Capítulo 12

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Anahí mordeu o lábio. Não tinha nenhum calendário em casa. Precisava de alguns segundos para pensar. Dali a uma semana seria primeiro de julho. Mal chegara a Wayside e os pais já viriam atrás.
E cuidariam de tudo.

Ela os amava, bem como os sogros. Mas essas semanas que passara longe dos quatro lhe proporcionaram uma sensação maravilhosa de liberdade. Descobriu que apreciava o sentimento.

- Eu não sei, mamãe. Essa primeira semana de julho é muito complicada, e também tem o feriado do dia quatro.

- Nós não atrapalharemos, querida. Queremos apenas ajudá-la.

E eles o fariam. Anahí tinha planos para o verão, e ter a companhia dos pais tão cedo não se encaixava neles. Mas como dizer isso à mãe sem ferir os sentimentos?
- Espere mais um pouco, mãe.

Enquanto pensava, olhou pela janela e avistou as meninas brincando no gramado com Alfonso. Ele estava sentado no carrinho de cortar grama e tentava trabalhar, mas as meninas queriam atenção. Costumava levar as duas para passear enquanto cortava a grama, uma de cada vez.
Anahí viu a alegria estampada no rosto das filhas.
Estavam no início de um novo modo de vida, bem diferente daquele que tinham na cidade. Estavam contentes, saudáveis e...

De repente, Anahí soube como agir. Tinha de dizer não à mãe, por mais duro que fosse. Precisava de um tempo para ficar sozinha com as meninas, e, para ser bem honesta, para ela mesma. Sem considerar o interesse crescente por Alfonso.
Queria conhecê-lo melhor; e seus pais, em especial a mãe, a impediriam, de certa forma. Era evidente que sua mãe jamais aprovaria nenhum tipo de relacionamento com Alfonso, ou mesmo com qualquer outro homem. Ela era super protetora. Fora muito difícil para Anahí chegar tão longe. Sentia ter de magoar os pais, mas era o melhor a fazer.

- Sinto muito, mãe, mas não será possível. Vamos deixar marcado para o dia quinze, como combinado, está bem?

Silêncio.

- Mãe? Está tudo bem? 

- Se nós formos dar muito trabalho, é lógico que está tudo bem. Não queremos ser um estorvo na vida de ninguém.

- Ótimo, mãe. - Anahí tinha de se manter firme.

- Eu ligo na semana que vem, para acertarmos tudo.

- Seu pai ficará tão decepcionado...

- Até mais, mãe! Um beijo para vocês.

Recolocou o fone no gancho e fechou os olhos. Seu coração batia forte, o que era normal quando tinha de enfrentar uma situação complicada. Todavia, cada vez que se esforçava para transpor o medo, sentia-se mais valente, mais confiante para o próximo desafio. Sabia estar no caminho certo.

Voltando-se para a janela, percebeu que Clara descia do carrinho de cortar grama. Alfonso levantou Beatriz e sentou-a em seu colo. Assim que o veículo prosseguiu, a menina começou a gritar de alegria.

Anahí saiu à varanda e sentou-se na escada. Clara veio correndo para abraçá-la, esperando, impaciente, que a vez da irmã terminasse. Beatriz, por sua vez, deliciava-se com o passeio. Sua pequena tímida florescia com a atenção de Alfonso. ,
"Está certo", pensou Anahí. "É assim que as meninas devem ser, não mimadas e reservadas, mas contentes e companheiras." Sentiu uma ponta de remorso por ter magoado a mãe, mas sabia que agira da melhor maneira. Precisava desse tempo, para as crianças, para si... e para Alfonso.

Ele diminuiu a velocidade do carrinho e parou perto da varanda. Assim que deixou Beatriz no chão, olhou para cima e deparou com os olhos de Anahí. Ela sentiu-se acariciada pelo olhar.
O que ele estaria imaginando sobre a noite passada?

- Agora é a mamãe! - gritou Clara.


Anahí demorou para entender o que a filha estava querendo dizer.

- Não; nem pensar - disse ela, rindo. - Eu sou muito grande.

- Não, não é! Ela é muito grande, Alfonso? - continuou Clara, animando a mãe a dar uma volta no carrinho de cortar grama. - Sente ao lado de Alfonso e segure bem firme!
Havia um espaço mínimo para acomodar-se.

- Ela pode dar uma volta, Alfonso? Pode?

Alfonso olhou para os rostinhos das gêmeas e, afinal, para o de Anahí.
- Eu não sei...

- Por favor, Alfonso – pediu Beatriz.

- Por favor – insistiu Clara.

- Está bem. Se ela quiser...

Clara pegou a mão direita da mãe, e Beatriz, a esquerda. Juntas elas a puxaram escada abaixo, levando-a até Alfonso e o cortador de grama.
- Vá em frente, mamãe! É tão legal!

Anahí meneou a cabeça. 
- Eu não acho que...

Alfonso estendeu a mão.

Não tendo alternativa, aceitou o convite. Ao se acomodar, falou para si mesma que estava fazendo isso apenas para agradar as filhas, o que não era toda a verdade. Estava aceitando passear de carrinho para poder tocá-lo.
- Você não precisa fazer isso – falou Anahí, tentando manter a calma.

- Ah não? – perguntou ele, apontando para as gêmeas, que sorriam e gritavam de alegria.

- Está bem. Só uma volta.

- Segure firme! Está na hora do show!

Alfonso aumentou a velocidade e, em poucos segundos, estavam no limite máximo.
Clara e Beatriz pulavam sem parar.
- Mais rápido! – berrou Clara – Mais rápido!

Alfonso deu um sorriso para Anahí querendo dizer "prepare-se", e fez uma curva brusca. Como pretendia sobreviver ao passeio, ela segurou-se com mais firmeza.

- Você esta bem? – perguntou ele.

Anahí apenas conseguiu cerrar os dentes e assentir.

Alfonso seguiu até a cerca que dividia a propriedade da estrada e fez outra curva brusca. Mas, dessa vez, não estava tudo bem. Ela perdeu o equilíbrio. Quando sentiu que voaria pelos ares, um braço agarrou-lhe a cintura, puxando-a para um lugar seguro: seu colo. 
Alfonso não soube quem se surpreendeu mais com a reação instintiva. Anahí estava sentada em seu colo, com a cabeça em seu ombro. Segurava-lhe pelo pescoço com firmeza, temendo ir ao chão.
Alfonso tinha conseguido pega-la. Estavam a salvo.

Então os olhares se encontraram. Tudo o atingiu no mesmo instante. O ronco do motor, o cheiro da grama cortada, os cabelos loiros espalhados em seu ombro. Alfonso respirou fundo para voltar ao normal, mas suas narinas foram atingidas pelo delicioso perfume de mulher, apagando tudo de sua mente, a não ser Anahí.
A maciez estava em seu colo, como se tivesse pedido pessoalmente a ela que se sentasse no exato lugar onde seus corpos se correspondiam.
Cada sensação era isolada: as mãos em volta de seu pescoço, os olhos azuis, grandes piscinas, perfeitas para se afogar. Alfonso foi consumido pelo desejo, que o queimava como a viga que o tinha marcado para toda a vida.

Estava perdido no tempo, em algum lugar entre o céu e a terra.

Anahí tremia dos pés a cabeça. Queria tocá-lo e satisfizera o seu desejo.

"Tome cuidado com o que quer, pois você pode conseguir...".

Os dedos dela se fecharam na nuca de Alfonso. Chegando mais perto dele, deliciou-se com a sensação de ter os seios encostados em seu peito. Seu coração disparou quando sentiu as mãos dele escorregarem para seus quadris. Sem desviar o olhar, Anahí ajeitou-se na nova posição.
Alfonso virou a cabeça. Anahí levantou o queixo. Estavam tão próximos... Alfonso apenas registrava a alvura da pele dela. E os lábios... carnudos, cor de cereja, semiabertos, esperando. Abriu a boca, pronto para aceitar o que lhe estava sendo oferecido... 

Em algum lugar no jardim, Alfonso escutou um barulho, um grito, uma advertência.

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