Capítulo 14 - A Casa do Lago

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ATUALMENTE


[Sol]

— Uaaaauuuuu! Isto é o máximo! — a redonda cara de Paulinho irradia felicidade por todos os poros enquanto olha pela janela do carro — vou poder nadar?

— Claro que sim — digo-lhe, olhando para o lago — Vamos nos divertir muito aqui.

— Bem, eu não estava à espera de algo tão... isto. — Lucas olha para mim um tanto sem graça enquanto percorremos os jardins da casa de férias da minha família no seu carro. A Casa do Lago é uma mansão antiga herdada pela minha mãe. Parte da propriedade tem acesso direto a um enorme lago de águas cristalinas e, noutro lado somos brindados a alguns hectares de floresta privada. Sorrio para ele. O modo como fica espantado com a propriedade é até fofo.

Chegámos.

Um rápido olhar para o relógio, diz-me que somos os últimos a chegar. Eu também não estava com muita pressa, admito. Cumprimento os empregados e peço para que levem as nossas malas para os quartos. Sim, quartos, porque Lucas veio como amigo e, claro, ficará num quarto de hóspedes com Paulinho, enquanto eu ficarei no meu.

Quando entramos na casa, Lucas e Paulinho parecem entrar num universo paralelo ou algo do equivalente. É muito engraçado observar as expressões das suas caras e o modo como absorvem cada pormenor à sua volta. Lucas parece pouco à vontade. Bem, não me vou alongar mais, é altura de enfrentar a fera.

— Onde estão os meus pais? — pergunto a uma das funcionárias da casa, uma mulher mais velha e muito séria.

— Estão no Salão de Verão com os restantes convidados.

— Salão de verão? — pergunta Lucas e continua em tom de brincadeira enquanto ri — é um salão para cada estação?

— Sim senhor, mas também temos outros salões como o Salão de Jogos ou o Salão da Piscina interior. — responde-lhe a senhora.

— Certo — ele diz sem graça, deixando de rir.

— Vamos até lá Paulinho? — pergunto ao menino oferecendo-lhe a minha mão.

— Sim, vamos tia Sol. — o menino responde-me entusiasmado.

"Bem, alguém que esteja entusiasmado", penso.

Enquanto caminhamos para o Salão de Verão, Lucas permanece calado e aparenta estar um pouco ansioso, então dou-lhe a mão e ele sorri. Caminhamos, assim, os três de mão dada e sorridentes pelo jardim relvado até chegar ao nosso destino, um enorme salão aberto no meio do jardim.

Quando entramos, todos os olhos se dirigem a nós e um silêncio incómodo toma conta do espaço. Aproximo Lucas e Paulinho de mim e coloco os braços em torno deles. Nem sei bem, se faço isso para os apresentar ou para os proteger de algum modo. Estão muitas pessoas aqui, esperava algo mais intimista. Procuro os meus pais e encontro-os num grupo de amigos ao fundo da sala. Levo-os até junto dos meus pais. Clareio a garganta:

— Olá família. Apresento-vos o Lucas, o amigo de quem falei e Paulinho, o seu filho. Estes são os meus pais.

Quando chegámos, os convidados estavam entretidos entre conversas e requintados petiscos, mas quando chegámos, discretamente, parece que voltam o seu olhar para nós, como se esperassem que acontecesse algo. Às vezes, não sei como os meus pais mantêm certas amizades que, na verdade, torcem pelo erro do próximo. É nestas situações que a aparência é tudo.

No grupo de amigos, próximos aos meus pais, à exceção da minha mãe, todos abrem um grande sorriso e dão as boas vindas aos recém-chegados. No entanto, como se de repente se desse conta da sua sinceridade mal calculada, a minha mãe abre um sorriso pouco sentido, mas muito eficaz em eventos públicos e dirige-se até nós:

Imperfeitamente PerfeitosOnde histórias criam vida. Descubra agora