E essa não fora a única mudança. Suas conversas com Alfonso quase não existiam mais. Ele acenava de sua varanda, Anahí retribuía. Uma vez ou outra se encontraram no gramado, mas sempre alguém os interrompia, a mãe, o pai ou as filhas.
A cada dia que passava, a depressão dela aumentava.
Seu corpo parecia enfraquecer, como se sentisse falta de alguma vitamina. Era terrível vê-la e não poder tocá-la. Ou ser tocada... Parecia que tinha de percorrer uma longa distância para saciar a sede, mas, quando chegava à fonte, havia uma cerca elétrica que a impedia de beber dela. Alfonso era a água, e seus pais, a cerca, e se algo não acontecesse bem depressa, Anahí murcharia e morreria na frente de todos.
Tinha certeza de que Alfonso não tinha ideia do que acontecia.
"Deve estar contente", pensou Anahí, "por não ter de me encontrar".
Ele nem se atrevia a chegar perto do chalé. Algumas vezes ficava dias e dias sem aparecer. Ela não sabia o que era pior: ficar sem vê-lo ou vê-la e não poder fazer nada.
Anahí agradecia a Deus pelos dias ensolarados; precisava da energia do sol para manter-se animada.
Juntando as forças, apressou-se para juntar-se aos familiares. Desceu as escadas quando todos terminavam de comer.
Serviu-se de uma xícara de café e observou as filhas conversando com o avô, querendo mostrar-lhe algo aqui ou ali. Ela sorriu e sentiu um súbito enternecimento pelos pais. Com Alfonso ou não, era bom tê-los aqui. Anahí parecia não mais conseguir controlar as emoções e sentimentos. Então, decidiu parar de lutar.
Aproximou-se da mãe e abraçou-a.
- É tão bom tê-la aqui, mamãe. Marichelo sorriu.
- Eu também acho.
- O que foi isso?
Um barulho sobressaltou-as. As duas mulheres correram até a porta para ver o que acontecia. Anahí viu o pai, as filhas, Alfonso e um outro homem ao lado do carro. Ao sair na varanda, viu que eles descarregavam o veículo.
Alfonso parou no instante em que a viu.
- A cerca nova chegou, Anahí. Guido veio me ajudar a colocá-la. Guido, cumprimente Anahí - acrescentou Alfonso, e o noivo de Maite acenou com simpatia.
Anahí retribuiu o aceno e chamou as filhas.
- Clara, Beatriz! Venham cá! Deixem os rapazes trabalharem em paz.- O que ele está fazendo? - perguntou Marichelo, assim que as gêmeas se aproximaram.
- Um pedaço da cerca quebrou, e Alfonso irá consertá-la.
- Você toma conta de seu pai? Ele nunca pensa no problema que tem nas costas. - Ela apontou para o marido. - Enrique! O que você está fazendo?
- Estou ajudando os rapazes com a cerca.
- Suas costas...
- Está tudo bem.
- Mas que velho teimoso! - disse ela alto o suficiente para todos escutarem.
Assim mesmo, Enrique continuou a ajudá-los a descarregar a cerca.Marichelo meneou a cabeça.
- Ele se arrependerá depois.
- Mamãe quebrou a cerca - começou Clara, tentando se infiltrar na conversa.
- O que você disse, querida? - perguntou Marichelo, olhando para a neta.
- Clara... Não é verdade - advertiu Anahí.
- O que não é verdade? - perguntou Marichelo, confusa.
- Que mamãe quebrou a cerca - adicionou Beatriz.
- Ela e Alfonso quebraram a cerca.
Marichelo olhou para a filha, que meneou a cabeça e sorriu sem graça.
- Não foi nada de mais.
- Nada? A cerca está quase toda quebrada. O que vocês estavam fazendo?
- Era a vez de mamãe passear no cortador de grama. Alfonso tinha nos levado - explicou Beatriz, rindo -, mas mamãe quase caiu, e Alfonso teve de segurá-la.
- Sim! - Agora Clara também ria. - Mamãe saiu voando como um pássaro, e Alfonso segurou-a, mas o carrinho se descontrolou e eles acertaram a cerca.
Marichelo sorriu para as crianças, mostrando-se benevolente.
- E isso foi tudo?
- Não - disse Beatriz, com a expressão séria. - Eles caíram no chão.
- Alfonso caiu em cima da mamãe, mas ninguém se machucou, não é, mamãe? Sim, ninguém se machucou - confirmou Anahí, voltando a atenção para os homens trabalhando no gramado.
Marichelo aproximou-se logo.
- Brincando no carrinho de cortar grama?
- As meninas insistiram muito. Foi uma brincadeira tola, e nós perdemos o controle.
- Só o controle?
- O que você está querendo insinuar, mãe?
- O que na verdade está acontecendo entre você e esse homem, Anahí?
- Nada. E o nome dele é Alfonso.
- Nada mesmo?
Anahí olhou bem nos olhos da mãe e fez algo que jamais poderia ter feito: mentiu.
- Nada.
Marichelo sorriu, aprovando, como Anahí imaginara.
Ao voltar a atenção para o gramado, percebeu que seu pai, Guido e Alfonso riam. Pelo menos o bom e velho Enrique não o achava ameaçador.
- Olhe para seu pai. Aposto como ele não conseguirá dormir a noite toda – resmungou Marichelo. – Enrique! Enrique! Você está me ouvindo? Já chega, volte para casa.
Anahí observou o pai segurar a cerca para Alfonso, desafiando a esposa, dando-lhe as costas. Ela sorriu. Sempre achara ter puxado pela mãe, agora não tinha mais tanta certeza. Começava a ver a aceitação silenciosa de Enrique Puente com novos olhos. Ele não discutia com a mulher por nada. Seu modo de agir era mais sutil e de certa forma bem mais eficiente: ignorava e agia como bem entendia.
"Obrigada", pensou abraçando a mãe.
Os três homens ainda riam quando Enrique acompanhou Guido e Alfonso até a cozinha do chalé, algumas horas depois. Eles passaram bem na frente de Marichelo, e Enrique ofereceu-lhes uma cerveja gelada.
Anahí percebeu pelo olhar da mãe que o marido pagaria caro por suas atitudes. Mas ele também sabia que a esposa jamais arrumaria a cozinha na frente de estranhos. Preferia a morte do que se sujeitar a isso.
E Anahí não sabia qual era o mais estranho na opinião da mãe.- Vocês aceitam um lanche? - ofereceu Marichelo, educada.
- Que tal, Alfonso? Guido? Marichelo sabe preparar como ninguém um sanduíche de peito de peru.
- É uma ótima ideia, se não for dar trabalho - respondeu Guido.
A resposta de Alfonso foi apenas um sorriso para a especulativa Marichelo.
- Não será incômodo algum. Enquanto vocês se lavam, eu preparo os lanches. Anahí? Você põe a mesa?
- É claro, mãe.
Em tempo recorde, Marichelo tinha a mesa cheia de sanduíches, saladas de batata, picles, pães e frios. Mostrou aos homens onde se sentar. Anahí, depois de acomodar as filhas no balcão, juntou-se a eles.
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Vizinhos Íntimos
RomanceUm homem solitário. Uma mulher sensual. Uma história de amor e sedução... Arredio, Alfonso Herrera fazia questão absoluta de se manter isolado e não tolerava que invadissem sua privacidade. Mas, de repente, viu-se cercado de mulheres! As gracio...