DOIS MESES ANTES
[Sol]
— Merda. Matei-o! À minha frente, no chão asfaltado, está um homem a esvair-se em sangue. Ao nosso lado, amontoam-se alguns sacos pretos do lixo que deixam um cheiro nauseabundo no ar. Hoje o bar está completamente cheio, saí uns instantes pela porta da cozinha para apanhar ar durante um bocado e nem me apercebi de ter sido seguida.
Quando senti um hálito quente perto do meu pescoço, uma mão a passar pelas nádegas e um perfume forte misturado com tabaco, todos os meus sensores de perigo ficaram, repentinamente, em alerta. Virei-me. Ele puxou-me e apertou-me contra ele. Uma sensação de repulsa tomou conta do meu corpo e eu só o queria afastar para longe de mim. Começou a beijar o meu pescoço e tudo piorou quando o vi tirar uma seringa do bolso. Aprisionou-me ainda com mais força com um dos braços, enquanto tentava me enfiar aquela seringa com um líquido que eu não fazia a mínima ideia o que seria.
Se ele estivesse sóbrio, eu não teria eu tanta força para lhe fazer algum dano, mas ele estava completamente bêbado e drogado. Embora tenha muito mais força do que eu, os seus reflexos estavam mais lentos do que o normal. Contorço-me para me afastar e, sem saber que raio era aquela porcaria, tirei-lhe a seringa da mão e espetei no pescoço dele. Em poucos segundos, perdeu a força e todo o seu peso foi de encontro ao chão. Bateu com a cabeça na esquina de um degrau e imediatamente começou a esvair-se em sangue.
Ao observá-lo com um pouco mais de distância, reconheci-o e a minha pele começou a transpirar medo, medo de verdade. É Mário Guerra, um cliente habitual do bar e o querido sobrinho de um dos homens mais influentes de Ária, Vítor Guerra, um criminoso. Tiro o meu casaco e começo a pressionar a ferida para evitar que saia mais sangue. Olho em volta, ninguém está aqui. Tento pensar rapidamente como vou sair desta situação. Não o posso deixar aqui a morrer e se chamar uma ambulância, vou meter-me em sérios problemas com a família Guerra. Com a minha mão livre ligo rapidamente à única pessoa que sei que pode me ajudar.
[Mateus]
Estou no meu sofá a ler, Sara está sentada à minha frente com os olhos no telemóvel, quando vejo o nome Solange a brilhar no ecrã do meu telemóvel em silêncio. Algo me faz pegar no telemóvel e ir até ao escritório sem alertar Sara. Decido não atender. Rejeito a chamada e sento-me na cadeira com os olhos postos no ecrã do telemóvel. Ela não devia ligar para um professor a esta hora da noite e um professor respeitador das regras não iria atender. Todas as pessoas sabem disso.
Então, por que me sinto nervoso? Por que me afastei de Sara e vim para aqui como se estivesse a esconder algo? O que quererá ela a estas horas? Ela não me liga há muito tempo. A sensação de que algo não está bem parece ter-se colado ao meu corpo e não vai embora. O telefone toca novamente e, desta vez, atendo. Logo o meu coração aperta quando oiço aflição na voz de Sol. Não consigo evitar. Sou um idiota!
— Vem, por favor! — ouço — Por favor, preciso de ti. Ajuda-me.
— O que se passou? Onde estás? — pergunto, tentando mostrar indiferença ao que se trata de uma birra, certamente.
— Estou... com... ele... — diz-me num discurso algo confuso — Tem sangue... muito sangue. Ele tem pulso, mas muito fraco. Por favor, não sei o que fazer. Estou atrás do bar onde trabalho.
— Claro que sabe o que fazer. Chame uma ambulância, menina Solange. Não pode ligar a um professor a estas horas. — surpreendo-me com a dureza da minha própria voz.
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Imperfeitamente Perfeitos
RomanceO comportamento de Sol é imperfeito, altamente reprovável para muitos. Tem 22 anos e sabe que é imperfeita desde que nasceu. O comportamento de Mateus, de 29, é perfeito, uma pessoa e um médico exemplares. Conhecido como o "Menino de Ouro", faz que...