novembro 2019

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Henry 🍞

Olho minha padaria com atenção lembrando do dia que resolvi continuar com o trabalho da avó de Anna, das mudanças que aquela profissão tinha causado na minha vida.

Se eu tivesse ficado em Jersey eu seria um engravatado, em um apartamento frio, provavelmente divorciado e com uma ex mulher louca. Eu seria como meu pai, mas sem uma esposa maravilhosa como minha mãe era.

Deixa-la para trás foi uma das piores decisões que eu precisei tomar na minha vida, mas o que eu poderia ter feito? Aos 25, dependendo do meu pai para tudo, vendo minha irmãzinha ser expulsa porque o cretino tinha descoberto que um garoto a tinha chamado para um encontro.

Tento não pensar nos reais motivos por trás disso, apenas eu sabia o porque de Anna ter sido mandada embora da casa onde era nosso lar.

E essa foi a razão de eu ter largado tudo por ela, eu não seria como o meu pai, nunca.

Agora eu tenho um emprego que eu amo e me faz feliz, amigos espalhados por uma cidade inteira, e minha prima está feliz. Só faltava uma coisa...coisa não, pessoa.

Fazia um ano já, um ano sem notícias.

Nas primeiras ligações a mãe dela ainda atendia e eu escutava Mia gritar que não queria falar comigo, depois sempre fui atendido pela caixa postal, até que o número foi retirado de linha.

Eu sei que devia ter desistido, sei que provavelmente estaria me humilhando a toa, mas algo no meu coração me impedia de a largar.

—Quer carona até o aeroporto? —Anna surge me retirando de meus pensamentos e nego devagar abraçando os ombros dela. —Vou sentir sua falta garotão.

—Vou sentir sua falta também pimentinha, cuide bem da minha padaria. —beijo a testa dela sabendo que ela cuidaria de tudo como sempre.

—Serão só dois ou três meses Henry, não vou perder a padaria no poker. —ela revira os olhos e rio baixinho.

—Você poderia vir junto, mamãe convidou você. —a observo vendo sua careta culpada, mas eu entendia porque ela não queria voltar. —Vou avisar que você mandou muitos beijos pra ela, e dar todos os abraços que pediu. —sussurro apertando as bochechas dela.

—Se divirta lá, por favor. —ela fala abafado e rio baixinho concordando. —Não é todo dia que seus pais fazem 45 anos de casados.

Com todas as traições? Não, não é mesmo...

—Só posso prometer não bater em ninguém, nada mais que isso. —pisco a fazendo rir mais alto e suspiro pegando minha mala. —Não esqueça de assar os pandoros, estão todos congelados na câmera fria.

—Vai logo Henry, preciso de paz sem você. —ela me mostra o dedo do meio e aquela é nossa despedida.

Jersey ai vou eu.

[...]

Desço do táxi agradecendo ao motorista enquanto pego minha mala no porta malas antes de caminhar pela entrada feita de um gramado bem cuidado.

—Henry chegou, Henry chegou, meu bebê...—escuto a voz da minha mãe gritar antes mesmo de eu ter passado o primeiro conjunto de flores. —MEU BEBÊ.

Largo a mala no chão assim que vejo a loira alta correndo descalça em minha direção, a agarrando assim que se atira em mim e respiro o perfume dela.

Ela tem cheiro de amor.

—Mamãe...—sussurro a afastando para olhar seu rosto com atenção sorrindo quando toca meu rosto com as duas mãos.

Dolce Pandoro - ConcluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora