Capítulo 11

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A autora recomenda a leitura com lenços do lado 💖

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Os dias foram se tornando mais curtos e frios conforme o Outono chegava para nós.

Dirigir as seis horas que me separavam de minha cidade natal foi um trabalho simples, no final de tudo. A viagem foi solitária e silenciosa, as únicas coisas que me faziam companhia eram a paisagem pintada de amarelo e vermelho, o frio que se achegava sorrateiramente e a melancolia que sempre se abatia sobre mim naquela época do ano. E, junto com ela, todas as memórias dos meus primeiros doze anos de vida naquela cidadezinha do interior, tão pacata e organizada.

Passei pela placa de boas vindas na rodovia e a nuvem escura que viera crescendo sobre minha cabeça na última semana cresceu alguns centímetros, e nem mesmo os raios do sol nascente daquela bonita manhã foram capazes de passar por ela e chegar até meu coração gelado.

Naquele dia, pensei que nada seria capaz.

Estacionei a moto ao lado de uma floricultura para pedir o que pedia todos os anos: um buquê de lírios vermelhos e orquídeas brancas. Dona Elise, a amável velhinha que trabalhava ali desde que eu me entendia por gente, me lançou um sorriso gentil e triste ao me ver passar pela porta, o sininho anunciando minha chegada.

- Harry, meu bem... - ela murmurou em cumprimento, com a voz pequenininha, enquanto o perfume das dezenas de flores ao redor saudavam a minha chegada.

Eu lhe ofereci um sorriso que não deve ter chegado aos olhos, me aproximando calmamente do balcão.

- Bom dia, Dona Elise. O de sempre, por favor.

E ela imediatamente se virou para aprontar o buquê. Ela era sempre muito delicada e cuidadosa com seus pedidos, mas eu via um carinho a mais quando preparava os meus. Suas mãos pequenas e enrugadas organizaram as flores com visível amor, e as embalaram em um papel bonito e um laço de cetim branco, estendendo para mim em seguida. Acertei o pagamento e estava me virando para sair da loja quando sua voz soou baixinha outra vez:

- Harry... Diga a eles que eu lhes mandei oi.

Me virei de volta para ela, olhando-a por cima do ombro, e lhe dirigi um último sorriso ao afirmar com a cabeça.

Saí da floricultura e caminhei pelas calçadas da cidade, reparando na típica decoração de Halloween cobrindo as casas e os estabelecimentos. Reparei também em tudo o que havia mudado ali desde a minha última visita no ano passado; a padaria que os Mellark dirigiam estava de fachada nova, e eu percebi que eles haviam feito uma boa reforma - tinha ficado bonita, certamente mais atrativa para o público. Alguns metros à frente uma nova sorveteria havia sido inaugurada e parecia fazer muito sucesso, mesmo que no momento ainda estivesse abrindo. Acenei para mais três pessoas que me reconheceram nas calçadas - era uma cidade pequena, daquelas onde todo mundo conhecia todo mundo - e continuei meu caminho.

Voltar para Godric's Hollow todos os anos sempre soava estranho para mim. Era como estar voltando para uma vida antiga e deixada de lado há muito tempo, e era difícil lidar com a nostalgia da infância vivida ali, de todos os momentos em que brinquei naquelas ruas. Olhei para a árvore na esquina, de onde eu havia caído e quebrado o braço, e então para o hidrante vermelho e com a tinta gasta, onde eu havia perdido os dois dentes da frente em um acidente com uma bicicleta sem freios. Um caroço começou a se alojar em minha garganta ao passar em frente à minha antiga casa e eu não senti quando as lágrimas começaram a escorrer.

Segui caminhando até avistar os grossos e enferrujados portões de ferro e apertei o buquê junto ao peito, estremecendo. Segui pelo bonito caminho de cascalho, ladeado de árvores em tons de laranja, marrom e vermelho, manchando todo o chão outrora verde com essas mesmas cores. E meus pés me levaram pelo caminho conhecido até estar diante daquela lápide de pedra castigada pelo tempo, lendo os nomes gravados eternamente na superfície lisa e sentindo o coração arder.

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