Duas semanas haviam se passado, e a cada novo dia um pequeno detalhe daquela cidade me fazia querer ficar ali para sempre. Cada nova descoberta me deixava encantada e com a sensação de que finalmente tinha encontrado meu lugar.
Entro no prédio cor de laranja que tinha se tornado o meu favorito no mundo todo e sou atingida pelo cheiro de hortelã e canela.
Uma mistura que ele usava para enfeitar alguns bolinhos que eram sua marca registrada na cidade inteira.
-Buongiorno signorina! -a voz de Henry chega a meus ouvidos e sorrio largo indo até o balcão.
-Buongiorno, panettiere. - respondo usando a palavra que tinha descoberto um pouco antes de dormir noite passada.
-Vejo que as aulas estão evoluindo. -ele tem um sorriso orgulhoso no rosto quando me olha. -Daqui a pouco está falando melhor do que eu.
-Aposto que sim. -rio olhando o balcão com atenção agora.
-Torta de maça com sorvete? - ele me pergunta exatamente o que estou pensando e rio concordando. -Eu sempre acerto...
Sempre mesmo.
-Então, vai me contar porque está na Itália ou ainda vai manter segredo? -o olho curiosa fazendo minha melhor cara fofa, vendo o mesmo rir com mais vontade.
-Desista... Ele está aqui a dois anos e nunca me contou. -viro encarando a mulher ruiva ao meu lado de maneira confusa.
-Anna, não assuste nossa nova visitante. -Henry volta com meu pedido encarando a mulher.
Oh...
-Porque? Você não assustou ela o suficiente com esse seu jeito estranho? -olho de um para o outro sem entender o que está acontecendo.
-Eu fui um perfeito cavalheiro, como minha mãe me ensinou. -Henry empina o nariz de forma convencida e sou obrigada a soltar uma risadinha.
-Eu achei que você fosse me sequestrar umas três vezes. -a mulher solta uma risada alta ao ver ele fazer uma careta.
-Você que parecia uma louca correndo atrás daquele mapa. -ele me mostra a língua e seguro outra risada.
-Que fofos. -viro meu rosto para ela de novo erguendo uma sobrancelha. -Fazia muito tempo que não aparecia alguém que não fale xingando por aqui...
Ah o talento magnífico dos italianos para falar como se estivessem irritados sempre.
-Nem me fale... Ontem a síndica jogou um copo de água em mim porque perguntei onde poderia me refrescar. -murmuro vendo os dois rirem e reviro meus olhos.
-Sou Anna Dalgliesh -ela estende a mão para mim sorrindo largo. -E você deve ser a Mia, nosso padeiro falou muito sobre a nova amiga.
Encaro ele surpresa vendo como parecia envergonhado.
-Olha só, está na hora de fazer umas entregas. -Henry fala alto tirando o avental. -Anna, a missão de mostrar a cidade para ela hoje é sua... Até a noite.
Oh...
-Até. -ela acena enquanto me puxa até uma das mesas perto das janelas.
Me sento em silêncio começando a comer minha torta ouvindo a mulher bater as unhas na mesa parecendo nervosa .
-Tudo bem? -a encaro com atenção limpando minha boca com um guardanapo.
-Tudo, sim. -ela concorda fazendo os cabelos vermelhos balançarem juntos. -Henry mencionou que você é professora.
-Isso... Literatura Inglesa. -concordo surpresa por ele ter contado coisas sobre mim para ela. -Por que?
-Eu sou professora de história em uma escola infantil... Estamos precisando de uma professora. Por isso Henry falou sobre você.
-Mas, eu não falo italiano. -murmuro sincera terminando de comer.
-As aulas só começam depois do natal, até lá você acha que estará fluente?
Isso era um desafio?
-Sim. -respondo rápido vendo um sorriso crescer na boca dela.
-Me espere pronta amanhã, te levarei para uma entrevista de emprego. - Anna fala de forma firme e suspiro.
-Porque está me ajudando? Sei que o Henry deve ter falado bem de mim, mas vocês nem me conhecem. -murmuro sem estar acostumada com tanta gentileza. -Aliás, ainda não sei se seu namorado bate bem da cabeça.
-Namorado? -ela faz uma careta e franzo a testa. -Henry?
-É. -murmuro confusa ao ver a careta dela piorar. -O que?
-Henry é meu primo. Não somos um casal.
-Ah...-esfrego minha testa envergonhada agora e a escuto rindo baixinho.
-Eu sei, somos muito próximos mesmo. Aquela história dele não me falar o motivo de estar aqui era brincadeira. -Anna explica e concordo com a cabeça em sinal de que tinha entendido.
-Estou morrendo de vergonha agora. -sussurro a olhando sem saber o que falar e ela ri mais ainda.
-Relaxe Mia, você não é a primeira a achar isso, na verdade foi a única a falar diretamente. As pessoas gostam mais de falar pelas costas. -ela pega minha mão apertando e sorrio.
De alguma forma, da mesma maneira que acontecia com o primo, Anna me fazia sentir aceita, querida e em casa.
-Tudo bem, vamos conversar sobre o trabalho. Como é essa escola?
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Dia 1
Respiro fundo antes de entrar na padaria perto da hora de fechar, conseguia ouvir o Henry fechando as janelas perto do terraço.
-Estamos fechando. -a voz dele chega a mim e sorrio me encostando no balcão.
-Até para mim? -pergunto divertida ouvindo um barulho novo e um "ai" baixo. -Henry?
-Um segundo. -ele murmura e logo aparece com uma marca vermelha na testa.
O que?
-Você deixou a janela da cozinha fechar na sua cabeça de novo? -seguro minha risada vendo ele fazer uma careta.
-Cale a boca. -me mostra o dedo do meio e rio sem som erguendo uma sobrancelha. -O que você quer uma hora dessas?
Okay, era agora...
-Quanto ta sua baguete mesmo? - consigo fazer minha voz sair naturalmente, segurando a vontade de me jogar na frente do primeiro carro que passasse na rua ao ver a expressão dele continuar igual.
Eu te odeio Anna.
-A baguete? -ele vai até onde ficam os pães com uma expressão concentrada.
Deus...
-isso, sua baguete. -repito sorrindo de lado. Sorriso esse que ele não vê porque está enrolando o pão em um papel antes de me entregar.
-Pode levar de graça, está sobrando mesmo. -da um daqueles sorriso gentis que me fazem derreter.
Ele era... Okay, talvez não tenha sido tão na cara. Amém.
-Obrigada Henry, você é o melhor. -beijo a bochecha dele e saio apressada da padaria.
Eu nem gosto de baguete.
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Dolce Pandoro - Concluída
RomanceFamília são aquelas pessoas com quem escolhemos passar nossos melhores e os piores momentos. Lar não necessariamente precisa ser um lugar. Pode ser uma pessoa, um país, cada um tem sua própria definição. Para Amélia Andrews essas duas palavras signi...