viii. vazio no peito.

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Eu estava arrumando alguns edredons no chão de maneira que ficasse confortável. Era ali que eu iria dormir naquela noite, não me sentia incomodada com nada se fosse pra ele ficar bem. Eu dormiria até na varanda sob a luz das estrelas sem problema algum. Ele precisava ficar bem. Talvez uma chance como aquela eu nunca mais tenha, não quero soar egoísta, mas se há algo que eu possa fazer pra mudar minha vida eu com certeza moveria céus e terra.

Alguns sacrifícios precisariam ser feitos para evitar o meu próprio.

Hawks estava sentado na cama ─ já com a sua camisa ─ e me encarava com o cenho franzido, como se quisesse perguntar se eu realmente iria dormir aí. Eu estava disposta a dizer que sim, de qualquer forma. Mas ele não o fez, parecia inquieto mas ao mesmo tempo queria aparentar que estava tudo bem.

De joelhos no chão arrumando as pontas do lençol para que ficasse reto, conseguia encarar seu rosto de forma que ele não percebesse. Ele esboçava uma reação ingênua, parecia um passarinho de filme da disney. Eu gostei desse elogio, acho que é fofo demais pra ele, portanto, não o diria em voz alta e muito menos o chamaria assim.

Passarinho da Disney...

─ O quê foi? ─ Perguntei me levantando e o encarando na tentativa de quebrar o silêncio. Ele virou o seu rosto para frente lentamente, nem disfarçou que estava me olhando fixamente desde aquela hora.

─ Você tem certeza que não quer dormir na sua cama? Eu não me importaria de dormir no chão, de verdade... ─ Colocou as mãos atrás da cabeça.

─ Você está louco se pensa que vou deixar você dormir no chão nesse estado ─ Coloco um pé de cada vez pra fora do lençol. Eu havia arrumado eles bem ao lado da minha cama.

─ Olha, eu estou bem, não há nada para se preocupar comigo.

─ Quando eu te trouxe aqui você estava ardendo em febre e com algumas partes do corpo machucadas. Sem contar as suas asas. Sem mim você já era ─ Respondi de forma convencida e ele riu, levantando seus ombros.

Eu senti minhas bochechas arderem com a sua risada leve e gostosa. Elas soaram como música para os meus ouvidos, sabe aquela melodia que quando você coloca os fones e se desliga do mundo, você sente ela penetrando a sua alma e de repente se torna uma sensação boa? Como se aquela música fosse feita pra você e somente você?

Ele é uma melodia que eu compreendia perfeitamente.

Talvez eu tenha exagerado nas palavras. Mas eu me senti cem por cento assim, não vou negar.

─ Você é engraçada, eu gosto de você ─ Apoiou ambas as mãos nas bochechas, ato este que fez seus olhos ficarem apertados o suficiente para quase deixá-los fechados. A sua careta me fez soltar um arzinho pelo nariz, mas eu disfarcei rapidamente. ─ Mas sério, não se preocupe comigo. Amanhã mesmo eu já pretendo ir embora.

─ Não até que você esteja bem. Quando estávamos na rua, você insistiu tanto para ficar perto de mim, por que agora está hesitando? ─ Cruzei os braços abaixo dos seios.

─ Porque eu sou um herói, tenho outras coisas a fazer também ─ Ele baixou o seu olhar. ─ Mas isso vai mudar, acredite em mim.

─ Você não pretende mais ser um herói? ─ Sento de joelhos nos edredons estendidos no chão e o encaro de cima.

─ Sim, mas eu também espero trazer paz aos heróis pra que eles tenham tempo de sobra.

Ele parecia perdido em seus próprios devaneios, mas seu rosto ainda esboçava uma reação tranquila e serena. Ele me parecia bastante convicto do que estava falando, mesmo eu achando que isto não era algo possível.

✔| 𝐀 𝐖𝐡𝐨𝐥𝐞 𝐍𝐞𝐰 𝐖𝐨𝐫𝐥𝐝 ‹𝟹 hawks.Onde histórias criam vida. Descubra agora