março 2018 pt2

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Giro na cama sem conseguir dormir nem por um segundo, minha mente estava presa a horas atrás, na sensação que sempre vinha ao pensar nele, no meu passado, das coisas de quais eu fugi por quase três anos.

Me levanto devagar e caminho para fora do quarto cuidando para não fazer nenhum barulho, olho o colchão no centro da minha sala, o corpo largado em cima de forma relaxada.

Ele tinha ficado ali, comigo, apenas porque eu pedi. E me fizera companhia, mesmo que em silêncio até o sono o dominar.

Abro o armário da cozinha pegando uma xícara e vou até a geladeira a abrindo, um pouco de leite e açúcar, era disso que eu precisava para acalmar meus demônios. Deixo o leite esquentando enquanto penso em tudo que eu ainda escondia de Henry e Anna, meus segredos e dores.

Balanço a cabeça desligando o fogo e apago a luz da cozinha indo até onde ele dormia, me sento do lado do colchão e levo meus dedos aos cabelos dele.

—Henry? —chamo baixinho com medo de estar incomodando ele. — Você está muito cansado?

Silêncio...

Respiro fundo mordendo meu lábio, eu devia tentar dormir e deixar que ele faça o mesmo.

—Uhn... —o murmuro dele me impede de levantar e sorrio tímida quando ele se vira me encarando apenas na luz que vinha da rua pela janela. —Esta tudo bem?

Eu não sabia como era possível, mas ele ficava ainda mais adorável com aquela carinha de sono e os cabelos bagunçados, cabelos esses que eu ainda tocava.

—Eu só... —suspiro recolhendo a mão começando a brincar com meus dedos. —Você pode me escutar?

Eu sentia que só ele ia entender o que estava acontecendo.

—Se você estiver pronta para falar. Sempre estarei aqui para te escutar Mia. —os olhos não deixam o meu rosto por nenhum segundo enquanto ele vai um pouco pro lado batendo no colchão.

Rio baixinho e me deito ao lado dele olhando para o teto enquanto organizo meus pensamentos para ser o mais coerente possível.

—Eu sou fruto de um golpe da barriga. —sussurro sabendo que ele pode me ouvir e está me olhando, mas não tenho coragem de olhar o mesmo para ter certeza. —Meu pai era o herdeiro de uma das maiores editoras de Londres, apaixonado por todos os tipos de leitura, por novos escritores, pela vida.

—Ele deve ser um homem muito inteligente. —a voz de Henry se mantém no mesmo volume que a minha e suspiro.

Ele tinha sido, menos em relação a minha mãe.

—Minha mãe era uma escritora independente, louca para publicar seus livros, ela só não tinha... Talento. —faço uma careta por ter que falar aquilo. —Ela estava procurando alguém que arriscasse a aceitar um de seus manuscritos quando conheceu ele. 

—Eles se apaixonaram? —viro o rosto vendo a expressão confusa no rosto dele e nego com a cabeça.

—Meu pai se encantou com a beleza dela, mas para Esther ele era só uma carteira cheia de oportunidades. —me encolho um pouco. —Ela o seduziu e engravidou.

—De propósito? — ele não parecia querer acreditar.

—Ela nunca negou, principalmente depois que ele morreu... —respiro fundo com a lembrança dolorosa. —Ela nunca escondeu de mim que eu não era amada, que era apenas um utensílio para ela ganhar dinheiro.

Não quero olhar para ele, não quero ver a expressão de pena que devia estar em seu rosto agora.

—Mia. —respiro fundo e logo uma mão toca meu rosto o virando para o lado. —Estou aqui.

Dolce Pandoro - ConcluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora