Há um peso estranho sobre minha barriga quando desperto do que parece ser o pior sono que tive durante minha vida toda, minha boca está seca, a língua é pesada contra meus dentes e meu corpo parece desconectado dos nervos em meu cérebro.
Ergo a mão colocando sobre o peso em meu abdômen parando ao sentir cabelos macios e levemente cacheados, uma mão encontra a minha e sinto a forma de uma aliança contra minha pele enquanto um soluço escapa dos meus lábios.
Henry... Meu doce padeiro.
Aquela dor era uma velha conhecida minha, o desespero, a angústia de mais uma derrota. Perder cada um dos bebês do meu primeiro casamento me deixou devastada e eu pensei que nunca iria me recuperar, mas eu me recuperei.
Mas aquele bebê... Aquele era uma parte do meu Henry, é como se metade do meu coração estivesse sendo arrancado enquanto a outra ainda está quebrada. Eu não posso viver em um mundo onde nosso filho, o filho que eu sabia da possível existência a menos de um dia, não viva.
Não posso suportar isso, não posso suportar que Joe tenha me tirado isso. Não é justo.
—Mia — a mão sobe até meu rosto quando o peso sai de cima de mim e outro soluço escapa de meus lábios, abro meus olhos encontrando aqueles azuis encantadores. Ele está bagunçado, não está mais com a linda camisa azul de antes e sim com uma preta larga, os olhos estão vermelhos e inchados, o que me diz que andou chorando.
Eu fiz Henry chorar... Eu posso aguentar toda a dor, posso passar por todos os processos depois daquilo, posso até lutar para superar, mas não vou suportar ver meu anjo sofrer.
—Eu...eu...— gaguejo entre os soluços apertando minhas mãos no lençol, minha língua ainda está pesada.
—Shh... — o polegar dele limpa minha bochecha e solto mais um soluço estrangulado. — Mia? — ele franze a testa e em poucos instantes estou sentada e sendo pressionada contra o peito musculosos dele. — Estou aqui... Estou aqui meu amor. Tudo acabou, ele foi preso e expulso do país, você não precisa mais ter medo. — as palavras são sussurradas contra meus cabelos enquanto uma mão passa por minhas costas e a outra envolve minha cintura.
Tento encontrar o alívio que suas palavras deviam me trazer, mas não importa mais o que acontece com Joe. Ele conseguiu me quebrar novamente, na primeira vez em que o enfrentei e ele me destrói da pior maneira.
Meu bebezinho...
—Eu...eu sinto muito. — forço as palavras a saírem da minha boca seca e através dos soluços. — Eu...eu.. eu não devia ter lutado.. e.e.ele conseguiu...
—O que? — a mão para com o carinho nas minhas costas e sobe até o meu rosto erguendo o mesmo para seu olhar. — Você lutou Amélia, você sabe como estou orgulhoso de você farfalla? Você derrubou ele com esses lindos punhos. — a outra mão segura minha mão e beija meus dedos me fazendo perceber que estão machucados, o que só me faz chorar mais ainda.
—Se eu tivesse ficado quieta o.. o..— respiro fundo pensando na pequena coisinha que devia ser menor que um grão de feijão agora e minha mão desce de volta para minha barriga enquanto sufoco enterrando o rosto no peito de Henry. — eu não tive tempo de amar ele Henry, não tive tempo de imaginar o rostinho, os olhos ou qualquer outra coisa, Joe tirou isso de mim outra vez. E dessa vez dói mais, porque era o nosso be... — a palavra simplesmente não saí. — Era seu Henry, e eu o amaria dez vezes mais por isso.
É errado dizer isso? Dizer que eu amaria mais esse bebê do que os outros?
—Amore. — nego com a cabeça não querendo mais falar, eu queria me encolher ali até as lágrimas secarem e tudo que eu irei sentir seja o topor do luto, a inércia da dor. — Você sabia que está grávida?
—Eu juntei as peças de manhã, os enjoos, os desejos por doces, o te..te...— minha voz morre ao perceber o tempo verbal que ele escolhe. Está! Presente.
—o tesão? — a o indício de um sorriso na voz dele e ergo a cabeça me sentindo tão perdida que as lágrimas nem me importam mais.
Ele está sim sorrindo, um sorriso largo e com um brilho atrás dos olhos cansados.
—Eu... Henry? — minha voz não passa de um sussurro e a mão dele envolve a minha em minha barriga. — Mas...
A dor... Eu nunca vou me esquecer aquela dor.
—Eu quase perdi vocês dois, foram horas numa sala de espera enquanto eles tinham você em uma sala de cirurgia. — a voz dele quebra em alguns momentos. — Você perdeu muito, muito sangue, droga tinha tanto sangue. — Henry olha a mão como se estivesse vendo mais do que a pele branca de seus dedos. — mas o bebê...
Prendo a respiração quando ele diz a palavra que minha própria boca estava evitando. Meu bebezinho, meu pequeno milagre?
—Eu não... Perdi? — sussurro com as lágrimas rolando com uma intensidade nova agora.
—Não, por Deus, não meu amor — uma mão segura meu abdômen novamente e os olhos dele também estão molhados. — A doutora disse que vocês são um milagre da medicina.
—Eu não devia estar grávida. — sussurro me encolhendo contra o peito dele. — Com as pílulas, o meu passado e todo o resto, deveria ser impossível.
Meu pequeno milagre.
Hoje pela manhã eu não estava pronta para aquilo, não estava pronta para discutir com Henry. Eu não queria aquele bebê porque no fundo me sentia traindo a memória dos que perdi, como se eu pudesse ser feliz sem eles. Mas agora, agora que pensei que o perdi... Eu amo essa coisinha tanto quanto amo o pai dele, mais até.
Ele nunca me abandonaria ou partiria meu coração.
—Eu tinha reparado no que estava acontecendo com seu corpo, mas pensei que fosse o estresse da terapia e efeito das pílulas. — a mão continua na minha barriga enquanto ele fala lentamente. — Sei que você não está pronta, sei que provavelmente nunca vai estar por causa do seu passado, eu entendo isso. E vou entender se você quiser tirar — a voz dele trava e Henry respira fundo duas vezes, minha própria voz está presa. Ele está me dando escolha? — Não estou colocando a decisão nas suas mãos, só estou te deixando ciente de que estarei aqui para te apoiar.
Ele... O que ele está dizendo?
—Você não quer? — me afasto com uma nova onda de desespero no meu corpo. E se Henry não estiver pronto? E se ele não amar meu feijãozinho?
—Você não me entendeu... — ele nega rápido e segura meu rosto com as duas mãos. — Eu descobri a existência dessa criança a sete horas, vinte minutos e alguns segundos Amélia, e essas tem sido as horas mais completas da minha vida inteira. Amar esse bebê é como respirar para mim agora, minha vida com você faz meu coração bater como se nunca fosse parar, e agora o sangue começou a correr por minhas veias. Por vocês mia farfalla. — Henry esfrega minhas bochechas enquanto prendo minha respiração.— Pensar que eu poderia perder vocês me deixou tão devastado que eu liguei para o meu pai, liguei para o idiota do meu pai pedindo socorro. — o encaro chocada e solto um suspiro. —Mas nada disso importa se você estiver machucada Amélia, é o seu corpo, são seus traumas. Eu não posso dizer que quero esse filho se isso vai te enfiar num buraco de ressentimento e...
—Shh. — coloco um dedo na boca dele respirando fundo. — Sim, eu ainda não superei meu passado. Mas... É nosso bebê Henry. — solto um sorriso lento e choroso. — Ele vai ser amado e protegido como os outros não seriam, ele vai ter uma infância maravilhosa e vai saber o quanto o pai é perfeito. — impeço ele de falar mais algo porque não terminei. — Eu estou pronta Henry, estava pronta antes de saber que estou.
—Tem certeza?
Concordo com a cabeça voltando a deitar o rosto no peito dele chorando novamente, agora por motivos e razões diferentes.
Eu sentia... Sentia que ali começava meu final feliz, a minha paz.
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Essa autora quer avisar que não está nada pronta para finalizar essa história
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Dolce Pandoro - Concluída
Roman d'amourFamília são aquelas pessoas com quem escolhemos passar nossos melhores e os piores momentos. Lar não necessariamente precisa ser um lugar. Pode ser uma pessoa, um país, cada um tem sua própria definição. Para Amélia Andrews essas duas palavras signi...