Capítulo 2

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Algumas horas e garrafas vazias depois, eu já estava quase que totalmente fora de mim.

Rindo com Draco, ambos sentados no tapete da sala de seu apartamento, sentia minha cabeça rodando e a música animada que soava apenas a fazia se tornar ainda mais nebulosa, todo meu corpo apenas uma grande confusão de torpor e hipersensibilidade. Ao contrário do que era usual quando eu bebia, não estava sentindo sonolência ou letargia, mas sim uma eletricidade instigante correndo por minhas veias, me deixando animado.

De início estranhei essa reação do meu corpo, mas deixei de lado esse detalhe apenas alguns segundos depois do pensamento cruzar minha mente, pois naquele dia as coisas não estavam mesmo seguindo como o planejado. Naquela manhã, o meu bolo favorito na padaria que eu sempre frequentava não estava esperando por mim; o último pedaço tinha sido levado pela pessoa logo a minha frente na fila.

Em seguida, precisei caminhar até o apartamento de Draco, pois a moto que meu padrinho havia me dado de presente simplesmente não queria funcionar, mesmo que não houvesse absolutamente nada de errado com ela.

E, então, Ron e Mione estavam atrasadíssimos.

Se fosse apenas Ron eu não acharia tão surpreendente, já que meu amigo tinha o péssimo hábito de chegar atrasado para qualquer compromisso que exigisse sua presença. Mas, também, Hermione era sempre tão pontual que chegava a irritar, e odiava que a deixassem esperando ou que deixasse os outros esperando. Quando eles finalmente começaram a namorar, se tornou normal finalmente ver meu amigo chegando cedo nos lugares, e havia me acostumado a isso.

E era exatamente por aquele motivo que ver os dois atrasados para a própria festa de noivado era tão absurdo. E, na realidade, eles não eram os únicos. Todos os amigos que havíamos convidado para a festa também não haviam chegado ainda, e depois da primeira rodada de cerveja finalmente começamos a nos preocupar com a demora estranha.

E o mais estranho de tudo foi quando mandamos mensagens perguntando sobre onde eles estavam e cada um parecia ter uma desculpa esquisita e obviamente esfarrapada para ainda não terem trazido suas bundas para o apartamento de Draco. Após isso, eu e Draco passamos alguns segundos nos encarando em silêncio, remoendo os amigos imprevisíveis e idiotas que tínhamos, caindo na gargalhada logo em seguida.

Então ele se levantou com um pulo meio trôpego, trocando a música para uma faixa eletrônica, as batidas envolventes fazendo meu corpo tremer e já era quase meia noite enquanto eu e ele dançávamos pela sala, rindo de nós mesmos e do imenso bolo que levamos.

Foi quando ele me ofertou jogar.

E quando voltou muito cambaleante do quarto com a caixa do Twister nos braços, eu gargalhei alto e precisei de alguns minutos para me conter. Era algo nosso, aquele jogo. Uma espécie de ritual que havia começado há muito tempo atrás, no auge de nossos dezessete, quando Draco teve seu coração partido pela primeira vez e tinha ido até a minha casa para afogar as mágoas em bebida junto comigo, que estava chateado por ter tirado uma péssima nota na prova de Snape e precisar ficar de recuperação metade das férias de verão.

Então, quando nós já estávamos bêbados o suficiente para sequer pensar no que fazíamos, Draco abriu as portas do meu guarda roupas e começou a atirar no chão tudo o que encontrava lá dentro, alegando que meu gosto para roupas era horrível e ele iria queimar todas elas. Foi quando ele achou a velha caixa do Twister, um jogo que eu tinha desde criança mas não jogava fazia muito tempo, porque me evocava lembranças que eu não queria remexer.

Depois daquela primeira noite, se tornou uma tradição. Quando as coisas ficavam ruins, enchíamos a cara até ficarmos bêbados e então jogávamos Twister. Havia algo de muito engraçado em tentar se concentrar em bolinhas coloridas, coordenação motora equilíbrio enquanto seus sentidos e percepções estavam extremamente alterados, e isso sempre nos rendia minutos infindáveis de gargalhadas além de muitos tombos e esbarrões enquanto esquecíamos do mundo e os problemas que ele nos empurrava.

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