novembro de 2021

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Desço do táxi devagar e com cuidado segurando a cabeça da bebê para a proteger de toda a neve que começava a cobrir as calçadas, agradeço quando o taxista me entrega minha bolsa e beijo a testa de Antonella quando a mesma resmunga batendo uma mão gordinha contra o meu pescoço.

Ela era tão perfeita, tão linda, com aqueles olhos maravilhosos.

—Vamos visitar o papai? — pego a mão dela dando beijinhos em seus dedos conforme ando com cuidado dobrado agora. As memórias dos tombos que tomei na frente do prédio laranja e de todas as broncas que levei por não me cuidar me deixam sorrindo feito boba.

Quatro anos e aquele lugar ainda me fazia sentir como na primeira vez.

—Tenho absoluta certeza do que estou dizendo...— a voz do meu marido entra nos meus ouvidos assim que passo pela porta e o sino toca sobre minha cabeça. Toni fica agitada ao ouvir Henry e tenta se virar em seu canguru que a prendia contra o meu peito.

Eu a carreguei por oito meses e é como se eu só fosse um par de peitos para ela mamar quando o pai dela está por perto.

Permaneço em silêncio enquanto faço meu caminho até os homens que discutiam sobre algo que não consigo entender, passo disfarçadamente por trás do cliente antes de sorrir para ele ao dar a volta no balcão e parar ao lado do meu homem.

Henry veste um avental por cima de uma camisa branca de botões, o rosto franzido relaxa quando Toni se estica e bate a mãozinha no braço dele, um sorriso lindo crescendo no rosto apesar da expressão fechada.

Sexy e quente, eu sou sortuda pra caralho.

—O que está acontecendo? — pergunto sentindo o clima tenso entre os dois e seguro a bebê mais perto de mim por instinto. — Algo errado aqui?

—Não se preocupe. — Henry me olha sorrindo um pouco mais antes de tocar a cabeça coberta pela toca da bebê. —o senhor Boggs já estava de saída. Não é senhor? — uma sobrancelha se ergue em direção ao homem que me encara com curiosidade.

—Você está fazendo uma péssima escolha Cavill, péssima. — o homem fala com a voz dura e fria, os olhos ainda em mim. — Diga ao seu marido que o melhor a se fazer é desistir!

O que?

—Desistir? — olho para o Henry preocupada de verdade agora e coloco uma mão no braço dele. — Do que ele está falando?

Algo está errado? É sobre nossa família? Anna?

—o hotel aqui do lado quer expandir pelo quarteirão...— o queixo de Henry se aperta junto com um punho enquanto encara o outro homem. — eles compraram alguns prédios já...

—Mas essa espelunca é o prédio mais perto do hotel e está atrapalhando nosso avanço com o resto dos moradores. Ninguém quer ficar longe desse lugarzinho. — o homem interrompe a explicação dele e é minha vez de fechar a cara.

Penso em todos os nossos momentos naquele lugar, as manhãs durante o café da manhã, as noites tomando vinho e comendo pizza, o lugar que decidi que Henry não poderia continuar sendo só meu amigo, as vezes que cuidei de seus machucados quando ele se queimou. A padaria era uma parte importante da nossa vida e eu nunca imaginei viver sem ela, era aqui que Antonella iria aprender a caminhar, brincar e conviver com outras pessoas.

—E eu mandei eles enfiarem a proposta no buraco mais dolorido que acharem. — Henry acaba com meus medos enquanto o homem o encara com raiva.

—Você vai se arrepender disso. — murmura e ergo uma sobrancelha.

—Querido, você pode pegar a Toni? — pergunto docemente enquanto tiro a bebê do canguru e Henry logo a pega me olhando confuso. — Você tem razão Senhor Boggs, porque não vamos ter uma conversinha? — peço arrumando minha camisa por baixo dos panos que estavam suspendendo Antonella antes.

Dolce Pandoro - ConcluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora