Capítulo 4

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Quando acordei algumas horas mais tarde, uma horrível e latejante dor de cabeça clamava minha atenção; na verdade, esse foi o motivo do meu despertar. Assim que abri os olhos, a claridade do sol que serpenteava por entre as frestas das cortinas me atingiu e eu grunhi, sentindo a cabeça doer ainda mais.

Um pouco tonto e sentindo como se um gambá houvesse morrido na minha boca, lutei para sentar na cama. Tateei a mesinha de cabeceira em busca dos meus óculos e assim que os ajeitei no rosto me inclinei para dar uma espiada no relógio digital. Já passavam das 14:27 da tarde e o sol lá fora parecia ardido. Enquanto me espreguiçava lentamente, me perguntei se talvez Draco já havia acordado.

E, com a lembrança dele, também me lembrei imediatamente da noite passada e uma sensação gelada e pegajosa se apossou do meu corpo. Arregalei os olhos, me sentindo completamente desperto, e sentei mais ereto na cama. Mas a ação brusca apenas me rendeu outra pontada dolorida nas têmporas eu soltei um gemido desolado, pensando se poderia passar o resto da minha vida dormindo. Não queria lidar com ressacas e muito menos com conversas constrangedoras.

Batidas suaves na porta me fizeram sobressaltar.

— Harry? — veio a voz grave e levemente rouca de Draco. — Já acordou?

— Já — respondi, tentando não me sentir nervoso.

Uma fina fresta da porta foi aberta, o bastante para a cabeça loira de Draco passar, e ele espiou o quarto com os olhos semicerrados antes de entrar completamente. Parecia já estar acordado há alguns minutos, pois claramente havia acabado de sair do banho; se o cheirinho suave de sabonete que o acompanhava fosse algum indicativo. Trazia nas mãos um copo grande de água e alguns comprimidos. Ele se aproximou da cama calmamente, estendendo ambos para mim.

— Bom dia, princesa. Aqui, toma. Eu sei que você de ressaca é a própria enxaqueca — peguei o comprimido e o copo de suas mãos, engolindo tudo rapidamente. — Bebe devagar, Potter, a água não vai fugir.

— Não enche o meu saco, Malfoy — resmunguei, apoiando o copo ainda pela metade na mesinha ao lado da cama. — E não seria “boa tarde”?

— Eu acabei de acordar, então ainda é “bom dia”, muito obrigado.

— É, sei, sei. E eu que sou a princesa.

— É claro que é você — ele disse, parecendo divertido, caminhando até a janela de frente para a cama. — Ei, Harry.

Assim que me virei para encará-lo, ele abriu completamente as cortinas, fazendo o quarto se encher completamente da luminosidade do sol da tarde. Gemi outra vez, sentindo meus olhos arderem, e afundei o rosto no travesseiro. Draco começou a rir.

— Eu odeio você.

— É, eu sei — ele respondeu, parecendo muito alegre por ter feito aquilo, e eu ouvi seus pés descalços indo para fora do quarto. — Levanta essa bunda magra daí, nós temos faxina para fazer. Meu apartamento está cheio de formigas.

Como resposta, apenas grunhi novamente. Então, quase sem pensar, sorri. Minha amizade com Draco era algo tão fácil, tão natural, fluida como um riacho. Havia uma intimidade e uma conexão que eu jamais havia conseguido com outra pessoa, nem mesmo com Ron e Mione. Eu tinha total e completa liberdade para ser eu mesmo, e ele também, e essa sensação de ter alguém com quem se pode falar o que quiser e ser quem quiser, sem medo de julgamentos ou olhares tortos é simplesmente sublime.

Mesmo que nós fôssemos tão diferentes, quase opostos, as coisas entre a gente funcionavam de maneira perfeita. E eu simplesmente amava isso. E eu jamais precisei confrontar o fato imutável de que isso era algo que eu jamais queria perder. Bem, até agora...

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