Capítulo 16

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- Olá - cumprimentou Anahí.

- Oi.

- Noite quente, não?

- Pois é.

- Você se importa em ter um pouco de companhia?

- Não, entre.

Enquanto subia as escadas da varanda, Anahí sorriu.
Mas Alfonso não retribuiu o gesto. De repente, a ideia de juntar-se a Alfonso pareceu-lhe inconsequente.

Ela o vira quando saíra para respirar um pouco de ar fresco, e a urgência de uma conversa mais adulta foi substituída por qualquer tipo de bom senso. Ele não a avistara. Isso deveria tê-la advertido de que não queria saber de conversa.

Tocar piano não a tranquilizara, e Anahí não conseguia parar de pensar em qual seria a reação de Alfonso a uma visita surpresa. Ela deveria ter percebido. O "pequeno" incidente com o carrinho de cortar grama pareceu acentuar o constrangimento entre os dois, em vez de minimizá-lo. O fato de Alfonso não tê-la convidado para o jantar era a prova cabal.

Olhou para Alfonso, que vestia uma camiseta branca e um jeans surrado. Tinha as mãos nos bolsos. Anahí imaginou se ele estava apenas sendo simpático.
Jamais poderia dizer algo a julgar por sua expressão facial; ele se mantinha muito austero. Anahí hesitou, pensando em se desculpar e voltar para o chalé. Mas, mesmo não querendo aborrecê-lo, a ideia de ir dormir não a atraía nem um pouco.

"É aqui que você quer estar, Anahí. Então, fique."

- Não, eu estava escutando a sua música.

- Espero não ter perturbado. Eu me esqueci de como o som viaja pela noite...

- Não, a música era linda.

"Você é linda", pensou ele, mas, é lógico, não disse nada. Anahí estava maravilhosa. Tinha os cabelos soltos, cacheados, e usava um vestido com estampa floral. Com certeza era a mulher mais encantadora e perfeita que já conhecera em toda a vida. Talvez perfeita demais. Pelo menos para ele, deduziu, com certa amargura.- Tenho um projeto de verão para voltar a estudar música. Preciso me preparar até setembro.

- Setembro?

- Sim, quando começam as aulas. Lecionarei música para o primário na escola da cidade.

Alfonso mostrou-se surpreso.
- Eu não sabia.

- Achei que Maite tivesse comentado com você.

- Maite nunca me falou muito a seu respeito, a não ser que era viúva.

- E eu não era bem o que você estava esperando, não é mesmo?

- Uma senhora com cabelos grisalhos e cozinheira de mão cheia? Não.

- Verdade que me imaginou assim?

- Sim. Maite omitiu bastante coisa.

- Incluindo minhas filhas. Eu sei. Também fiquei um pouco zangada com sua prima. Ela me deixou em uma situação embaraçosa.

- Você soube como agir.

- Se pensa que vou me desculpar por minhas atitudes no dia em que nos conhecemos, está muito enganado.

Alfonso riu, alegre.
- Se alguém deve se desculpar, esse alguém sou eu.

- Sim, eu concordo. - Anahí depois de algum tempo, Anahí perguntou: - Então?

- Então o quê?

- Você não pretende se desculpar?

- Achei que já havia feito isso.

- Aquilo não foi um pedido de desculpas, Alfonso. Não foi... nada.

- Está certo. Como é que eu devo fazer?

Sem pensar duas vezes, Alfonso postou-se na frente de Anahí e colocou uma mão em cada braço da cadeira, parando o balanço. Estava preste a dizer-lhe o quanto tinha se arrependido de ter chamado as gêmeas de fedelhas, quando, de repente, percebeu o quão perto se encontrava de Anahí, o quanto queria levá-la para dentro. Para a sua cama.

"O que estou fazendo?", perguntou-se ele, percebendo a expressão de espanto no delicado rosto dela.

Anahí tinha os lábios semiabertos, num convite inconsciente para ser beijada. Seu coração disparou.
Alfonso lutou contra os impulsos que o bombardeavam depressa e com fúria, para diminuir a distância entre ambos, entrelaçar os dedos nos cabelos loiros e unir sua boca à de Anahí. Queria acariciá-la com a língua. Alfonso concentrou-se ao máximo para permanecer imóvel. Nesse momento, notou que havia tempos que tentava aperfeiçoar seu autocontrole.
Decidido, soltou a cadeira, que começou a balançar de novo.

- Sinto muito, Anahí. - Virou-se de costas e encostou-se no pilar.

Ela queria perguntar o motivo, não mais sabendo sobre o que conversavam. Será que Alfonso se desculpara pela grosseria do primeiro dia ou por tê-la olhado com tanta intensidade? Seu coração batia descompassado. Será que ele tinha ideia do que lhe causava?

- Desculpas aceitas - respondeu Anahí.

As nuvens esconderam a lua, e a noite tornou-se bastante escura, iluminada apenas pelas débeis luzes que iluminavam as duas casas. O silêncio aumentou e ainda assim Alfonso continuou de costas. Anahí tentou pensar em algo para dizer, mas não encontrou as palavras. Não soube explicar o que aconteceu, se fizera ou se dissera algo errado. De qualquer forma, aproveitou-se da calada da noite para esconder seu embaraço. Levantou-se.

Alfonso virou-se para ela.
- O que houve?

- Acho melhor eu ir embora.

- Por quê?

- Você parece querer ficar sozinho. Não pretendo importuná-lo.

- Não está me importunando.

Não era verdade. Dentro ou fora de casa ela o incomodava. Sua simples existência o incomodava.
- Fique, Anahí.

- Alfonso...

Ele deu um passo para a esquerda e bloqueou as escadas.
- Por favor

Por um longo instante, os dois se encararam. Alfonso foi o primeiro a desviar o olhar. Passou a mão pelos cabelos dela.
- Você precisa me desculpar, Anahí. Não sou muito bom com as palavras. Mas estou me esforçando. - Apontou-lhe a cadeira. - Por favor.

- Está bem, mas só mais um pouco.

- Então me conte sobre seu novo emprego na escola.

- Você quer saber, mesmo?

- Sim - disse Alfonso, entusiasmado. - Quero saber.

- Bem, darei aulas de música para crianças da escola primária. Esse foi um dos motivos por eu ter escolhido Wayside para morar. Era o único trabalho onde eu poderia estar perto das meninas quando estivessem estudando. Elas frequentarão a mesma escola.

- Já está tudo certo?

- Quase tudo. Fui à escola hoje acertar os últimos detalhes. Conheci o diretor, Christian Chávez. Ele me disse que vocês se conheciam.

- Hum...

- Também falou que estudaram juntos.

- Ah é?

- E que vocês eram amigos.

- Ele exagerou um pouco.

Anahí inclinou-se para frente.
- Você não gosta dele?

- Eu não diria isso. Foi há muito tempo. Nem me lembro direito de Christian.

- Se gostava de Christian na escola, teria de gostar dele agora também, não? As pessoas não mudam.

- Sim, mudam.

- Não, não mudam.

- Confie em mim, Anahí. As pessoas mudam.

Seus olhares se encontraram.
- Ah, você se refere ao acidente. Acho que compreendo. Christian me pareceu um tanto quanto benevolente quando falei sobre você. Fiquei meio irritada.

- Verdade? - Alfonso não conteve o sorriso.

- Sim. Ele insinuou que você era estranho.

- Eu sou estranho.

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