Alma de Gelo

Madrugada

Blyana passou o resto da tarde caminhando ao redor do Palácio, falando com Nox e até separou um tempo para cuidar de si mesma em seu quarto.

Mas mesmo fazendo essas coisas para si ela conseguiu esquecer os acontecimentos dessa tarde, então conforme o sol se punha e seu cabelo secava Blya passou a procurar em seus livros alguma informação sobre esse estranho ocorrido ao mestre.

Ela estudou por horas e mais horas em busca de algo, porém só o que encontrou foi o nome dito pelo mestre, Grusel, entretanto esse nome pertencia ao primeiro mestre bestial, que havia desaparecido a mais de duzentos anos.

Não fazia sentido algum em sua mente o fator do rei e o Mestre estarem discutindo com a alma do antigo mestre bestial, nem mesmo ela havia achado uma magia que possibilitava essa conexão aos mortos.

E o porquê aquele nome era citado junto a uma ameaça de guerra com o reino.
Mesmo depois de caçar todo o histórico do homem chamado Grusel, lendo vários e vários livros e mitos, nada lhe dava informação.

Sua cabeça girava com vários assuntos e até preocupações, ela mesmo que não tivesse autorização de dizer o ocorrido, decidiu se preparar para o possível conflito a partir da manhã seguinte.

Já no meio da noite, quando Blyana já tinha certeza de ter lido muito mais de vinte livros e passado por fatores históricos de muito mais de duzentos anos finalmente seu corpo se cansou, ela riscou mais um tópico de sua lista e se levantou da cadeira, sua escrivaninha era um caos de papéis e livros empilhados, até sua cama tinha enciclopédias magicas e históricas.
Colocando-as sobre o amontoado de papel Blyana se jogou na cama, exausta, sabia que teria uma curta noite de sono porém aquela pesquisa foi necessária, apesar de ter sido inútil.

Quando sua mente finalmente descansou, quando ela entrava na névoa dos sonhos conturbados e cheios de teorias um som leve de batida a acordou.
Seu corpo deu um salto na cama, seus olhos correndo pelo quarto e chegando na porta, a jovem tinha esquecido totalmente de apagar as velas.

A batida se repetiu, seu coração estava na boca.

Blyana se ergueu, a camisola que havia subido um pouco em sua perna ela arrumou e caminhou até a porta, não havia sons ameaçadores por trás, porém também não tinha som algum, podia ser qualquer um.

Com uma adaga em suas costas (ela havia aprendido a desconfiar até de sua sombra mesmo que estivesse no Palácio) ela tocou levemente a maçaneta fria, a pessoa atrás bateu novamente bastante impaciente, Blya tocou a tranca e desbloqueou a porta, abrindo em seguida em forma de defesa.

Thomas Ryot estava atrás da porta, o rei se assustou ao ver Blyana armada e mirando nele, a garota imediatamente abaixou a arma e fez uma reverencia.

- Senhor o que devo a Honra?

- Olá - Ele parecia inseguro - Espero não ter te irritado.

Ele apontava pra arma de forma temerosa.

- Não senhor, somente me assustei-As bochechas da garota ficaram vermelhas, o rei estava bastante casual - O senhor precisa de algo? - Ela tentou se recompor rapidamente.

- Lhe devemos informações querida, vim buscá-la para nos explicar sobre o ocorrido - O Rei olhava para dentro do quarto - Vejo que fez suas pesquisas...

- Sim senhor - Ela não escondeu.

O homem ainda olhava, seus olhos castanho e azul procuravam por algo, o rei usava uma camiseta e uma calça negra, estava casual em comparação aos seus dias normais.

- Deseja vestir algo antes de ir? - O homem parecia que conversava com uma amiga.

A menina olhou para a própria camisola, não sabia se ficava tímida, se concordava ou se voltava para se arrumar

.
Ela estava entupida de curiosidade, não queria se vestir, porém é algo mais adequado ao se encontrar com o rei...

- Essa noite não seguimos títulos - Ele falou, ao perceber a indecisão de Blyana - Eu e Arion estamos fazendo isso de forma casual, ele nos aguarda em uma sala particular, então, não há vestimenta adequada, somente se estiver desconfortável com a sua.

Bem, em Blya nunca que ela se preocupava com a beleza antes da curiosidade, então ela acabou dando de ombros, fazendo o homem rir.

- Acho que deixamos a senhorita curiosa - Disse sorrindo - Por favor me acompanhe.

O homem fez um gesto com a mão e Blyana o acompanhou, fechando a porta atrás de si e seguindo pelo corredor pouco iluminado.

Normalmente sempre haviam soldados vigiando, entretanto Blya notou que não tinha ninguém lá.

Mesmo nas escadas e até nos corredores seguintes eles caminhavam só, sem uma única alma.

Ele seguia quase como se tentasse relembrar o caminho, e Blyana por timidez, tentou puxar assunto:

- O senhor disse Arion, é um outro soldado? - Ela suspirou no fim de sua fala.

- Arion? - Ele a observou por um momento - Arion é o mestre bestial, me perdoe, esqueço que ele não fala muito seu nome.

Blyana ficou impressionada, ela estava tão acostumada a chamar o outro de mestre que quando ouviu seu nome foi algo raro.

A menina analisou e repassou o nome em sua mente, achava perfeito com o conjunto todo do outro rapaz.

- Porque ele não fala? - Blya deixou seu pensamento escapar.

- Isso é algo mais profundo dele - O rei deu de ombros - Algo complicado de explicar.

Ela ficou vermelha, essa pergunta não foi planejada por Blya, somente era um pensamento em voz alta.

Porém atiçou a imaginação, mesmo descobrindo o nome do homem, a razão por não ser público ainda era desconhecida.

Ela passou a caminhar em silêncio, demorou cerca de dois minutos para chegarem na sala misteriosa.

Assim que o rei abriu a porta, dando espaço para a garota, ela viu o Mestre, ele brilhava pela luz da lua, tinham dois filhotes de dragões com ele, tomando sua atenção.

Um vermelho brincava em seu cabelo enquanto outro marrom estava na mão, sendo acariciado, Arion apresentava um sorriso que Blyana nunca viu, feliz e calmo, como o rei disse, casual.

- Chegamos - O rei anunciou.

O Mestre se virou para eles, seu belo rosto se voltou para a seriedade, o dragão em sua mão reclamou que ele havia parado de mexer seus dedos.

- Boa noite - O Arion respondeu ao rei

- Está sério amigo - Blya entrou enquanto o Thomas falava - Relaxa um pouco.

O mestre sorriu para o rei.

- O assunto é sério meu senhor - O Mestre caminhou do umbral da varanda até a mesa - Pode se sentar senhorita, perdoe-me minha distração.

O rei fechou a porta atrás dele.

- Credo nem parece mais novo que eu - O rei resmungou e a Blyana acabou ouvindo.

A garota se segurou para não rir.

- Eu te escuto perfeitamente majestade - O tom do mestre era sério, porém ele ainda sorria.

- Claro Mestre, vamos começar o assunto antes que não tenhamos honra para termina-lo- O rei andou até a mesa.

- Não devia tê-lo deixado beber - O Mestre comentou resmungando.

Blya deu uma risadinha contida, a menina percebeu em poucos comentários dos dois que de fato eram muito íntimos, ambos olharam para ela curiosos, fazendo a menina se encolher de vergonha.

Ela tentando disfarçar passou a olhar ao redor, tudo era impecável, porém era o cômodo mais simples que ela tinha visto lá, com apenas alguns sofás, tapetes, estantes e a mesa central.

Tudo muito decorado, mais nada era tão lindo quanto a vista vinda da varanda, e a decoração de lá também.

- Bem, podemos começar? - O Mestre perguntou.

- Por favor - Blyana respondeu voltando sua atenção a ele e indo até a mesa para se sentar.

Finalmente saberia o que era o ocorrido da tarde anterior.