Assim que a porta da biblioteca se fechou em suas costas Blya suspirou.
Alguns empregados se encontravam arrumando e limpando o corredor, Blyana sorriu para eles e caminhou casualmente até o fim, abrindo a porta e indo até um saguão daquele andar.
Ninguém a cumprimentava, e ela não fazia questão disso também, principalmente naquele dia.
A cada andar que passava, a Blyana só cumprimentou as rondas, analisando tudo a sua volta, por cuidado, para ter certeza que ninguém a seguia, mesmo sabendo que não havia motivos para isso.
Assim que estava no andar, que seus passos se tornaram mais silenciosos que o rastejar de uma serpente, Blyana esperou a ronda subir o andar e abriu lentamente a porta em frente ao seu quarto, o misterioso lar do possível traidor.
Ela tinha levado cerca de quinze minutos para chegar até lá, então tinha pelo menos cinquenta e cinco minutos até que o Dárius fosse liberado.
O quarto estava iluminado pelo pôr do sol, Blya correu pelo quarto, o cômodo era igual ao dela, por leves diferenças como posicionamento da armadura, bonecos de treino, lado de sua escrivaninha e claro uma enorme bagunça.
Correndo os olhos pelas estantes e livros espalhados pelo quarto ela procurava por qualquer indício, informação ou material que indicasse algo suspeito..(...).
Thomas estava em sua sala, haviam muitos papéis na mesa de carvalho a sua frente, o chá que estava na bandeja de prata que havia pedido em uns minutos estava esfriando enquanto aguardava o rei assinar mais uma das dúzias de folhas.
Ele estava em um nível de tédio tão grande que seu rosto não tinha dificuldade de assumir a sua máscara séria de majestade.
Seu dia tinha sido baseado em averiguar os treinos de todo seu exército, gerenciar seus servos do Palácio e muitos salários, já devia começar a projetar o baile que haverá daqui a três dias e ainda planejar sua reunião com o reino vizinho que será na semana seguinte.
Depois de assinar o papel e quase arrancar a linda tira de ouro de seu cabelo ele se ergueu de sua cadeira, sua roupa tinha belos entalhes em joias que estalaram quando se levantou, sua roupa era branca, se diferenciando da capa azul marinho em suas costas.
A sala em que estava era linda, tinha estantes, cadeiras em veludo, sofás encostados em cada canto e uma enorme janela atrás da escrivaninha, era o local de trabalho porém também o seu ponto de fuga já que ele ficava em uma lateral mais discreta do palácio.
O rei pegou a alça de porcelana e entornou todo o líquido para sua boca, sofrendo um pouco pelo calor, mas não se incomodou por muito tempo, logo já largou a xícara e se jogou em um dos sofás.
Com todo esse trabalho, vendo um possível traidor dentro do Palácio e ainda tendo o peso de uma possível guerra nas costas, o rei sentia vontade de desabar, mesmo seu melhor amigo sempre estando lá com ele, era em momentos como esse que a dor da perda e da solidão mais o machucava.
Seus pais sempre trabalharam em equipe, e o ensinaram desde cedo a fazer o que faz hoje, já que ele era o único herdeiro tinha que aprender.
Porém ele sabia que não seria o último se nada tivesse acontecido daquela forma.
O Rei nunca conheceu seus avós, os de seu pai migraram para o oeste até não se ter mais notícias e o de sua mãe morreram idosos e unidos.
Quando seu pai morreu em batalha junto ao seu tio, defendendo com suas vidas a única terra que acolhe dragões, sua mãe não resistiu muito, meses após a morte de seu marido, mesmo que suas terras estivessem em paz a jovem rainha e herdeira adoeceu, somente resistiu até a escolha dos mestres, após isso, na primeira lua clara ela se despedia de seu filho.
Thomas Ryot já era órfão aos 22 anos, sendo o último e verdadeiro herdeiro, único com o sangue real, o que carrega a obrigação de reviver sua família.
Somente de lembrar lágrimas ja escorriam de seus olhos, sentia falta de seus pais e de trabalhar com eles.
Porém agora ele engoliu e aceitou seu fardo.
Antes que desabasse de vez o homem direcionou sua atenção até a missão da nova garota, que ela trouxesse boas notícias, torcia muito que fosse somente uma falsa impressão de seu amigo, porém Airon nunca falhou...
O rei suspirou e foi até a janela.- E pensar que minha vida destruiria 300 anos de uma história conquistada no sangue e no aço - Ele olhava o sol - Garota, eu torço para que você não falhe...
.(...).
10 minutos, Blyana só tinha dez minutos, ela já tinha lido tudo que podia e caçado até por entre as estantes pistas sobre uma possível traição.
Mas nada apareceu.
Blyana já acreditava friamente que Darius só era um babaca, não deixou de ser leal ao reino.
Quando Blya passou rápido pela escrivaninha pronta para ir ao seu quarto fazer um relatório seu peito se apertou e algo em seu canto de olho chamou sua atenção.
Ela não entendeu, parou e esfregou os olhos, não enxergou direito o que apareceu.
Com pressa caminhou até a mesa, vários papéis se espalhavam por lá, todas anotações de estudo e território, nada que ela também não tenha, Blya ia embora de novo só que notou algo estranho, quando se distanciava, percebeu que algo surgia em meio a zona da escrivaninha, como um símbolo, ou uma palavra.
Ela foi procurando posição para enxergar o que quer que seja essa coisa.
Ela subiu na cama e finalmente achou o foco.Eram 8 linhas atravessadas e paralelas umas às outras, uma leve confusão de tinta preta com uma frase em letra de mão ''Mors ad Heredem''.
O que era aquele símbolo?
E aquelas palavras estranhas?
Blya está sem tempo algum, porém a forma como a pista foi encontrada era impossível de mostrar ao mestre ou de levar a algum lugar, pois tudo ao redor da escrivaninha era a pista, cada livro, roupa, papel e até a caneta na mesa defina cada parte daquele estranho símbolo.
Blyana não podia mover em nada lá, e seu tempo se esgotará em breve.
Quando ela se virou notou também que em sua posição não só se via esse símbolo como no lado oposto tinha um boneco de treino com uma faca cravada na testa...
Ela não sabia se era coincidência ou parte do significado daquela frase, porém aquilo arrepiou seus pelos do corpo, isso fez ela ter certeza que precisava correr com essa notícia.Como a menina iria levar isso até o mestre?
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Alma de Gelo
Fantasy"Mesmo na mais profunda escuridão, na terra profana perante o olhar da morte não vou me render, o fim não será esse, não enquanto não tirar você de lá, minha alma, meu ser, estarei lá até que a única coisa que me reste é a poeira do pior de nossos i...