[Sol]
— Que som é este? — resmungo entre dentes com o olhar ainda nublado pelo despertar repentino. Ainda desorientada, olho em volta. Procuro freneticamente pela origem do som que está a torturar os meus tímpanos e descubro perto de mim um relógio despertador que não é o meu. Bato-lhe várias vezes e toco praticamente em todos os botões até o desligar.
Olho para o teto e sei que não estou no meu quarto. A minha cabeça está pesada e dolorida. Sinto o cabelo fofo de alguém na minha mão. Viro a cabeça e, de alguma forma, fico descansada quando vejo Luca em troco nu enrolado em lençóis de cor azul claro. Sinto que não tenho cuecas ou qualquer outra roupa e, involuntariamente, cubro melhor o meu corpo. Devagar, começo a organizar os pensamentos na minha mente. Jantar de pizza lá em casa com a Rita. Comemos pizza de frango com cogumelos e bebemos um pouco. Convidei Rita para me acompanhar à festa de finalistas da FMA (Faculdade de Medicina de Ária), onde eu estudo e decidi levar o vestido mais sexy que havia no armário que nem era meu, era da irmã dela. Dou um sorriso quando me lembro da nossa figura a experimentar vestidos. Mais tarde, encontrámo-nos na festa com Luca, um amigo em comum que toca quase todas as noites no bar onde trabalho. A festa foi muito divertida e dançámos muito. A certa altura, eu olhei nos olhos de Luca e bem, parece que acabamos na cama. Tudo bem. Confesso que não é a primeira vez. Somos aquilo a que as pessoas chamam de amigos coloridos e temos uma relação ótima, com bom sexo, em que nem um nem outro tem expetativas nem cobranças. Resulta.
Sento-me, esfrego a cara e, de repente, sinto o sangue a gelar.
— O exame, o exame é depois da festa. Merda! Luca acorda! — abano-o com força até que desperte, levanto-me e começo a catar roupa pelo chão. — Luca qual a maneira mais rápida de chegar à FMA? Estou muito atrasada. Porra! — digo enquanto deixo o meu bom senso para segunda prioridade e enfio pela cabeça um vestido sem costas e cheio de purpurina para ir a um exame na faculdade.
— Vou lá te levar, não te preocupes — diz Luca com um sorriso, dando um pulo da cama colocando rapidamente uma t'shirt e uns calções. Observo que ele realmente fica lindo de qualquer jeito. Olho para ele e sorrio também. Lavo a cara com água e sabão, passo os dedos pelos meus cabelos soltos na tentativa de os pentear enquanto me olho ao espelho. Olho para o reflexo do vestido no espelho que ontem à noite parecia perfeito e hoje... Bem, melhor não pensar nisso! Prioridade: Exame.
É o exame final de Neurologia, 4.º ano e eu tenho de lá chegar de qualquer maneira. Que raio de ideia de marcar um exame para depois de festa! Bem sei que a festa não se destinava aos alunos do 4.º ano e sim aos de 6.º, os finalistas, ainda assim, é óbvio que todo o mundo queria ir.
Estudei um pouco durante a semana, mas com o final do ano escolar e o término dos exames finais, tivemos muito trabalho no bar. Ainda assim, estou confiante, digamos que medicina é a minha vida, é a única coisa que sou mesmo boa.
Luca coloca-nos lá em tempo recorde e, mesmo antes de eu sair do carro, dirige-me um olhar terno, dá-me um beijo carinhoso nos lábios e diz:
— Boa sorte miúda fantástica. Adoro-te! Comemoramos mais logo no bar.
— Também te adoro, meu amigo. Até logo. — Ele baixa os olhos e fico com a sensação que disse algo de errado, porém não tenho mais tempo para pensar no assunto e, no passo mais rápido que consigo, nos saltos escandalosamente altos de Rita, dirijo-me à sala do exame. Pelos corredores, é difícil não observar olhares de alto a baixo e altamente reprovadores na direção da minha pessoa, mas isso de momento é o que menos me interessa porque sei que consegui chegar a tempo.
Vejo, ao longe, dois alunos a entrar na sala e o professor na porta com um ar sorridente. Ufa! Consegui. O professor é um homem louro com uns olhos azuis que fazem derreter qualquer menina tonta. Eu também adoraria esses olhos, não fosse o facto de que na minha direção esses olhos só enviam lanças de gelo bem afiadas.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Imperfeitamente Perfeitos
RomantizmO comportamento de Sol é imperfeito, altamente reprovável para muitos. Tem 22 anos e sabe que é imperfeita desde que nasceu. O comportamento de Mateus, de 29, é perfeito, uma pessoa e um médico exemplares. Conhecido como o "Menino de Ouro", faz que...