Capítulo 6

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Eu permaneci imóvel durante um longo tempo.

Minhas mãos trêmulas estavam se agarrando aos lençóis quase como uma maneira de reafirmar a realidade, de me trazer de volta à ela. Meus olhos arregalados estavam focados na janela, na noite que se estendia do lado de fora do vidro, e eu quase podia ouvir a Lua rindo de mim; zombeteira, provavelmente estava achando graça da minha miséria. Um avião cruzou o céu, pequenas luzinhas vermelhas e azuis piscando indicando sua passagem, e somente quando ele desapareceu de vista que senti meu corpo se acalmar.

Então fechei os olhos e suspirei profundamente, tão profundamente que me senti ficar tonto. Mas, apesar disso, e apesar de meu corpo já ter se acalmado... As lembranças de meu sonho com Draco ainda não haviam me deixado. E eu tinha uma forte impressão de que jamais deixariam.

Esfreguei os olhos com as mãos, soltando um choramingo. Eu me sentia tão perdido, tão confuso... Pensei em Draco e a mera evocação de seu nome me trouxe uma gama de sentimentos, lembranças e emoções que era demais para que eu pudesse suportar, girando em um furioso redemoinho que ameaçava me tragar e me destruir.

Uma pontada de irritação se fez presente e eu levantei da cama, cansado de estar à deriva em minha própria pele. Segui descalço pelo corredor, sentindo os azulejos frios em contato com as solas dos pés até que estivesse na sala de estar. Abri a porta de vidro que levava até a varanda e saí para a noite. Fui recebido com uma lufada de vento gelado e nem sequer me importei em descobrir quem horas poderiam ser. Apenas me apoiei na beirada, observando as estrelas.

Ouvi um farfalhar de asas e então Edwiges piou para mim repreensora, provavelmente por eu tê-la acordado. Sua gaiola não estava muito longe e eu observei seus olhos âmbares me encarando de maneira profunda. Sorri para ela, cansado.

— Me desculpe — murmurei, recebendo mais um farfalhar de asas como resposta. — Eu não queria acordar você. Apenas precisava de ar puro.

Ela permaneceu me encarando, tão silenciosa quanto a noite, mas eu poderia jurar que havia empatia e compreensão em seu olhar. Ri de mim mesmo, balançando a cabeça. Não me importava de que talvez fosse estranho estar na minha própria sacada, nas altas horas da madrugada, conversando com a minha coruja. Não, isso para mim era algo normal. O estranho de verdade era estar desenvolvendo sentimentos pelo meu melhor amigo e então acabado de ter um sonho quente com ele.

Edwiges parecia conseguir ler tudo o que se passava em minha mente, pois piou outra vez e se agitou na gaiola, inclinando a cabeça adoravelmente para o lado. Eu sorri ainda mais para ela, sendo inundado por um sentimento gigante de carinho. Lembrava de quando Hagrid havia me presenteado ela, ainda um pequeno filhote de plumas cinzentas. Ela havia crescido tanto desde então e verdadeiramente ficava cada dia mais bonita em suas majestosas penas brancas e olhos amarelados.

— O que eu faço, Ed? O que eu faço da minha vida? — perguntei à ela.

Mas Edwiges apenas agitou as asas novamente, pouco antes de virar a cabeça e enterrar o bico escuro nas penas outra vez, voltando a dormir. Voltei meus olhos para o céu, de repente me sentindo extremamente sozinho.

— É, eu também não sei.

                               ♡

Quando eu estava tirando os meus minutos de almoço naquela terça-feira agitada, recebi uma ligação de Ron e Mione. Segundo eles, já haviam contado a todos sobre o bebê e me asseguraram de que estavam bem. Também contaram estar planejando uma outra festa, agora em comemoração ao noivado e a gravidez, e estavam organizando para acontecer no fim de semana.

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