Espiã

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Blyana e Thomas caminhavam pelo corredor, as velas criavam sombras diferentes em cada superfície, somente refletindo nos olhos em quadros ou decorações que eram de metais e joias.


As passadas de ambos eram abafadas pelo tapete vermelho bordado, a menina estava tensa, ela encarava cada detalhe a sua volta tentando relaxar, as perguntas rondavam em sua cabeça, tudo embaralhado com o trabalho que teria no dia seguinte, então Blyana estava sentindo sua cabeça quente.


Thomas apenas caminhava, sereno, até distraído, em alguns momentos ele passava a mão pelo cabelo, fazendo o tom azulado se destacar e seu rosto ser iluminado pelas velas, um belo homem, mesmo com características de cansaço.


Blya mordeu os lábios e olhou para frente, sua coragem morria a cada passo, a garota já havia aparecido de camisola em uma sala fechada com dois belos homens e ainda queria fazer perguntas pessoais...isso era o limite, sua consciência já surtava.


Pela primeira vez em sua vida, depois de suspiros, mexer no cabelo, tossir e quase lançar palavras ao rei ela decidiu ser consciente e escolher outro momento para ter as informações, preferiu a curiosidade que morrer de vergonha.


Quando chegava perto da porta, ela percebeu que o homem a encarava de canto de olho, com um sorriso delicado e zombeteiro.


Blya era a personificação de fantasma de tão branca que ficou ao notar o olhar.

- Um dia minha cara guerreira - Thomas começou assim que parou em frente a porta do quarto de Blya - Vou querer saber o que tanto te chamou a atenção...

Seu olhar foi quase malicioso, porém ao mesmo que bastante respeitoso, pois ele sorria inocentemente.

- Não foi nada demais - Blyana já se auto denominava um tomate - Muito obrigada pela explicação de hoje, farei o meu melhor.

Ela afirmou com a voz trêmula, tentando fugir daqueles olhos Blya já ia abrindo sua porta, ela ouviu uma risada divertida de Thomas enquanto tentava escapar.

- Obrigado pela sua ajuda - O rei fez uma reverencia - Caso queira falar algo para nós, em segredo, use o código do toque no mestre, ou sua magia, para nos dizer, se me encontrar no caminho é só me observar como fez agora pouco que irei entender.

- Sim senhor - Blyana tinha certeza que tirou a força da fala dos confins de sua alma - Tenha uma ótima noite senhor.

- Você também querida - Ele sorriu e acenou a ela enquanto partia - Até breve!

Assim que ela teve certeza que o homem tinha sumido de sua vista a garota entrou correndo e pulou na cama, pronto, Blyana já não sabia como encararia o rei normalmente.


Ela não acreditava que tinha sido tão explícita ao olhá-lo, muito menos viu que ele percebeu, aquilo foi vergonhoso.


Blyana precisou tomar mais um banho e várias voltas na cama para tentar esquecer do que fez naquela noite.


Para sua sorte seus sonhos foram todos baseados nisso.

.(...).

Quando o sol chegou ao seu rosto, e os pássaros a soarem mais altos que o normal Blyana levantou no susto.


Assim que sua consciência retornou ao corpo e ela viu no relógio que estava atrasada em três horas no seu treinamento, a menina voou até seu guarda roupa, no banheiro só se deu ao luxo de lavar o rosto e prender seu cabelo.


Com a mesma velocidade e agilidade ela corria em direção ao campo de treino, com uma oração em mente, justo no primeiro dia de sua observação ao Dárius ela se atrasou.


Ao longe ela viu o Mestre e o Dárius em uma luta forte e agressiva em um dos gramados, muitos dos que treinavam ao redor encaravam a luta (se não olhavam para a garota com cara de quem sabe que ela vai sofrer penalidade).


Ela nem sequer deu cinco passos próximo aos dois e Dárius era arremessado ao chão com força, causando leve falta de ar no homem ao chão e um leve suspiro do mestre, que estava muito levemente suado.

- Não preciso dizer que está atrasada não é Blyana- O Mestre foi em direção a ela.

- Não senhor - Ela respondeu firme.

- Pois bem, perdeu o almoço, passará treinando comigo - Simples assim o Mestre já a puxou para o gramado.

Dárius estava de pé já, e ria dela, mesmo que ele estivesse acariciando suas costelas com dor.

- Eu estava certo - Dárius falou com desdém- Mulher não é pra isso, é muito agressivo para suas unhas...

O Dárius dizia tendo apoio de alguns idiotas que riram em volta, Blya o encarou com ódio e quase respondeu, entretanto foi interrompido.

- Não lembro de ter pedido sua opinião Dárius - O Mestre falou sem olhar para o outro, posicionando a Blya em uma distância certa - Além do mais, não sei de quem você fala, era você que estava agonizando no gramado agora pouco, até agora ela não reclamou, diferente de você que quase chorou.

Os mesmos que riram dela deram gargalhadas do homem, que estava roxo de raiva.

- Se eu ouvir mais alguma gargalhada, riso ou som diferente aos feitos em treinamento - O Mestre agora se preparava para lutar - Farei cada um fazer flexão em estrume de dragão...

E tão simples quanto começou todos voltaram a fazer o que faziam, e Blyana teve certeza que a maioria treinou com mais intensidade que o normal só para fugir da punição.

- E você Dárius, faça exercícios e alongamentos, ainda está muito fraco - o Mestre instruiu.

Assim que Dárius confirmou e fez uma reverencia de respeito para se retirar o Mestre iniciou o treino.
Tinha chegado a vez de a Blya apanhar do mestre...

.(...).

Quando chegou a hora do almoço, que todos se retiraram e Blya já havia caído de todas as formas o mestre agiu, ajudou ela a se erguer do chão.

- Perdão por ser rude, seu atraso foi culpa minha - Ele a ajustava e fingia arrumar a posição dela enquanto falava, mesmo sem ninguém em volta - Porém fique tranquila que hoje te libero mais cedo.

Blya só foi capaz de assentir, ainda estava muito ofegante.

- Preciso que faça uma coisa hoje - O Mestre continuou depois do silêncio, mudando sua posição para cobri-la - Quando sair de seu treino hoje, veja o quarto de Dárius, liberarei ele uma hora depois de você.

Blya o encarou, aquela era a primeira missão como espiã que recebia.

- Busco por algo em especial? - Blya perguntou.

- Algo mágico que você veja fora do comum, cartas, símbolos ou qualquer sinal de movimento suspeito dele - O Mestre se pôs de pé em frente a ela - Eu que o treinei, talvez não tenha nada mesmo, mais ainda preciso que veja.

- Sim senhor! - Blya disse e fez uma reverência curta por causa do esforço.

- Agradeço guerreira - Ele disse sorrindo - Gosto de seu empenho.

- Obrigada senhor - Agora Blya sorria com orgulho.

- Em posição- Ele se arrumou para lutar de novo - Não pense que só porque você é nova que deixarei fácil.

- Acredito senhor - Blya suspirou se arrumando, ela aproveitou a confidencialidade daquele momento para provocar - Só não chore se eu ganhar.

Isso fez o mestre rir, algo que ela passou a desejar fazer mais.

- É só elogiar que vocês já ficam ousadinhos é - Ele provocou igual, porém esse veio junto a um golpe.

.(...).

O único momento calmo e divertido que Blyana teve foi aquele, e ela tirava aquele dia de treino como o melhor até agora, e nesse momento, a menina estava na hora de estudo com o mestre e Dárius.


Ela havia entregado sua prova e Dárius ainda fazia a dele, o mestre fez um sinal com a mão, ela entendeu, seria dispensada.


Aquela era a hora de agir...

Alma de GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora