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Apenas um mês de aulas e já tenho  dois trabalhos a serem entregues para semana que vem e hoje, Flora nos trouxe até a sala de vídeo da escola, para assistirmos um documentário.
-Olha só, queridos... Todos sentados por favor! - Flora gesticulava enquanto falava.
As cadeiras espalhadas pela sala formam fileiras desorganizadas. Todos ao mesmo tempo se embolam em meio a elas, arrastando para o lugar que acham melhor. Observo que Nicolas e Kevin estão sentados ao fundo da sala, resolvo me sentar em uma cadeira solitária, encostada na parede próxima a porta. Ninguém gosta de se sentar na primeira fileira da sala de vídeo, se é que posso chamar isso de fileira. Flora me olha, parecendo sorrir, mas seu olhar passou tão rápido por mim, que não pude retribuir o sorriso. Não posso dizer que amo Português, mas ela consegue tornar a matéria menos entediante para mim.
-Todos sentados? - Flora passeou os olhos por toda a sala. -Ok...
O projetor já estava ajustado, a professora agora mexia no computador, preparando-se para dar o play ao filme.
-Vamos sentar ali... parece melhor... por favor... - escutei os cochichos de Diana.
-Aqui ótimo! - disse Joel um pouco alto demais.
-Cala a boca, Joel. Anda, vamos lá. - respondeu Laila.
-Saco... - resmungou.
Os ruídos de cadeiras se arrastando se tornam cada vez mais perto. Olho disfarçadamente para trás, vejo Diana a menos de um metro de distância de mim, ao seu lado Laila e ao lado de Laila, Joel. Não olhei por muito tempo, mantendo a discrição me virei para a frente.
-Ah, entendi agora... - disse Joel.
-Cala a boca! - as duas disseram ao mesmo tempo. Tenho a impressão de que Laila deu um beliscão nele, ou algo do tipo.
Não consigo evitar e acabo rindo. Abaixo um pouco a cabeça, afasto minha cadeira, sutilmente para trás, olho na direção de Diana, mas mantenho a cabeça baixa, passo a mão por meu cabelo para deixar meu rosto amostra. Ela sorri e leva a mão ao rosto, um pouco envergonhada, tira seus óculos e os limpa na camisa da escola, como se fizesse aquilo apenas para dispersar o nervosismo. Laila ri juntamente com Joel, que se entreolham.
As duas palmas de Flora me pegam de surpresa, acelerando meus batimentos cardíacos pelo susto. Retomo a atenção a professora de Português, que sempre quando bate essas duas palmas, é sinal de que disse alguma coisa e precisa que todos prestem atenção. Dessa vez não escutei o que foi dito antes das palmas.
-Então, como eu disse na sala de aula... Vou passar um documentário para vocês e nosso querido professor César, cedeu o horário dele, para que possamos terminar hoje sem a precisão de voltar aqui na nossa próxima aula!
Alguns alunos reclamam e os burburinhos vão se espalhando por toda a sala, até que se escuta pequenas vaias. É um fato que a Educação Física é a aula preferida da maioria. Para os que gostam de esportes, perfeito. Para os que gostam de ficar atoa, perfeito. Tirando os dias em que o César insiste em propor atividades em que todos devem participar. Eu, particularmente, gosto de usar esse horário para ouvir música ou ler. Sendo que a leitura, não incomoda César, pelo contrário, ele sempre apoia e nos incentiva a pegar livros na biblioteca, mesmo que seja para ler em sua aula.
-EI! SILÊNCIO! - Flora cruza os braços, séria. -Se vocês ficarem quietinhos, ainda irá sobrar... - olhou o relógio em seu pulso. -vinte minutos. Então, por favor, fiquem calados, prestem bastante atenção, pois irei passar uma atividade avaliativa, baseada nesse documentário. Quero ver como anda a interpretação de vocês...
-Professora! Se o problema é o tempo, por que você não passa o nome do documentário pra gente assistir em casa? - alguma garota questionou.
-Porque eu sei que nem todo mundo vai assistir. Aqui estou supervisionado todos vocês! - deu um sorriso largo e uma piscadela.
Algumas pessoas riram. Flora deu o play e se sentou na cadeira de frente para o computador e para a turma.

A turma cooperou e realmente sobrou vinte minutos, ou quase isso... Tive tempo para escutar música, enquanto observava o movimento de pessoas, pela pequena "área verde" da escola, tem algumas árvores e uns bancos e mesas. Não costumo ficar por aqui, pois está quase sempre cheio de gente, mas hoje algo(alguém) me chamou a atenção aqui. Optei por me sentar não muito longe, mas também não tão perto, dos bancos onde Diana se localiza com seus amigos. Ao som de "Birds" de "Imagine Dragons", nos meus fones, me perco por alguns segundos olhando as flores do ipê amarelo, próximo ao trio. Diana tem um livro em mãos, ela lê em voz alta para Laila e Joel, que parecem atentos a ela. Em seguida, fecha o livro e o abraça como se fosse a coisa mais preciosa do mundo. Não sou do tipo de pessoa que vai até as outras, geralmente não faço nada e elas vêm até mim. Acontece que essa garota... me deixa curioso. A sirene que marca o início do intervalo me traz de volta a realidade.

EfeitosOnde histórias criam vida. Descubra agora