novembro 2017

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Duas semanas haviam se passado, e a cada novo dia um pequeno detalhe daquela cidade me fazia querer ficar ali para sempre. Cada nova descoberta me deixava encantada e com a sensação de que finalmente tinha encontrado meu lugar.

Entro no prédio cor de laranja que tinha se tornado o meu favorito no mundo todo e sou atingida pelo cheiro de hortelã e canela.

Uma mistura que ele usava para enfeitar alguns bolinhos que eram sua marca registrada na cidade inteira.

-Buongiorno signorina! -a voz de Henry chega a meus ouvidos e sorrio largo indo até o balcão.

-Buongiorno, panettiere. - respondo usando a palavra que tinha descoberto um pouco antes de dormir noite passada.

-Vejo que as aulas estão evoluindo. -ele tem um sorriso orgulhoso no rosto quando me olha. -Daqui a pouco está falando melhor do que eu.

-Aposto que sim. -rio olhando o balcão com atenção agora.

-Torta de maça com sorvete? - ele me pergunta exatamente o que estou pensando e rio concordando. -Eu sempre acerto...

Sempre mesmo.

-Então, vai me contar porque está na Itália ou ainda vai manter segredo? -o olho curiosa fazendo minha melhor cara fofa, vendo o mesmo rir com mais vontade.

-Desista... Ele está aqui a dois anos e nunca me contou. -viro encarando a mulher ruiva ao meu lado de maneira confusa.

-Anna, não assuste nossa nova visitante. -Henry volta com meu pedido encarando a mulher.

Oh...

-Porque? Você não assustou ela o suficiente com esse seu jeito estranho? -olho de um para o outro sem entender o que está acontecendo.

-Eu fui um perfeito cavalheiro, como minha mãe me ensinou. -Henry empina o nariz de forma convencida e sou obrigada a soltar uma risadinha.

-Eu achei que você fosse me sequestrar umas três vezes. -a mulher solta uma risada alta ao ver ele fazer uma careta.

-Você que parecia uma louca correndo atrás daquele mapa. -ele me mostra a língua e seguro outra risada.

-Que fofos. -viro meu rosto para ela de novo erguendo uma sobrancelha. -Fazia muito tempo que não aparecia alguém que não fale xingando por aqui...

Ah o talento magnífico dos italianos para falar como se estivessem irritados sempre.

-Nem me fale... Ontem a síndica jogou um copo de água em mim porque perguntei onde poderia me refrescar. -murmuro vendo os dois rirem e reviro meus olhos.

-Sou Anna Dalgliesh -ela estende a mão para mim sorrindo largo. -E você deve ser a Mia, nosso padeiro falou muito sobre a nova amiga.

Encaro ele surpresa vendo como parecia envergonhado.

-Olha só, está na hora de fazer umas entregas. -Henry fala alto tirando o avental. -Anna, a missão de mostrar a cidade para ela hoje é sua... Até a noite.

Oh...

-Até. -ela acena enquanto me puxa até uma das mesas perto das janelas.

Me sento em silêncio começando a comer minha torta ouvindo a mulher bater as unhas na mesa parecendo nervosa .

-Tudo bem? -a encaro com atenção limpando minha boca com um guardanapo.

-Tudo, sim. -ela concorda fazendo os cabelos vermelhos balançarem juntos. -Henry mencionou que você é professora.

-Isso... Literatura Inglesa. -concordo surpresa por ele ter contado coisas sobre mim para ela. -Por que?

-Eu sou professora de história em uma escola infantil... Estamos precisando de uma professora. Por isso Henry falou sobre você.

-Mas, eu não falo italiano. -murmuro sincera terminando de comer.

-As aulas só começam depois do natal, até lá você acha que estará fluente?

Isso era um desafio?

-Sim. -respondo rápido vendo um sorriso crescer na boca dela.

-Me espere pronta amanhã, te levarei para uma entrevista de emprego. - Anna fala de forma firme e suspiro.

-Porque está me ajudando? Sei que o Henry deve ter falado bem de mim, mas vocês nem me conhecem. -murmuro sem estar acostumada com tanta gentileza. -Aliás, ainda não sei se seu namorado bate bem da cabeça.

-Namorado? -ela faz uma careta e franzo a testa. -Henry?

-É. -murmuro confusa ao ver a careta dela piorar. -O que?

-Henry é meu primo. Não somos um casal.

-Ah...-esfrego minha testa envergonhada agora e a escuto rindo baixinho.

-Eu sei, somos muito próximos mesmo. Aquela história dele não me falar o motivo de estar aqui era brincadeira. -Anna explica e concordo com a cabeça em sinal de que tinha entendido.

-Estou morrendo de vergonha agora. -sussurro a olhando sem saber o que falar e ela ri mais ainda.

-Relaxe Mia, você não é a primeira a achar isso, na verdade foi a única a falar diretamente. As pessoas gostam mais de falar pelas costas. -ela pega minha mão apertando e sorrio.

De alguma forma, da mesma maneira que acontecia com o primo, Anna me fazia sentir aceita, querida e em casa.

-Tudo bem, vamos conversar sobre o trabalho. Como é essa escola?

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Dia 1

Respiro fundo antes de entrar na padaria perto da hora de fechar, conseguia ouvir o Henry fechando as janelas perto do terraço.

-Estamos fechando. -a voz dele chega a mim e sorrio me encostando no balcão.

-Até para mim? -pergunto divertida ouvindo um barulho novo e um "ai" baixo. -Henry?

-Um segundo. -ele murmura e logo aparece com uma marca vermelha na testa.

O que?

-Você deixou a janela da cozinha fechar na sua cabeça de novo? -seguro minha risada vendo ele fazer uma careta.

-Cale a boca. -me mostra o dedo do meio e rio sem som erguendo uma sobrancelha. -O que você quer uma hora dessas?

Okay, era agora...

-Quanto ta sua baguete mesmo? - consigo fazer minha voz sair naturalmente, segurando a vontade de me jogar na frente do primeiro carro que passasse na rua ao ver a expressão dele continuar igual.

Eu te odeio Anna.

-A baguete? -ele vai até onde ficam os pães com uma expressão concentrada.

Deus...

-isso, sua baguete. -repito sorrindo de lado. Sorriso esse que ele não vê porque está enrolando o pão em um papel antes de me entregar.

-Pode levar de graça, está sobrando mesmo. -da um daqueles sorriso gentis que me fazem derreter.

Ele era... Okay, talvez não tenha sido tão na cara. Amém.

-Obrigada Henry, você é o melhor. -beijo a bochecha dele e saio apressada da padaria.

Eu nem gosto de baguete.

Dolce Pandoro - ConcluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora