Mas não negava que estar ao lado de Anahí lhe proporcionava uma tal sensação de liberdade que esquecera que existia. Nem mesmo com Cláudia se sentira tão bem. Eles se conheciam desde criança e casaram-se jovens. Mas a união logo se transformou em uma extensão dos anos de namoro. Não cresceram juntos nem aprofundaram o relacionamento.
Cláudia sempre fora uma pessoa reservada. Ela costumava chamá-lo de Sr. Personalidade e o encarregara de cuidar de todas as atividades sociais. E Alfonso adorava ser o centro das atenções, amava a ideia de as pessoas atravessarem a rua apenas para cumprimentá-lo.
E tudo isso mudara com o acidente. Embora Cláudia tivesse cuidado dele no período de recuperação, uma nova pessoa surgira assim que o heroísmo do marido chegou aos jornais. Os repórteres começaram a acampar no gramado se sua casa para ficar por dentro de todas as novidades sobre o estado de saúde de Alfonso. Sua tranquila esposa começava a brilhar, e apreciava muito isso. Em especial de um repórter bastante obstinado e persistente.
A princípio, Alfonso tentou desencorajá-la, mas Cláudia nem lhe dava ouvidos. Não passava um dia sem que ela aparecesse no jornal. Seu rosto sério, algumas vezes choroso, também estava com frequência nos noticiários da televisão.
Assim que se deu conta do que acontecia, Alfonso ficou muito aborrecido. Proibiu-a de dar entrevistas. Tarde demais. Cláudia apreciava a notoriedade, e a relutância de Alfonso em passar-lhe as informações a deixava mais ansiosa ainda. Era difícil controlar alguém que não queria ser controlado, ainda mais de uma cama de hospital.
Assim que se deu conta do que estava acontecendo, Alfonso ficou aborrecido. Quanto mais a repreendia, mais ela o desafiava. Cláudia até o fotografara enquanto dormia para que o repórter conseguisse uma foto especial para os jornaisUm peixe fisgou a isca.
"Não, Alfonso, não desenterre o velho Rodrigo Ruiz."
Meneou a cabeça. Não gostava nem de se lembrar do idiota que manipulara sua vida de maneira escabrosa. Embora o sujeito tivesse usado e abusado de Cláudia, ela participara de livre e espontânea vontade. Só descobrira a extensão de tudo isso meses depois, quando deixara o hospital e encontrara o repórter em sua casa. Em sua cama.
Alfonso esperou que a angústia chegasse. Sempre que se lembrava do passado, ela aparecia. Só que dessa vez foi diferente. Não sentiu nada. E sabia por quê: Anahí assumira o comando de seus sentimentos. Ela chegara como uma forte onda, levando todas as mágoas antigas e substituindo-as por uma agradável esperança que o assustava muito. A esperança era um sentimento muito perigoso.
Anahí era muito bonita, cheia de vida e de amor para querer passar seus dias ao lado de um homem coberto de cicatrizes. Ela precisava de mais, merecia mais, e, embora pudesse gostar de estar nos braços de Alfonso, de seus beijos, ele sabia que só preencheria um vazio causado pela morte do marido. Dentro de pouco tempo, Anahí perceberia que não havia como satisfazer todas as suas necessidades.
E teria razão.
O fato era que Alfonso não conseguia mais amar. Queria, sentia e só Deus sabe como desejava, mas não tinha a habilidade de se entregar por inteiro. Uma das terapeutas com quem se consultara depois do acidente lhe dissera que teria de reaprender a amar. Talvez esse fosse o problema. Ele gostava do Alfonso de antes e estava contente com o Alfonso de agora.Antes que Anahí se desse conta, a comida estava a bordo, junto com as filhas e o cachorro. Alfonso ajudou-a a embarcar. Anahí tentou não observar os músculos em seu braço à medida que ele remava em direção a um pequeno bosque localizado na margem oposta.
Era maravilhoso. Para Anahí, o lugar mais lindo do mundo. O sol realçava o verde das folhas das árvores, que faziam sombra sem bloquear a claridade do lago.
- Oh, Alfonso... - Anahí virou-se para ele.
- Melhor do que o parque?
- Sim - ela respondeu ao olhar provocante de Alfonso.
- É perfeito.
As garotas, excitadas, começaram a pular, fazendo com que o barco balançasse demais. Chegando à margem, descarregaram tudo, alimentaram o cachorro e abriram a toalha, preparando o piquenique.
Alfonso jogou bola e brincou de pega-pega com as meninas. Parecia um garoto. Mais tarde, almoçaram o frango à passarinho e a salada de batatas. Nenhum deles comeu muito, cada um por seus motivos. As gêmeas estavam mais animadas para brincar, e Anahí, exultante com a companhia de Alfonso. Depois do almoço, ele subiu em árvores com as duas e até improvisou uma balança.
Depois de muito tempo, Anahí permitiu que as filhas entrassem no lago. Estendeu uma manta no chão e ficou a observá-los. Alfonso as jogava para cima, uma de cada vez. Clara e Beatriz gritavam de alegria.
Nenhum homem proporcionara tanta felicidade às pequenas. Seu pai tentara, bem como o de Kuno, mas eles não possuíam a energia necessária para acompanhar o ritmo das crianças.
Agora tinha mais do que certeza absoluta de que fizera a escolha certa ao se mudar para o campo. As meninas precisavam de mais espaço para brincar. Seus olhos se fixaram no corpo bem torneado de Alfonso.
- Anahí, venha brincar conosco - chamou ele, despertando-a dos devaneios.
Levantando-se da manta, ela tirou o short e revelou um maiô amarelo que lhe acentuava as formas perfeitas. Sem hesitar, entrou na água e juntou-se aos três.
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Vizinhos Íntimos
RomanceUm homem solitário. Uma mulher sensual. Uma história de amor e sedução... Arredio, Alfonso Herrera fazia questão absoluta de se manter isolado e não tolerava que invadissem sua privacidade. Mas, de repente, viu-se cercado de mulheres! As gracio...