- Olá - cumprimentou Anahí.
- Oi.
- Noite quente, não?
- Pois é.
- Você se importa em ter um pouco de companhia?
- Não, entre.
Enquanto subia as escadas da varanda, Anahí sorriu.
Mas Alfonso não retribuiu o gesto. De repente, a ideia de juntar-se a Alfonso pareceu-lhe inconsequente.
Ela o vira quando saíra para respirar um pouco de ar fresco, e a urgência de uma conversa mais adulta foi substituída por qualquer tipo de bom senso. Ele não a avistara. Isso deveria tê-la advertido de que não queria saber de conversa.
Tocar piano não a tranquilizara, e Anahí não conseguia parar de pensar em qual seria a reação de Alfonso a uma visita surpresa. Ela deveria ter percebido. O "pequeno" incidente com o carrinho de cortar grama pareceu acentuar o constrangimento entre os dois, em vez de minimizá-lo. O fato de Alfonso não tê-la convidado para o jantar era a prova cabal.
Olhou para Alfonso, que vestia uma camiseta branca e um jeans surrado. Tinha as mãos nos bolsos. Anahí imaginou se ele estava apenas sendo simpático.
Jamais poderia dizer algo a julgar por sua expressão facial; ele se mantinha muito austero. Anahí hesitou, pensando em se desculpar e voltar para o chalé. Mas, mesmo não querendo aborrecê-lo, a ideia de ir dormir não a atraía nem um pouco.
"É aqui que você quer estar, Anahí. Então, fique."
- Não, eu estava escutando a sua música.
- Espero não ter perturbado. Eu me esqueci de como o som viaja pela noite...
- Não, a música era linda.
"Você é linda", pensou ele, mas, é lógico, não disse nada. Anahí estava maravilhosa. Tinha os cabelos soltos, cacheados, e usava um vestido com estampa floral. Com certeza era a mulher mais encantadora e perfeita que já conhecera em toda a vida. Talvez perfeita demais. Pelo menos para ele, deduziu, com certa amargura.- Tenho um projeto de verão para voltar a estudar música. Preciso me preparar até setembro.
- Setembro?
- Sim, quando começam as aulas. Lecionarei música para o primário na escola da cidade.
Alfonso mostrou-se surpreso.
- Eu não sabia.
- Achei que Maite tivesse comentado com você.
- Maite nunca me falou muito a seu respeito, a não ser que era viúva.
- E eu não era bem o que você estava esperando, não é mesmo?
- Uma senhora com cabelos grisalhos e cozinheira de mão cheia? Não.
- Verdade que me imaginou assim?
- Sim. Maite omitiu bastante coisa.
- Incluindo minhas filhas. Eu sei. Também fiquei um pouco zangada com sua prima. Ela me deixou em uma situação embaraçosa.
- Você soube como agir.
- Se pensa que vou me desculpar por minhas atitudes no dia em que nos conhecemos, está muito enganado.
Alfonso riu, alegre.
- Se alguém deve se desculpar, esse alguém sou eu.
- Sim, eu concordo. - Anahí depois de algum tempo, Anahí perguntou: - Então?
- Então o quê?
- Você não pretende se desculpar?
- Achei que já havia feito isso.
- Aquilo não foi um pedido de desculpas, Alfonso. Não foi... nada.
- Está certo. Como é que eu devo fazer?
Sem pensar duas vezes, Alfonso postou-se na frente de Anahí e colocou uma mão em cada braço da cadeira, parando o balanço. Estava preste a dizer-lhe o quanto tinha se arrependido de ter chamado as gêmeas de fedelhas, quando, de repente, percebeu o quão perto se encontrava de Anahí, o quanto queria levá-la para dentro. Para a sua cama.
"O que estou fazendo?", perguntou-se ele, percebendo a expressão de espanto no delicado rosto dela.Anahí tinha os lábios semiabertos, num convite inconsciente para ser beijada. Seu coração disparou.
Alfonso lutou contra os impulsos que o bombardeavam depressa e com fúria, para diminuir a distância entre ambos, entrelaçar os dedos nos cabelos loiros e unir sua boca à de Anahí. Queria acariciá-la com a língua. Alfonso concentrou-se ao máximo para permanecer imóvel. Nesse momento, notou que havia tempos que tentava aperfeiçoar seu autocontrole.
Decidido, soltou a cadeira, que começou a balançar de novo.
- Sinto muito, Anahí. - Virou-se de costas e encostou-se no pilar.
Ela queria perguntar o motivo, não mais sabendo sobre o que conversavam. Será que Alfonso se desculpara pela grosseria do primeiro dia ou por tê-la olhado com tanta intensidade? Seu coração batia descompassado. Será que ele tinha ideia do que lhe causava?
- Desculpas aceitas - respondeu Anahí.
As nuvens esconderam a lua, e a noite tornou-se bastante escura, iluminada apenas pelas débeis luzes que iluminavam as duas casas. O silêncio aumentou e ainda assim Alfonso continuou de costas. Anahí tentou pensar em algo para dizer, mas não encontrou as palavras. Não soube explicar o que aconteceu, se fizera ou se dissera algo errado. De qualquer forma, aproveitou-se da calada da noite para esconder seu embaraço. Levantou-se.
Alfonso virou-se para ela.
- O que houve?
- Acho melhor eu ir embora.
- Por quê?
- Você parece querer ficar sozinho. Não pretendo importuná-lo.
- Não está me importunando.
Não era verdade. Dentro ou fora de casa ela o incomodava. Sua simples existência o incomodava.
- Fique, Anahí.
- Alfonso...
Ele deu um passo para a esquerda e bloqueou as escadas.
- Por favorPor um longo instante, os dois se encararam. Alfonso foi o primeiro a desviar o olhar. Passou a mão pelos cabelos dela.
- Você precisa me desculpar, Anahí. Não sou muito bom com as palavras. Mas estou me esforçando. - Apontou-lhe a cadeira. - Por favor.
- Está bem, mas só mais um pouco.
- Então me conte sobre seu novo emprego na escola.
- Você quer saber, mesmo?
- Sim - disse Alfonso, entusiasmado. - Quero saber.
- Bem, darei aulas de música para crianças da escola primária. Esse foi um dos motivos por eu ter escolhido Wayside para morar. Era o único trabalho onde eu poderia estar perto das meninas quando estivessem estudando. Elas frequentarão a mesma escola.
- Já está tudo certo?
- Quase tudo. Fui à escola hoje acertar os últimos detalhes. Conheci o diretor, Christian Chávez. Ele me disse que vocês se conheciam.
- Hum...
- Também falou que estudaram juntos.
- Ah é?
- E que vocês eram amigos.
- Ele exagerou um pouco.
Anahí inclinou-se para frente.
- Você não gosta dele?
- Eu não diria isso. Foi há muito tempo. Nem me lembro direito de Christian.
- Se gostava de Christian na escola, teria de gostar dele agora também, não? As pessoas não mudam.
- Sim, mudam.
- Não, não mudam.
- Confie em mim, Anahí. As pessoas mudam.
Seus olhares se encontraram.
- Ah, você se refere ao acidente. Acho que compreendo. Christian me pareceu um tanto quanto benevolente quando falei sobre você. Fiquei meio irritada.
- Verdade? - Alfonso não conteve o sorriso.
- Sim. Ele insinuou que você era estranho.
- Eu sou estranho.
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Vizinhos Íntimos
RomanceUm homem solitário. Uma mulher sensual. Uma história de amor e sedução... Arredio, Alfonso Herrera fazia questão absoluta de se manter isolado e não tolerava que invadissem sua privacidade. Mas, de repente, viu-se cercado de mulheres! As gracio...