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Em algum momento houve uma troca de lugares à mesa, a mãe e a avó de Diana se sentaram mais próximas a churrasqueira. Estou sentado entre Diana e Laila. Não me recordo do exato momento em que Laila se sentara ao meu lado. Joel continua em minha frente, Emily e Ivo se juntam a ele. Laila pega o copo de cerveja de Ivo, quase vazio e bebe todo seu conteúdo.
-Ei! Eu deixei? - Ivo tenta parecer bravo, mas acaba rindo.
Diana olha na direção em que os outros estão sentados e depois arregala os olhos para Laila como se chamasse sua atenção. Laila revira os olhos.
-Você bebe? - Laila se dirige a mim.
-Não...
-Não bebe cerveja, ou não bebe nada?
-Não bebo nada.
Laila balançou a cabeça positivamente, mas a expressão em seu rosto revela que esperava por outra resposta. Joel deu um sorriso amarelo.
Bebidas não são atraentes a mim, porque sempre acabo me lembrando do estado decadente de meu pai.
Diana leva sua mão a testa e se comunica com Joel através de olhares. Começo a perceber que Diana se sente um pouco envergonhada com algumas falas de Laila. As vezes, até mesmo, das de Joel.
-Gente, pelo amor de Deus. Acabei de perceber que faltando uma coisa crucial aqui. - diz Emily se levantando da mesa.
-O que é? - Diana questiona.
-Música!
-Nossa! É mesmo. - disse Laila, quase berrando.
Um forró animado começa a tocar. Emily canta e dança sozinha.
-Vem, eu sei que você louca pra dançar. - disse Joel para Laila.
Ela levanta saltitante, Joel no entanto não parece tão animado quanto ela. Mas parece estar se divertindo.
-Era exatamente isso que tava faltando! - disse Diana.
Eu a olho de canto. Ela observa seus amigos dançando, sorridente. Ivo se levanta, cantarolando e fazendo companhia a sua irmã.
-Sinto que já sei a resposta, mas... - Diana olha para mim. -Você gosta de dançar?
Olhei para Joel e Laila, por um instante antes de responder. Os dois dançam muito bem.
Sendo sincero, eu realmente não gosto de dançar... pensei, mas respondi:
-Sou um péssimo dançarino. - tentando parecer ameno.
Diana riu, confirmando sua suspeita.
-Eu amo dançar. - deu uma pausa, me analisando. -Quando eu era criança, eu dançava balé.
-Você não dança mais?
-Não, mas tenho vontade de voltar. Dancei dos meus 6 até os 10 anos, mais ou menos.
Diana balança seu corpo, sutilmente, de um lado para o outro acompanhando a música. De repente ela para e volta seu olhar a mim.
-Quando eu disse que tinha muitas outras coisas a pontuar sobre você, eu estava blefando. - sua voz descontraída traz uma leve seriedade.
Passei as mãos em meu cabelo e franzi a testa, esperando por sua conclusão.
-Além da sua aparência, claro. - sorriu, nervosa. -Você é muito misterioso...
Tentou soar séria na última frase, mas sua voz falhou ao dizer a palavra "misterioso". Revelando que segurava o riso.
Acabei em gargalhadas. Diana  pareceu surpresa com minha reação, mas riu também.
-Sou um livro aberto. - sorri, ironicamente.
Muita ironia...
-Vamos fazer assim. Eu vou te fazer três perguntas, e você faz três para mim. - deu um sorriso um tanto quanto tentador. -Se você ficar desconfortável com alguma pergunta minha, não precisa responder e vice e versa.
-Fechado. - estendi minha mão a ela, como se estivéssemos fazendo um trato.
Ela apertou minha mão e se endireita na cadeira.
-Qual é o seu maior defeito?
Pergunta difícil, tenho muitos defeitos para escolher somente um. Cocei o queixo enquanto pensava.
-Eu sou muito pessimista. Extremamente. Minha vez. - desvio o olhar enquanto penso. -Qual pessoa da sua família você mais gosta? Não vale sua mãe. - sorri de lado.
Diana suspirou com as sobrancelhas arqueadas.
-Minha vó. - abaixou os olhos por um instante. -Vou devolver essa pergunta. Não vale seus pais.
-Minha irmã. Você tem algum talento secreto?
-Eu sei tocar violino. Não é exatamente secreto, mas quase ninguém sabe. - sorriu. -O que mais te atraí em uma garota?
Sorri, levando meu dedo indicador e o do meio até minha testa, como se estivesse me forçando a pensar. Boa pergunta, Diana.
-Garotas altas, magras e principalmente simpáticas me atraem. - analisei Diana por um segundo antes de fazer minha última pergunta.
Mais alguns detalhes e eu teria  descrito Diana.
Ela soa satisfeita com o que escutou. A observo esconder um sorriso.
-Sua última pergunta, Tiago...
-Ah... é mesmo. - penso em algo, passando a mão em meu cabelo. -Hum... e qual é o seu tipo?
-Meu tipo... nunca parei para pensar. - provocou minha curiosidade. -Acho que tenho uma queda por garotos misteriosos.
Diana dá uma piscadela e sorri. Sorrio de volta, me projetando um pouco para frente. Nossos rostos ficam mais próximos. Um forró com uma melodia mais lenta começa a tocar. Diana olha na direção de Laila e Joel. Faço o mesmo. Vejo Laila caminhar de volta a mesa, Joel continua no mesmo lugar, ele chama Diana para dançar. Ela me olha antes de se levantar e segue até ele. Suspiro e me ajeito na cadeira.
-Por que você não vai lá? - Laila se senta na cadeira ao meu lado esquerdo.
Olho em sua direção. Ela está com o cotovelo apoiado à mesa e descansa seu rosto na palma de sua mão. Observo Diana dançar com Joel por um segundo e retomo a atenção a Laila em seguida.
-Eu não sei dançar.
-Você quer impressionar a Diana ou não?
Franzi a testa, sem saber o que responder. Laila ri, mas suspira impaciente.
-Pouco importa se você sabe ou não dançar... - apontou com a cabeça para Diana e Joel. -Vai perder a oportunidade?
Os observei novamente, coloquei minhas mãos sobre a mesa, pensando que provavelmente irei me arrepender. Me levantei de uma vez e andei até eles. Escutei Laila chamar por Joel, antes que eu pudesse falar alguma coisa. Ele me observou com os olhos semicerrados antes de ir.
-Acho que você vai ter que me ensinar. - sorri de lado.
-É mais fácil aprender com música lenta.
Diana guiou minhas mãos, uma até sua cintura e uma junto a sua. Colocou sua outra mão em meu ombro.
-Dois pra lá... - seguia seus passos. -dois pra cá... devagar.
Pisei no pé de Diana por acidente.
-Desculpa. - balanço a cabeça negativamente.
-Tudo bem... - sorriu. -Você está indo bem.
Nossos corpos nunca estiveram tão próximos como agora. Talvez dançar não seja tão ruim assim.

Me despeço de todos e Diana me acompanha até a saída. As horas passaram, anoiteceu e eu mal percebi.
Diana e eu paramos em frente ao portão.
-Obrigada por ter vindo. Fiquei muito feliz. - me abraçou passando seus braços por cima de meu ombro.
Envolvo meus braços em sua cintura.
-Foi um prazer.
-Eu imaginei que você não viria se eu dissesse que era meu aniversário...
Nos olhamos, Diana pousa suas mãos em meus ombros. Deslizo minhas mãos e as mantenho em seus quadris.
-Eu teria um motivo a mais para vir.
A feição de Diana parece iluminada e feliz, mesmo sem estar sorrindo. Trocamos olhares em silêncio, meu coração bate disparado, me aproximo e beijo seus lábios suave e rapidamente. Diana sorri em seguida.
-Acho que tenho um presente pra você. - solto minhas mãos de seus quadris.
Diana endireita seus óculos e lança um olhar curioso.
-É bem singelo... - tiro uma de minhas pulseiras de elástico de meu pulso e estendo para Diana.
Ela a pega colocando em seu pulso e sorri como se tivesse ganhado o melhor dos presentes.
-Isso foi muito fofo. - brincou. -Eu adorei, obrigada.
Sorri ao observá-la olhar a pulseira em seu pulso.
-Bom, eu preciso ir.
-A gente se vê na escola. - abre o portão.
Passo pelo portão e digo antes de ir embora:
-Você vai fazer alguma coisa amanhã?
-Vou passar o fim de semana com meu pai.
-Ah... - levo minha mão até a nuca. -Até segunda então.
Tenho quase certeza que minha decepção escapou em minha voz. Diana acena, me viro para seguir meu caminho.
-Fica pra outro dia. - disse Diana.
Olho para ela novamente.
-Claro. Com certeza.

Ao entrar em casa vejo meu pai esparramado no sofá, TV ligada, latas de cerveja pela mesa de centro e ao chão. Caminho até a cozinha, pego um copo de água e bebo.
-Onde você estava?
Eu podia jurar que ele estava desmaiado. Esfrego a testa e coloco o copo sobre a bancada da pia.
-Anda, moleque. Responde. - aumentou seu tom de voz.
-Por aí.
Passo direto até o corredor. Meu pai me seguiu, ando mais depressa, entro em meu quarto e fecho a porta. Me jogo na cama. Ele abre a porta de uma vez e entra.
-Eu te fiz uma pergunta, você responde.
-Sai do meu quarto! - me levantei bruscamente.
-Eu sou... seu pai. Seu pai... - embaralhou suas palavras. -Me respeita. Fala onde você tava!
-Tava na casa de uma amiga. Agora sai daqui por favor. - apontei para a porta.
-Mentiroso. Amiga... casa de amiga. Duvido.
-Pode duvidar a vontade lá fora. Sai. Por favor. - dei dois tapinhas em suas costas.
Cambaleou para fora, resmungando sobre o quanto eu sou mal educado. Fechei a porta e voltei a me deitar na cama. Enfiei o rosto no travesseiro, querendo gritar, porém me contive. Tiro meu celular do bolso da calça. Duas chamadas perdidas de Vovó. Vejo na tela. "Puts"
Acho que está tarde para ligar de volta, são quase nove e meia. Meus avós costumam dormir cedo. Creio que vovó deve ter ligado para Sara, após as falhas tentativas de falar comigo. Tenho certeza de que se fosse algo sério, ela insistiria mais, vovô ligaria, a Sara também... Amanhã cedo eu ligo de volta. Escuto batidas na porta.
-Entra.
Sara abre a porta, se aproxima e se senta na cadeira da escrivaninha. Continuo deitado, agora de barriga para cima.
-A vó ligou. Disse que vem buscar a gente amanhã.
Então não era nada demais mesmo...
-Como foi lá na sua amiga?
Olho em sua direção, com confusão em meu rosto, por um segundo. Logo me lembro que tinha comentado com ela.
-Foi... legal.
-Legal? Só isso?
Levo a mão até meu rosto e respiro fundo.
-Já entendi. Não quer me contar...
Pego meu travesseiro e jogo em sua direção.
-Não tem nada pra contar. Eu já disse, foi legal.
Sara gargalha e joga o travesseiro de volta.
-Eu quero detalhes!
-Assistimos filme, comemos pipoca e depois teve churrasco. Satisfeita? - bufei.
-Você parece um velho ranzinza!
-E você parece uma criancinha mimada e muito chata.
-Eu não sou criança! - responde indignada.
Ri de sua reação.
-Ter doze anos pra mim é ser criança. - ainda ria.
Arqueou as sobrancelhas, tentando parecer brava, porém me fez rir mais.
-Vou dormir. Bons sonhos, Tiago. - se levantou.
-Bons sonhos, piralha.
Sara pôs língua e riu em seguida. Passou pela porta e a fechou.


 









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