Capítulo 6 - O favor

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ATUALMENTE

[Mateus]

Abro o meu cacifo. Sinto a cabeça pesada. Não dormi nada esta noite. Estou mesmo cansado desta merda. Pouso lá dentro a carteira e os óculos de sol e, enquanto estou a despir o casaco, ouço uma voz conhecida atrás de mim.

- Feito. Deixa-me que te diga que o teu favor vem no pacote de uma autêntica gata. - é Sérgio, outro médico do hospital e um dos meus melhores amigos.

- Nem penses nisso... - respondo. - O que aconteceu?

- Ela estava lá no bar que disseste. Tomou uma bezana do caraças, saiu sozinha e tinhas razão, a coisa podia realmente ter corrido mal. - virei-me para ele e vejo que ele tem um olho inchado e uma mão enfaixada.

- O que aconteceu? - pergunto espantado.

- Digamos que não fui o único a ir atrás dela.

- Como assim? Conta-me tudo. - peço-lhe.

- Então, fui lá ter como me pediste e não foi difícil identificá-la porque os clientes fartaram-se de festejar e de gritar o nome dela durante grande parte da noite. Ela dançou, cantou com o namorado...

- Namorado? - interrompi.

- Ela esteve a maior parte da noite com um rapaz e pareciam muito íntimos. Deduzi que fosse o namorado. Ele olhava para ela como se fosse o namorado. Na verdade, nem pensei ter de intervir durante a noite, ela parecia ter ali muitas pessoas que se importavam com ela. Por alguns momentos, perdi-a de vista, entretanto vi-a sair para a rua. Como não queria assustá-la, fui rapidamente buscar o carro para segui-la de longe. Em pouco tempo consegui localizá-la ainda na mesma rua. Foi então que reparei em algo estranho.

- Estranho? - perguntei.

- Sim. Um homem estava a segui-la a pé. Não é alguém que eu conheça, mas fiquei logo com um mau pressentimento. Depois, não se bem porquê, entrou num beco escuro, o que foi uma estupidez e facilitou a vida dele. Andou ainda mais rápido e continuou atrás dela. Quando cheguei lá, tive de o puxar de cima dela. Isto não foi um favor, foi uma confusão e tu ficas a dever-me. Acreditas que tive de lutar com ele? No meio da luta, um de nós bateu-lhe na cabeça sem querer e ela desmaiou.

- Eu pedi-te para cuidares dela, não para lhe bateres. - digo irritado.

- Tu pediste-me para seguir alguém, não para andar à pancada com um gajo qualquer para salvar uma donzela em perigo. - diz-me alterando o tom de voz.

- Certo! - ele está um bocado aborrecido comigo e eu entendo-o perfeitamente. Hei de pensar num modo de o compensar.

- Ela está metida nalguma alhada. - Sérgio diz-me.

- O que te faz pensar isso?

- O homem. Ele já a conhecia e queria vingança. No meio da luta, ele disse algumas coisas.

- O que é que ele te disse? - perguntei curioso.

- Disse que ela merecia... que era uma cabra e...

- E o quê? Desembucha.

- E que o tentou matar. - mantive-me impassível ao ouvir esta resposta.

- Depois, o que aconteceu? Onde é que ela está? - pergunto.

- Bem... Esta aventura acabou com ela muito sexy numa cama em lingerie preta... por acaso... aquela lingerie...

- Livra-te de teres tocado nela. - digo isto num tom calmo embora um pouco mais ameaçador do que estava à espera. - Confiei em ti para colocares ela em segurança, só isso.

- Ei. Calma. Deixa-me terminar! Ficou sim numa cama em lingerie, num hotel, bem segura e sozinha. Não fiquei no hotel mais de 15 minutos. Coloquei-a confortável, mandei lavar a roupa, deixar-lhe algo para o pequeno almoço e um comprimido para dores de cabeça. Quem é ela? Porque me pediste para a seguir?

- Uma amiga da família e minha aluna. Digamos apenas que ela ontem recebeu uma notícia que vai interferir com os seus planos. Eu sabia que não ia ficar bem e poderia fazer alguma... asneira. Afinal parece que foi boa ideia segui-la.

- O que lhe fizeste? Ontem quando me ligaste para o hospital e me pediste para seguir alguém... - ele ri - Primeiro, julguei mesmo que estavas a brincar, depois que tinhas perdido o juízo. Porque não foste tu salvar a princesa? Eu sei que não estiveste de serviço no hospital.

- Esse era o meu plano. Quer dizer, o meu plano não era salvar uma donzela a meio da noite. Talvez observá-la de longe ver se chegava bem a casa, mas surgiu algo.

- Existe algo mais que eu deva saber acerca dela. Só naquela de me mandares segui-la mais uma vez? - Ele ri de mim e com razão, quer dizer, eu mandei-o seguir alguém a meio da noite.

- Não acontecerá mais nenhuma vez e sim, há algo que podes ficar a saber. Eu odeio-a! - digo veemente. Os olhos dele arregalam-se.

- Quem é que odeias? - ouço a voz de Sara atrás de mim e fico momentaneamente em pânico.

- A nova distribuição de salas nesta remodelação do hospital, Sara. - Sérgio avança com a resposta, enquanto eu simplesmente reponho cada gota do meu sangue no seu devido lugar - Eu também acho que não faz sentido nenhum. Necessitamos de ter espaços adequados a determinadas situações que não estão a ser tomadas em consideração. As salas de partos, por exemplo, estão numa área muito exposta e são demasiado pequenas albergar os acompanhantes e os profissionais. Temos de falar com a administração.

- Concordo convosco. - responde ela e eu deixo libertar um pouco da minha tensão.

- Bem, vou trabalhar. Até já. - Sérgio afasta-se de nós.

- Querido... - diz-me a Sara, encostando o seu corpo ao meu e dando-me um beijo longo e gostoso. Ela é uma mulher lindíssima - Daqui a pouco saio. Tenho de tratar de arrumar algumas coisas antes do fim de semana com os teus pais.

- Ok, encontramo-nos quando sair daqui. - digo, abraçando-a e retribuindo com outro beijo. Ela enfia as mãos por dentro da minha camisa e eu sinto a excitação a tomar devagarinho conta do meu corpo.

- Onde estiveste esta noite? - pergunta-me entre carícias quentes. Eu já tinha pensado nisso, faço-o sempre. A resposta estava pronta, por isso não foi difícil mentir.

- Eu tive de ajudar um amigo da faculdade que está a passar por uma fase complicada. Nada de importante, querida.

Entretanto, ela sai. Olho para o relógio e vou buscar um café. Odeio mentir para ela, mas mentir faz parte de mim desde sempre, de quem eu sou.

Ainda tenho alguns minutos antes do turno começar. Lembro-me do dia de ontem. Eu ia ter de anular o exame de Sol de qualquer maneira, inventando qualquer coisa, ela apenas me facilitou as coisas chegando mais tarde do que todos os outros.

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Ainda bem que Sérgio apareceu e salvou Sol.

Mas quem era que a estava a seguir?

Será que ela era capaz de tentar matar alguém?

Onde esteve Mateus durante a noite?

Por que raio ela ia perder o exame de qualquer maneira?

Segue @DRGoncalves.Writer e está atento às novas histórias que estão a chegar.







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