Cheguei ao estúdio de Jason, ele estava sozinho. Disse que seu próximo cliente está marcado para daqui a uma hora. Me sentei em um dos banquinhos do estúdio, colocando minha mochila em meu colo. Jason está em pé, arrumando algumas coisas que estão em sua mesa.
-Onde você estava? - questionou, vendo que eu ainda estava de uniforme e com a mochila.
-Na casa do Erick. - menti.
Jason parou por um segundo o que estava fazendo e me lançou um olhar de desconfiança, porém se desfez em pouco tempo.
-Vai me dizer o que aconteceu?
O olhei por um segundo e baixei a cabeça novamente. Ele se sentou ao meu lado. Pôs sua mão em meu ombro. Olhei para ele novamente.
Contei como tudo aconteceu. Não houve julgamentos de sua parte, ele pareceu estar mais preocupado e bravo por eu não ter falado nada para ele antes, sobre o bullying da parte de Kevin e Nicolas. Demonstrei meu receio em contar para meu pai, Jason aconselhou-me a não ter medo. Na visão de Jason, meu pai é uma boa pessoa, só está perdido. Ele me contou das diversas vezes em que meu pai falava do orgulho que sente dos seus filhos. Isso soa como uma mentira para mim, pois em casa, ele demonstra apenas sua indiferença.Se passaram horas desde que meu pai chegou do trabalho. Sara está em seu quarto, provavelmente, já deve estar dormindo. Estou sentado na cama, com a advertência em minhas mãos, tomando coragem para ir até ele na sala. Me levanto de uma vez, abro a porta do quarto e vou até a sala. Ele está sentado ao sofá, assistindo o jornal na TV.
-Pai. Preciso falar com você. - me posiciono ao lado da televisão.
-O que é? - responde desinteressado, sem tirar os olhos da tela.
Não digo nada, apenas fico o encarando, esperando que ele perceba que preciso de toda a sua atenção. Além disso, ainda estou formulando por onde devo começar. Ele me olhou impaciente.
-Não vai falar o que é, garoto?! Não tá vendo que eu tô ocupado!
Desviei o olhar por uns instantes, engoli seco e olhei para a advertência em minha mão. Caminhei até ele, parando em sua frente. Entreguei a advertência a ele. Ele a pegou e a lê, quase a amassando ao terminar.
-Que porcaria é essa, Tiago?! - elevou sua voz, se levantando do sofá.
Cheguei um pouco para trás e virei meu rosto para o lado.
-Eu preciso que você assine. - olhei para ele novamente. -E que vá na escola amanhã, no início das aulas. O diretor exigiu.
Ele me reprova com os olhos, balançando a cabeça negativamente.
-Um mês de aula e você já se meteu em briga... Um mês! Qual é o seu problema?
Senti raiva, meus batimentos aceleraram e meu estômago se revira.
-Fala, Tiago! Anda, estou esperando. - disse quase gritando.
-Não precisa fingir que se importa! Só assina a merda do papel! - rebati, com o tom quase tão alto que o dele. -Tenho certeza que seu chefe não vai ligar se você chegar um dia atrasado no serviço.
Disse ironicamente, abaixando a voz. Meu pai geralmente não cumpre seus horários, perdeu vários empregos, antes de nos mudarmos para cá no ano passado, e depois na mercearia. Só não perdeu o emprego atual porque trabalha na mecânica do seu irmão.
Ele apontou o dedo para mim, mas logo recuou. Seguiu rumo ao corredor, indo até seu quarto, retornou com uma caneta. Assinou a advertência e me entregou.
-Se não quer falar, tudo bem... Amanhã o seu diretor me conta.
Dei de ombros e caminhei até meu quarto. Entrei, fechei a porta e me joguei na cama. A luz ainda está acessa, não me preocupei em apagá-la , pois sei que não irei conseguir fechar os olhos e dormir tão cedo. Minha respiração está totalmente descontrolada e minhas mãos tremem,sinto um nó em minha garganta. Queria ter dito tantas coisas, gritado, perguntado o porquê de ele ser assim. Queria perguntar se a dor dele tem mais importância do que a minha. Desde que mamãe morreu, eu vivo esse inferno. Não o reconheço mais. Ele se afundou nas bebidas, se fechou completamente. É como se ele tivesse desligado a sua "função de pai."
Escuto duas batidas leves na porta, em seguida ela se abre e vejo Sara. Faço um sinal para que ela entre. Ela passa pela porta, a fecha e se senta na cama. Me sento também, e observo seu rosto, preocupado, mas sereno. Ela parece muito com a mamãe. Tem os seus cabelos louros e seu rosto angelical. É carinhosa e cautelosa, como eu nunca me permiti ser.
-Não teve como não escutar... Você brigou na escola, Tiago? - disse baixinho.
Fiz que sim com a cabeça.
-Você se machucou?
-Não. - minha voz falhou, quase não saindo som.
Sara me abraçou, deitei minha cabeça sobre seu ombro. É irônico pensar, que ela é minha irmãzinha e que eu deveria cuidar dela, mas na maioria das vezes, acontece o contrário. Me sinto um pouco mal, quando penso sobre isso. Pareço falhar no meu papel de irmão mais velho. Já basta a decepção que ela tem com o meu pai, não precisa ter mais uma comigo.
-O papai é um idiota. Não escuta ele. Quando é comigo, eu só fingo que escuto, faz assim também... Tá bom?
-Tá bom. - me soltei do abraço, olhei para seu rosto, que sorria.
Forcei um sorriso e peguei meu celular e meus fones sob a escrivaninha.
-Quer ouvir música?
-Quero! Mas deixa eu escolher a primeira.
Eu sempre faço isso quando quero que ela fique por perto, mesmo não querendo conversar. E ela sempre entende.
Sara ficou comigo, até cochilar. A acordei e disse para ela ir dormir. Quando se levantou, fez carinho em Sirius, deitado na minha cadeira e apagou a luz, antes de ir. Ainda não tenho sono, porém, agora me sinto mais calmo. Ajeito meu travesseiro e meu cobertor, para tentar dormir. Como se quisesse me confortar, Sirius deitou-se na cama, acomodando-se bem pertinho de mim.
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Efeitos
RomanceTiago, um garoto sensível, tímido e solitário. Diana, uma garota alegre, extrovertida e calorosa. Personalidades opostas que irão se cruzar, após uma situação atípica de suas vidas.