xxii. primeiro dia.

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"Que coisa?" Me fingi de desentendida enquanto tateava o meu pescoço loucamente. "É algum bicho?" Perguntei desesperada.

"Está vermelho..." Ele apontou e eu suspirei fundo.

"Ah" respirei fundo. "Andei coçando demais o meu pescoço. Só isso" disse relaxando os ombros e encostando a palma da mão na região afetada. Eu respirava fundo tentando manter a calma na frente dele - sua expressão era umas das mais desconfiadas do mundo. Sobrancelhas erguidas e lábios desenhados para baixo como quem pensa se você diz...

"Entendi. Você sempre teve essas alergias, não é mesmo?" Ele levantou e passou por mim.

1:30 a.m

Meus olhos estavam vidrados nas luzes coloridas em diversos formatos de estrelas no meu teto - que parecia ganhar mais profundidade a cada piscada pesada que eu dava. Eu me xingava mentalmente por estar acordada em pleno dia de levantar às cinco da manhã pra tomar banho e logo em seguida me preparar mentalmente pra ir para a faculdade dos meus sonhos. Que sensação deliciosa, eu diria.

Me virei para o lado confortavelmente, agora minha visão estava acostumada com o escuro do meu quarto, eu conseguia enxergar a silhueta da minha escrivaninha perfeitamente.

Que droga.

Fecha os olhos e durma, garota. Pra dormir bem, você tem que começar a fingir que está dormindo.

Olhei no meu celular que estava embaixo dos lençóis comigo, a claridade me fez espreitar os olhos cegamente - e olha que o brilho não estava tão alto.

Não havia mensagens de Keigo. Quando ele me disse que entraria em "modo avião" eu achava que era apenas um modo de falar.

"Princesas se casam apenas com príncipes, ou seja, alguém à altura de sua classe." Estava sentada no colo da mamãe no sofá enquanto meus olhos estavam presos na televisão que transmitia um filme de princesa. "E você gosta de ser uma princesinha, não é?"

Toda garotinha é uma princesa, até ela crescer.

Mas eu sou uma até hoje.

Princesas seguem regras.

Princesas abrem mão da própria felicidade.

O livre arbítrio pra elas é apenas uma lenda urbana.

Quebrar alguma regra deste protocolo é o mesmo que colocar a própria cabeça em uma guilhotina - pessoalmente, acho que não seria uma opção tão ruim assim.

"Sim, eu gosto!" Respondi inocentemente dando leves pulinhos de alegria.

Na minha cabecinha de criança, ser princesa era legal justamente por ir à festas, cerimônias, usar aqueles vestidos longos e quentes... Uma vida luxuosa.

E eu mentiria se dissesse que minha vida não é nenhum pouco desse jeito.

No momento, é pouco corriqueira, mas aos dezessete anos eu fui a uma festa bem formal - mais pode ser chamada também de "festa de gente podre de rica." Eu tive que usar um daqueles vestidos longos e apertados. Foi a pior experiência da minha vida, era um ambiente quente para roupas iguais aquela e aquilo estava me sufocando, eu só queria ir embora e dormir.

E o dono da festa? Bom, era um juiz renomado, amigo e chefe da minha mãe.

Naquele dia fui obrigada a ser gentil e educada com todos. Foi um verdadeiro inferno.

Mas as princesas fazem isso.

Meus pais não me chamam mais disso porque não é mais cabível para a minha idade, soa infantil demais. Porém, eu diria que o conceito está enraizado bem no fundo da minha alma.

✔| 𝐀 𝐖𝐡𝐨𝐥𝐞 𝐍𝐞𝐰 𝐖𝐨𝐫𝐥𝐝 ‹𝟹 hawks.Onde histórias criam vida. Descubra agora