4 MESES ANTES
[Sol]
— Parabéns amor da minha vida, 25 anos a destroçar corações! — digo ao telemóvel. Na minha mão esquerda um café quente aquece os meus dedos e caminho, em passo acelerado, pela rua adjacente ao Centro Académico em direção à primeira aula desta manhã.
— Sol, minha princesa, ia agora ligar-te. Estou em Ária — ouço a voz de André no outro lado do telefone, um dos meus melhores amigos de infância. — Quero comemorar o meu aniversário com alguns amigos. Vamos jantar todos no sítio do costume. Estou a contar contigo.
— O Mateus vai? — pergunto tentando manter a minha voz neutra.
— Vai, mas vocês têm de parar de uma vez por todas com essa embirração. Fogo, vamos voltar a ser como antes. Vocês davam-se tão bem...
— É melhor eu não ir. — interrompo-o — Ele agora está a dar-me aulas. Temos uma relação diferente de antes. As coisas mudam...
— Eu não valho o suficiente para o suportares durante um jantar? — pergunta-me — É o meu aniversário Sol e já não estamos muitas vezes juntos. Por favor... Agora só sei de ti pelo telefone.
— O teu irmão não vai gostar, André. — abro o jogo.
— E isso que importa? Quem faz anos sou eu e eu quero mesmo ter-te lá. Conto contigo? – pergunta-me uma última vez. Eu sei que a resposta certa a esta pergunta é um redondo "não", mas tenho saudades do André. É o irmão mais novo do Mateus. Crescemos juntos, conhecemo-nos desde sempre e damo-nos super bem apesar de convivermos muito pouco nos últimos quatro anos. Lembro-me de que hoje é o meu dia de folga e tomando essa lembrança como um sinal, respondo:
— Conta comigo! — ouço uma gargalhada de satisfação do outro lado do telemóvel.
— Eu sabia que não ias me desiludir princesa.
— Até logo. Espero que a tua namorada vá, quero conhecê-la. — digo-lhe.
— Oh Sol sabes que só tenho olhos para ti! – ele continua a brincadeira e eu rio. O André é um amor. Traz ao de cima o meu lado mais brincalhão, mais divertido sem ter medo de estar a ser julgada por fazer ou por falar algo de errado. Desde criança, andava atrás dele e de Mateus o tempo todo e, apesar de ser um pouco mais nova do que eles, sempre pertenci ao grupo. Penso que eu e o André sempre nos entendemos melhor por sermos algo parecidos. Mateus era o menino certinho, o nosso mano mais velho, o protetor, aquele que tinha de dar o exemplo e, por vezes, tentar enfiar algum juízo nas nossas cabeças.
Desligo o telemóvel. Felizmente, hoje não tenho aulas com o Menino de Ouro, então não tenho de me cruzar com ele antes do jantar, o que me dá um certo alívio. Ok, provavelmente estou a fazer uma tempestade num copo de água. O mais certo é que nos ignoremos mutuamente e nem troquemos palavras. Tudo irá correr bem.
O dia passa a correr. Chego ao restaurante e, mesmo que tente evitar, confesso que estou um pouco nervosa. Se calhar, não devia ter vindo. Nos últimos dois meses apenas vi Mateus nas aulas e fazemos de conta que não nos conhecemos.
O restaurante é num local chique da cidade. Coloquei um vestido que a minha mãe consideraria minimamente elegante, embora talvez ela dissesse algo como "está demasiado colado ao corpo, está na altura de pensares numa dieta" e ondulei levemente os cabelos. Sei que estará pelo menos mais um casal que é amigo do André.
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Imperfeitamente Perfeitos
RomanceO comportamento de Sol é imperfeito, altamente reprovável para muitos. Tem 22 anos e sabe que é imperfeita desde que nasceu. O comportamento de Mateus, de 29, é perfeito, uma pessoa e um médico exemplares. Conhecido como o "Menino de Ouro", faz que...