Anahí procurou sorrir, fingindo-se contente com a chegada dos pais. Era lógico que os amava demais e que estava feliz por vê-los, mas preferia que eles não tivessem aparecido de surpresa. Seu estado de independência ainda era frágil, e o apego aos dois continuava forte.
Ao anunciar que se mudaria para o campo, começaram os desentendimentos com a mãe. Marichelo fizera de tudo para que elas ficassem, mas Anahí vencera. Apesar disso, continuava a interferir em tudo o que a filha fazia.
Depois de banhar as meninas e colocá-las na cama, Anahí desceu as escadas para encontrar a mãe só, sentada na cozinha. Havia duas xícaras de chá quente em cima da mesa.
- Papai já foi se deitar. Ele estava exausto devido à viagem. Você sabe quanto tempo demoramos para chegar aqui?
- Eu sei, mamãe, é bem longe.
- Você parece tão cansada... Beba o chá.
- Está muito quente para tomar chá.
- Bem, então vamos colocar umas pedrinhas de gelo. - Marichelo se levantou bem depressa, colocou a bebida em dois copos e adicionou algumas pedras de gelo. Então, ofereceu um deles à filha. - Tome, querida. Chá gelado. Do jeito que você gosta. Amanhã pedirei a Enrique que compre um pouco de hortelã. Beba um gole, querida.
Anahí deu um gole apenas para agradar à mãe.
- Está bom, filha?
- Sim, mãe. Uma delícia.
Marichelo sentou-se em frente à filha.
- Aposto que ainda não teve tempo de preparar um copo de chá gelado para você, não é?
- Para seu conhecimento, eu já fiz vários chás para mim.
- Verdade? Estou surpresa. Você nunca gostou muito de cozinha, meu bem. Essa foi uma das minhas maiores preocupações quando se mudou. Imaginei o que seria de vocês com um cardápio tão limitado. Está tudo caminhando bem, mamãe. Verdade-. Marichelo cruzou as mãos em cima da mesa.
- Está bem... E...
- Fale.
- Não, não é nada.
- Nada?
- Bem... Quer dizer... Talvez...
- Por exemplo?
- Devo admitir que fiquei um pouco chocada ao encontrar você e as garotas na companhia daquele homem.
- Alfonso tornou-se um bom amigo delas.
- Só delas?
- Não, mãe, meu também. - Anahí encarou Marichelo.
- Percebo.
- Mesmo?
- Sim, acho que sim. Você encontrou um amigo e, a julgar pelo seu olhar, está querendo dizer que eu não tenho nada a ver com isso.
Anahí fechou os olhos e balançou a cabeça.
- Não é bem assim, mãe. Alfonso é...
- O quê?
- Ele é tão bom conosco...
- Mas...
- O quê?
- E o rosto dele?
- Mamãe!
- Por Deus, Anahí, não venha me dizer que você consegue ignorar aquele monte de cicatrizes!Anahí suspirou.
- Não. Como você, fui pega de surpresa quando o vi pela primeira vez, mas depois me acostumei.
- O que aconteceu?
- Ele é um herói - respondeu, com um brilho nos olhos.
- Herói?
- Sim. Ele salvou várias pessoas de uma explosão e acabou se queimando. Houve um grande rebuliço em torno do assunto na ocasião do acidente. Talvez você tenha lido a respeito. Está sempre a par de tudo...
- Hum! Acho que me lembro de algo parecido. Cinco anos atrás? Os jornais traziam a fotografia de um homem cheio de ataduras. A CNN fez uma reportagem especial sobre isso.
- Sim, pode ter certeza. Alfonso foi bastante perseguido pelos repórteres. Isso mudou sua vida.
- Sim, tenho certeza de que foi um ato bastante nobre da parte dele, mas ainda assim não acho que Alfonso seja a companhia adequada para as meninas.
- Por que não? - perguntou Anahí, endireitando-se na cadeira.
- Bem, ele deve assustá-las. Elas podem ter pesadelos...
Anahí levantou-se e terminou de beber o chá.
- Não seja ridícula. Alfonso foi a melhor coisa que aconteceu na vida das meninas. Você precisa ver a alegria delas hoje enquanto brincavam no lago. Estavam se divertindo como nunca. -Encarou a mãe. - Minhas filhas precisam de um homem em suas vidas, mãe.
- Elas têm o seu pai. E o pai de Kuno.
- De um homem jovem, que brinque com elas.
- E você espera que esse suposto herói venha preencher esse vazio?
- O nome dele é Alfonso, e eu não espero nada. Acabei de me mudar para cá e tento começar uma vida nova. Sendo meu vizinho, Alfonso faz parte dela.
- E isso é tudo? Anahí virou-se de costas e foi até a pia lavar o copo. Depois, voltou-se de novo para a mãe.
- Sim, mamãe, é tudo.
- Achei que você já estivesse cansada dessa brincadeira.
Anahí riu.
- Ainda não.
- Pensei que...
- Mamãe, nós já discutimos esse assunto mais de mil vezes. Por que você não aceita a minha liberdade?
- Porque acho errado você ficar tão longe de sua família. E dos pais de Kuno...
- Pelo menos os pais de Kuno estão se mostrando fortes. E papai também. A única pessoa que está tendo problemas é você.
Marichelo abriu a boca, mas fechou-a logo em seguida.
Anahí não tivera a intenção de ser tão direta, mas a chegada inesperada de seus pais a deixara mais nervosa do que podia imaginar. Tinha até planejado um encontro secreto com Alfonso mais tarde, talvez na varanda, como na noite anterior. E depois do que acontecera essa tarde... Bem, estava desapontada por ter de adiar um novo encontro com ele... indefinidamente.
Anahí mudou o assunto para temas rotineiros e logo as duas mulheres decidiram ir para a cama.
Em seu minúsculo quarto, ela parou na janela e pôs-se a fitar o gramado. Como o quarto das meninas, dava de frente para a casa de Alfonso. Nenhuma luz acesa. Onde seria o quarto dele? Só conhecia o primeiro andar, quer dizer, a cozinha e seu local de trabalho. Não fazia a menor ideia de como era o resto.
Então usou a imaginação. Fechou os olhos e pensou nele deitado na cama, em lençóis brancos, que brilhavam com o luar. Estaria nu? Com certeza; por que não? Era sua fantasia, podia fazer o que bem entendesse. Ele teria as mãos cruzadas atrás da cabeça e estaria fitando o teto, pensando nela, no dia de hoje, em como Anahí respondera às carícias.
"Eu tenho mãos de fada."
VOCÊ ESTÁ LENDO
Vizinhos Íntimos
RomantizmUm homem solitário. Uma mulher sensual. Uma história de amor e sedução... Arredio, Alfonso Herrera fazia questão absoluta de se manter isolado e não tolerava que invadissem sua privacidade. Mas, de repente, viu-se cercado de mulheres! As gracio...