Capítulo 10

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Anahí ajudou as filhas a subir no carro. Era a primeira viagem até a cidade. Seria um dia cheio.
Olhou para o lado, esperando ver Alfonso, um aceno, uma palavra doce. Embora seu carro estivesse parado no lugar de costume, nem sinal dele.

"Pare de fantasiar! Cresça!"

Ele a vira a noite passada, disso Anahí tinha certeza. Alfonso parara bem debaixo de sua janela quando voltava do lago. A princípio, ela pensou que algo o distraíra, mas o vira olhando para cima. Era como se tivesse sentido sua presença.
O brilho da lua cheia a atraíra para a janela. Além disso, o sono custava a chegar. Viu quando Alfonso veio no lago, despiu o shorts e mergulhou nas águas escuras. Algo a impelira a continuar a observá-lo. Alfonso parecia possuído: nadava de um lado para o outro como se estivesse participando de uma competição. Imaginou que ideias ele tentava banir com tamanho esforço. Quando alcançou a jangada, era apenas uma figura distante, mas Anahí prosseguiu a analise depois de vê-lo deitar-se na pequena embarcação e prestar homenagem ao maravilhoso céu estrelado.
Quando o silêncio da noite voltou a predominar e a silhueta tornou-se mais difícil de se distinguir, ela se censurou pelo comportamento infantil. Alfonso ficou na jangada por um longo tempo, tempo suficiente para Anahí abandonar a tentativa de voyeurismo e voltar para a cama.

Dormiu um pouco, mas acordou com um dos sons da noite. Como um ladrão noturno, ela voltou para seu lugar na janela. Atraída para ver o que acontecera.

Atraída por Alfonso.

E agora ele estava bem embaixo de sua janela. Primeiro, Anahí deu um passo para trás, envergonhada por ter sido vista, mas quando o notou imóvel e fitando-a, voltou-se para a frente. Queria que Alfonso a visse, que a conhecesse melhor e que, de um modo bem básico, apenas... a desejasse.

Anahí saiu da estradinha e entrou na rodovia em direção à cidade. As gêmeas tagarelavam no assento traseiro, mas ela não conseguia afastar o pensamento da noite anterior do que poderia ter acontecido. E se Alfonso a chamasse? Será que responderia? ¹ Teria ele convidado-a para descer e acompanhá-lo no mergulho? ² E depois? ³

Essa era a pergunta que mais temia. Não costumava ser impulsiva, mas se sentira assim na noite anterior, atrevida, tendo até de controlar à janela para não chamá-lo. Havia uma certa tensão no ar, que lhe incitou os sentidos até bem depois de tê-lo visto retomar para casa. Seu corpo todo se consumira e ainda hoje percebia os resquícios.

Queria vê-lo, mesmo sabendo que não lhe faria bem.

Apesar de os olhos verdes dizerem o contrário, sabia que Alfonso Herrera era frio.

Seus pensamentos estavam em marcha lenta, e desejou saber mais sobre seu vizinho. Maite lhe telefonara diversas vezes depois da mudança, e Anahí torcia para que se tornassem amigas. Mesmo sendo uma bela fonte de informações sobre Alfonso, ela respondia com um certo resguardo, como se protegesse a privacidade do primo. Talvez descobrisse algumas novidades na cidade.

De repente, decifrar os mistérios de Alfonso Herrera tornou-se uma missão importante, mesmo que só na sua mente.

Chegando ao centro, sua primeira parada foi na igreja.
Queria que as filhas participassem do sermão dominical e também questionar sobre a vaga disponível de organista. Maite comentara a respeito em uma das primeiras entrevistas, e a ideia não saíra de sua cabeça. Trabalhar na igreja seria uma ótima oportunidade para se envolver com a comunidade. Anahí estava ansiosa por conhecer os moradores de Wayside.

Edith Thompson, a mulher do pastor, cumprimentou as três à porta da igreja.

- Entrem, queridas. É um prazer muito grande conhecê-las - disse ela, depois de Anahí ter se apresentado.

- Espero não estarmos incomodando. Maite Perroni me falou sobre a vaga de organista, e eu gostaria de saber se já foi preenchida.

- Não, ainda não. A Sra. Mallory ainda não se aposentou, apesar da idade. Ela está determinada a ficar até o final do verão. Só então o reverendo escolherá uma pessoa para substituí-la.- Bem, ainda tenho chance - brincou.

- É lógico. Tenho certeza de que meu marido fará alguns testes em breve. Por que você não deixa o número do seu telefone para que entremos em contato?

- Seria maravilhoso - falou Anahí, enquanto anotava o número. - Espero receber logo esse telefonema.

A Sra. Thompson olhou para o papel.

- Você está morando perto da casa de Alfonso Herrera?

- Sim. Moro no chalé que ele alugava para os Kelly.

- Estou surpresa por ele ter alugado a casa de novo. Aquele jovem parece determinado a ficar sozinho. É algo que estamos tentando mudar - disse Anahí, olhando-a com firmeza.

- Você e as meninas? Seria ótimo, Sra. Puente, se você conseguisse trazê-lo para assistir a um sermão de domingo. Terá a gratidão eterna de meu marido. Ele tenta tirá-lo da toca faz anos!

- Isso, Sra. Thompson, seria um verdadeiro milagre!

- E milagres acontecem em todos os lugares. Nunca se sabe...

- É verdade - concordou, pensando no quanto Alfonso mudara a atitude em relação às garotas.

Perdida em lembranças, Anahí não percebeu que ainda estava parada à porta.

- Vocês aceitam um copo de limonada? - ofereceu a Sra. Thompson.

Os olhos de Clara e Beatriz se arregalaram, mas Anahí ainda tinha muitas paradas pela frente.
- Não, obrigada, Sra. Thompson, estamos a caminho da escola.

- Vai matricular as gêmeas?

- Sim, no jardim de infância. Lecionarei música na escola para o primário.

- Sim, eu soube. Boa sorte, Sra. Puente. - Estendeu a mão para Anahí. - Espero encontrá-la na igreja aos domingos.

- Nós estaremos lá.

Elas se despediram, e Anahí prometeu um sorvete às filhas depois que saíssem da escola.

O diretor, Christian Chavéz, foi bastante cordial e amigável e, depois de mostrar-lhes todas as instalações, convidou-a para uma conversa informal enquanto as meninas brincavam com a secretária.

- Todos aguardamos ansiosos o início do ano letivo, Sra. Puente. É a primeira vez que conseguimos verba para lecionar artes no primário. Espero que a senhora esteja tão empolgada quanto nós. 

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