ATUALMENTE
[Mateus]
— Desculpa, desculpa, desculpa. Não sabia que eras tu. Acorda por favor! — ouço ao longe uma voz feminina que me traz de volta à realidade. Abro os olhos reparo que a luz do teto já está acesa e não é apenas a fraca luz da lua que ilumina todo o cómodo. Olho em volta para a fonte da voz que me despertou e dou de caras com Sol. Claro, tinha de ser Sol. Penso que talvez eu deva começar esta conversa de um modo simpático, já que teremos de, obrigatoriamente, conviver durante os próximos dias, mas as palavras saem antes que eu recupere por completo o controlo do meu cérebro.
— Estás louca? Perdeste o juízo? Por que me bateste?
— Desculpa — ela parece realmente arrependida. Continua a falar. — Eu pensei que estava só, depois assustei-me... Não sabia quem era.
— Esta é uma propriedade privada. A probabilidade de te cruzares com alguém que conheces é grande. Talvez perguntar, antes de lhe acertar com um livro de dois quilos na cabeça, fosse boa ideia.
— Podia ser um ladrão. Que raios estás tu fazendo a meio da noite na floresta? — ela vira o foco da conversa para mim.
— Vim dar um passeio, e a menina Solange o que está a fazer aqui? — Coloquei ênfase na palavra menina. Ok, fiz de propósito porque sei que ela odeia. Só a mãe a trata assim. Ela revira os olhos, mas acaba por responder:
— Não conseguia dormir e vim ver como estava a casa da árvore.
— Certo. — respondo.
— Acreditas que a chave ainda estava no mesmo lugar?
— Pois, acreditas que eu não a encontrei? — pergunto fazendo uma careta irónica na direção dela — Oh! Espera aí, afinal foi por isso que eu entrei como um ladrão.
— Desculpa. Eu realmente não queria... — Dá-me a mão para me ajudar a levantar do chão. Hesito, mas acabo por aceitar. O toque suave da pele dela na minha mão é como se lançasse pequenas faíscas que se propagam pelo meu braço. Resolvo ignorar essa sensação e, quando consigo me equilibrar de pé, afasto, rapidamente, a minha mão da dela.
Agora, com o ambiente mais claro, observo à minha volta. Ao fundo vejo o meu antigo livro de registos ridículos. Sorrio e vou até ele. Pego nele e começo a folheá-lo.
— Lembras-te? — pergunto-lhe sem conseguir evitar um leve sorriso. O livro de registos ridículos era uma espécie de diário de momentos caricatos nossos e dos nossos amigos. Desde que fui adotado, todas as férias de verão foram passadas cá com amigos.
Tínhamos contacto com maior parte desses amigos apenas um a dois meses por ano quando também eles iam passar o verão às quentes e paradisíacas praias do lago, mas vivíamos bons momentos juntos.
Começo a ler em voz alta algumas das nossas peripécias:
— 13 de junho. O Luís infiltrou-se numa festa de casamento e tentou roubar uma garrafa de vodka debaixo do casaco, mas a garrafa fugiu-lhe da mão, caiu no chão e partiu exatamente na hora em que ele passou à frente dos noivos que ficaram a olhar para ele tanto irritados quanto confusos, enquanto nós observávamos de longe e nos fartávamos de rir.
A Sol começa a rir.
— 19 de junho. A Joana avisou todos para que se portassem bem e fossem discretos na sua festa de verão, em sua casa, porque ela estava de castigo e os pais não concordaram com a festa. Os pais saíram e tudo estava perfeitamente bem até ela própria se enganar e telefonar aos pais completamente bêbada convidando-os para a festa.
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Imperfeitamente Perfeitos
RomanceO comportamento de Sol é imperfeito, altamente reprovável para muitos. Tem 22 anos e sabe que é imperfeita desde que nasceu. O comportamento de Mateus, de 29, é perfeito, uma pessoa e um médico exemplares. Conhecido como o "Menino de Ouro", faz que...