A Liberdade

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Blyana entrou na sala depois de tanto pensar.

Todos estavam lá na sala central, aparentemente eles estavam em uma reunião familiar, normalmente a regra imposta era subir e ficar lá no quarto até o dia seguinte.

Mais nesse dia ela foi até a sala, arrastando o pé no chão de mármore de forma apreensiva, os sofás claros e mesas escuras davam um contraste com a lareira e a estante, o lugar era bonito e grande, cheio de obras e num espaço mais distante a direita dava a mesa de jantar e o resto como a cozinha, seus olhos estavam acostumados ao local, mas por alguma razão se apegaram a esses mínimos detalhes, como se estivesse a preparar sua fuga.

- Olá - Ela disse engolindo o medo a cada passo.

- Olá jovem senhora, seu noivo saiu faz um tempo - Foi o pai que disse, de forma grossa, como dispensa para a garota.

- Aliás minha filha estou orgulhosa, se casara com quem nós oferecemos, de fato é perfeita! - Disse minha mãe, como se de fato fosse uma oferta não uma ameaça.

- Na verdade foi mais para uma coincidência já que eu tinha uma paixão leve pelo tecelão da cidade, vocês só acertaram no alvo e eu agradeço por isso - Ela foi honesta, talvez até demais.

Todos se moveram a essa fala que Blya deu, contrariou sua mãe e ainda estava atrapalhando o momento.

- Bem filha, estamos em uma reunião familiar, peço que saia para a concluirmos. - Foi o pai que disse e pela primeira vez o Drian não reagia e estava calado, talvez porque ela já estivesse pondo um fim a vida dela ali.

- Eu sei da reunião - Todos soltaram um suspiro exasperado, de fato estavam desesperados para que saísse - Mas tenho algo importante a dizer que é do interesse de todos.

Ela disse e se aproximou ignorando a todos, com um pouco mais de ousadia já que Blya mal era autorizada a ver a reunião e entregou a carta ao pai, sem medo, e ficou de pé só esperando as reações, para o Ronan infelizmente ela teria que contar no dia seguinte.

Mesmo que a decisão que ele soubesse fosse o não, tinha a opção do sim na mente dele, pelo menos deveria ter depois de tudo.

O pai a encarou e depois voltou a ler aquela convocação. Os olhares com segunda intenção acabariam. Ela mal imaginava sua vida fora de lá, ou mudada pela sua competência.

Todos os abusos de autoridade, assédios do pai, xingamentos dos irmãos.

Blyana via e sonhava com tudo até o pai terminar de ler, silenciosamente passando para a mãe, que se demorou mais ainda para concluir.

O homem a encarava com uma espécie de nojo e confusão, quando a mãe, que demorou mais do que o marido pra ler terminou, se ergueu do sofá e se aproximou dela ficando de frente com Blya.

- Isso é um engano querida, mulheres mal entram no exército imagina na montaria Bestial - A mãe disse com escárnio - Você seria a última a ser convocada, é uma bastarda treinada para ser nada mais que uma obediente moça.

- Mãe eu fui.... - Blya ficou pasma com a declaração da mulher.

- Te achei naquela noite fria e resgatei, uma garota porca e mal criada que podia muito bem estragar ou contagiar meus filhos - O pai foi interrompendo e humilhando, Drian no fundo sorria - Para você se tornar essa ingrata que é hoje, nos desrespeitar e ainda acabar com nossa dignidade?!

Blyana ficou calada.

- O que mais você quer hein?! - A mãe continuou - Cresceu e mudou tudo que eu tão cuidadosamente criei, se tornou essa mulher fútil, que já até paquerou meu marido - A Mulher começou a chorar.

Blyana abriu a boca, a mulher estava dizendo que as investidas DELE em uma criança eram culpa da menina, estavam falando que ela era inútil porque era forte agora.

O homem foi consolar a mulher que CHORAVA...
Blyana estava paralisada com o drama, mal sabia onde começar.

- Você é a desgra.. - O Senhor Hathaway mal começou e Blya foi falar.

- Primeiro lugar, esse idiota me assedia desde meus 11 anos e eu fiquei quieta, segundo lugar, vocês nem sequer me assumiram, só disfarçam bondade, eu sempre fui grata a essa família, eu sou uma mulher forte agora e isso incomodou vocês, eu não deixei de ser grata porque vocês me salvaram - Ela deu uma pausa dos gritos que dava - Mais definitivamente vocês não me criaram, me escravizaram.

Ela nunca, jamais tinha explodido daquela forma, sempre aceitou, mas naquele dia não engoliu mais ser rebaixada, Blyana se via num patamar superior, não pelo dragão e nem pelo mestre, mais por tudo que viveu e a jovem ainda é grata a aqueles falsos.

Mal tinha se visto mais os irmãos estavam de pé naquele momento, os pais olhavam mudos, o pai até tremia.

- O QUE VOCÊ DISSE? - Foi o Drian que disse pausadamente.

- S-a-d-i-c-o-s - Ela soletra para ele lentamente - Falsos e sádicos, criaram uma criança como um escravo pessoal e diziam ser pais...somente Sorin e Henry me aceitam, o resto é ....

Um estalo alto e muito forte soou, o pai havia se movido e dado um tapa tão forte no rosto de Blya que a mesma caiu no chão atordoada.

- Ingrata, salvamos você - Ele dizia se aproximando - E é assim que agradece?

- Vocês salvaram sim e eu agradeço já disse - Ela disse sentindo seu rosto formigar - Mais vocês me criaram como escrava após o resgate.

Mesmo ela no chão ele deu um soco, Blyana desviou por reflexo e o homem quase lhe acertou, estalou o chão, ia ser no rosto.

Seu arredor era um caos, o bebê chorava e era consolado pela mãe que nem olhava para a situação, Drian segurava Sorin que tentava impedir o pai de bater em Blya.

- Quer ver o que é sadismo ingrata?! - Ele se aproximava mais, Blyana se arrastava mais para trás tremendo - Quando eu terminar você vai aprender a ser grata e vai voltar a ser a filha bem criada.

Ele a puxou pelas pernas e ergueu seu braço em forma de punho...

Blya fechou os olhos.

Alma de GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora