finja que eu não vi que tinha alguma coisa rolando aqui antes de nós chegamos. E, mesmo que não tivéssemos visto nada, a reação de vocês dois já entregaria tudo.

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