Alma de Gelo

Já acabou?

A mão do homem estava no alto, o tempo ficou lento enquanto ela analisava o que fazer.

De fato Ronan cheirava a álcool, a roupa cara estava amassada, sua postura estava incerta e nada estável.

Blyana mesmo sabendo da forte alteração não relevou o distrato com ela, vendo a mão dele se aproximar de seu rosto a jovem somente fechou os olhos aceitando o golpe, Blya tinha um plano.

Ela nunca esperou esse ato do homem, mesmo ouvindo boatos sobre a questão dele com álcool Blyana nunca tinha o visto beber ou alterado, a menina até considerou mentira as fofocas ditas, porém foi provado que Ronan se descontrolou nos 2 meses, mostrando que Blya ainda era ingênua e que se iludiu com a "perfeição" da máscara durante anos.

Entretanto hoje Blyana não deixará passar.

O estalo soou poucos segundos depois, o rosto dela ardeu e ele parou vitorioso vendo a reação pacífica da jovem.

- Já até sabe o que merece, não é?! - Ele sorria de forma maníaca - Aceitar você foi meu maior erro, porém se engana se acha que sairá impune! - Ele gritava a todos fazendo um teatro - Sua prostituta arrogante, você vai me pagar.

Ela somente ouvia, quando os sussurros soaram altos Blyana abriu seus olhos, o ódio reinava em seu olhar e sua mão estava sobre a adaga em sua perna, ja seu rosto era a perfeita expressão fria.

Todos que comentavam a cena se calaram verem o olhar.

- Já acabou? - A voz de Blya foi ressaltada com o rugido do dragão de fundo.

Ele a encarou incrédulo, Ronan achava inaceitável a reação de Blyana, para o homem a garota ainda estava noiva e devia mais do que o respeitar já que ele fazia o favor de suporta-la.

Ronan estava cego de ódio, ciúmes e álcool.

- Eu fui obrigado a te aceitar e te dei tudo de mim - Ele gritava no rosto dela, ela quase identificava a marca da bebida no hálito do homem - Eu a amei e na primeira chance você ME TRAIU! EU ESPERAVA POR VOCÊ!

Blyana mexeu no cabelo e arrumou o batom borrado, seus olhos não desgrudaram dele.

- Já acabou? - Ela repetiu a pergunta, sua voz era em tom aveludado.

- Blyana - Nox mandou irritado assim que Blya abriu o laço - Quem foi?!

- Mama? - Ventania estava assustada em seu tom de voz, a pobrezinha parece ter acordado com a sensação do ataque.

- Estou bem, vou lidar com isso - Blya respondeu aos dois.

- Você vai comigo para casa - Ele rosnou.

- Tente - Blya escondeu a adaga nas costas.

Ronan cego e desorientado não notou o ato, sua mão foi diretamente até a cabeça de Blya, tentando alcançar o cabelo.

Nessa aproximação a jovem aproveitou para rapidamente posicionar sua perna atrás das do homem, aproveitando o impulso do movimento ela foi e deu um soco com toda a sua força na boca do estômago dele.

No ato ele tropeçou tossindo e antes mesmo de entender que estava no chão o pé da garota estava sob o peito dele, fazendo impulso para baixo, já a adaga apontava para o pescoço dele.

- Eu disse tente - Blya repetiu pisando mais forte, ela tinha removido o salto daquele pé, era desperdício quebra-lo em Ronan.

O homem tentava buscar ar e se tremia, parecia que iria vomitar.

- Acredito que já tenha acabado - Blyana olhou a multidão enquanto falava.

O público parecia pálido e surpreso, sua equipe já estava por perto e Blyana viu no topo da escada o rei e o Mestre, ambos observando a cena toda.

Ela queria ser discreta, entretanto Ronan sempre gostou de plateia...

Depois de golfar e tossir Ronan a observou pálido, porém irritado.

- Quem você...

- Calado! - Ela pisou mais forte causando gemidos tanto do homem quanto do público.

Blyana estava perdida, aquele ataque foi pessoal e não ao rei, apesar de ser satisfatório ela se expôs demais.

Os pensamentos dela giravam em torno do que ela poderia fazer.

O mestre viu que a situação estava estranha, quando constatou a segurança do rei ele se aproximou para averiguar, deixando o dragão de vigia ao lado de Thomas.
As pessoas se afastaram do mestre enquanto caminhava até Blyana, assim que chegou próximo a menina tirou o pé do peito de Ronan, o rapaz rolou, sem sair do chão tentando se firmar em pé e falhando, Arion soube quem era só pela presença.

- O que aconteceu aqui? - Perguntou Arion frio.

- Ele me atacou - Blyana respondeu - Está alterado por bebida alcoólica, é uma ameaça ao baile.

- Sua cínica! - Ronan rosnou baixo.

- Notoriamente afetado - O Mestre observou.

- Seu...

- Qualquer palavra dita agora será levada a sério e o senhor corre risco de ir a julgamento- O Mestre cortou - Tem certeza que deseja continuar?

Ronan arregalou os olhos observando o mestre que nem sequer virou a cabeça para ele.

O Mestre tinha muitas dúvidas de como encarar aquela situação, porém em pouco tempo solucionou o caso.

- Leve-o a cela senhores - Ele indicou os guerreiros próximos.

- Como?! - Ronan reclamou quando foi erguido.

- Pela afronta e todo o problema causado você cumprirá uma pena ainda não determinada - Ele respondeu à pergunta mal formada do bêbado - Não tem condições de encarar nada nesse estado, devia ter vergonha.

Os guerreiros prenderam as mãos de Ronan e passaram a arrastar ele até a saída mais próxima.

- DIGA ALGUMA COISA BLYANA - Ele gritou em pânico.

- Algo a declarar? - O Mestre perguntou a ela antes de Ronan sair de vista.

- Não senhor, somente minhas desculpas ao ocorrido - Blyana fez uma reverencia ao mestre.

Os guerreiros prosseguiram levando o homem gritando embora.

- Pois bem, por causa do caos peço que se retire - Ele fez um gesto gentil a Blya - Lamento, faço isso somente pelos possíveis desafetos que o homem causou a você.

Blyana confirmou com a cabeça, ela de fato não suportaria mais aquele lugar cheio de burgueses frescos.

Quando Blyana foi passar por entre a multidão, perto do mestre, para ir até o jardim o mestre cochichou em seu ouvido.

- Deixarei o julgamento dele com você guerreira - Ele disse baixo - Amanhã ele é todo seu.

Blyana sorriu maliciosamente e saiu caminhando em direção a porta.
Agora ela esperava o amanhecer ansiosamente.

Quando estava chegando perto do grande arco ouviu-se a voz do Rei restabelecendo o baile, a jovem esperava que todos esquecessem o ocorrido.
Não que ela fizesse questão de alguém de lá de dentro, somente pela paz dela que se preocupava.

Como será o julgamento?