Capítulo 11 - O jantar

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ATUALMENTE


[Sol]

Olho-me ao espelho e retoco um pouco a maquilhagem. Passo os dedos pelo meu cabelo e penso no quanto este jantar me deixa ansiosa. Volto atrás no tempo e lembro de como era antes, como corria escada abaixo para encontrar os Eker mais novos e como nos divertíamos a conversar à beira da piscina. As saudades batem à porta do coração e eu sorrio.

Ao ouvir a campainha, regresso ao tempo presente. A sensação fria de que o espaço é demasiado pequeno para mim atinge-me de súbito e eu sei que estou prestes a encarar imagens da minha história. Eu ainda não fui capaz contar à minha mãe sobre a bolsa de estudos porque sei que esse tema dominaria a conversa durante o jantar. A família Eker praticamente faz parte da nossa, o que resulta numa intimidade excessiva no tipo de conversas que podem ter sobre os seus filhos. Coloquei um vestido amarelo dos meus tempos de miúda rica que me dá um ar elegante, sensual e algo misterioso. Olho para ele refletido no espelho e secretamente fico satisfeita por ainda assentar tão bem nas minhas curvas. O meu cabelo está leve e solto num desalinhado sexy.

Enquanto desço as escadas, vejo Clara que atravessa a porta de entrada, cumprimentando a minha mãe e abrindo um enorme sorriso assim que me vê. Retribuo. Mateus surge atrás dela. O meu sorriso desfaz-se e a expressão dele mantém-se inalterada numa espécie de "poker face" que não me deixa saber aquilo em que está a pensar. Fixa os seus olhos cor de céu nos meus e o que parece ser uma doce eternidade, rapidamente termina quando vejo Sara ao lado dele e desvio olhar, embora saiba que ainda estão a olhar para mim. Talvez tenha exagerado no modelito para esta noite, penso e dou um sorriso discreto. Quando termino de descer as escadas, é André quem entra e dá um assobio, dizendo num tom de voz claramente exagerado:

— Sol, meu doce mais doce, parece que voltei no tempo. Estás linda como sempre, acho que me apaixonei por ti outra vez. — Ok, eu sei que estou um pouco diferente da minha aparência habitual, mas o André fala bem alto como se o quisesse firmar perante alguém e pega-me a colo rodopiando-me como uma criança pequena e eu desato a rir com a sua atitude. Sei que ele nutre por mim um grande carinho e que, ao longo dos anos, embora não nos víssemos muitas vezes, falávamos praticamente todas as semanas. No entanto, às vezes, em situações como esta, fico a pensar se mais do que demonstrar o seu carinho por mim, o objetivo dele não será implicar com o irmão e com os meus pais que detestam este tipo de manifestação. Na verdade, ele torna tudo bem mais divertido.

Antes do jantar, ao som de música ambiente, Eva, que também foi convidada, conversa com Clara, Sara e a minha mãe sobre o mais recente hobbie da minha mãe, camélias raras. Sara olha para a minha mãe com a cara mais interessada do mundo. Não sei está a fingir, se sim, finge muito bem. O meu pai conversa com Mateus e com Joseph, sobre a abertura de capital de uma multinacional qualquer e eu, encostada na varanda, finjo comtemplar o que a vista alcança.

André surge ao meu lado, entrega-me uma mimosa e num tom sério diz:

— Nós deveríamos casar, sabes?

Não consigo evitar e dou uma gargalhada estridente, o que faz todos olharem repentinamente na nossa direção.

— Estás a ver como olham para nós? – continua ele. — Somos os únicos a sobrar por aqui. Suportamo-nos, o que já é bem melhor que a maioria dos casais e conversamos sobre tudo. Seríamos um casal perfeito.

— André, tu ligas-me a contar como a Susana é a paixão da tua vida e não quer nada contigo porque tu só fazes merda e eu conto-te o quanto eu ando perdida enquanto fujo do mundo e bem... faço merda.

Imperfeitamente PerfeitosOnde histórias criam vida. Descubra agora