Lyria se equilibrava no parapeito da torre, os dedos afundando na superfície gasta pelo tempo. O vento uivava, ricocheteando seus fios dourados no ar. Abaixo, Zaun se estendia como um organismo vivo, suas veias de metal e vapor pulsando com uma energia febril. Ela observou a cidade com olhos vazios, como se estivesse além de emoções humanas, além da própria carne.
A torre, outrora um relicário majestoso, agora era apenas uma casca corroída. O vidro trincado oferecia uma visão distorcida da cidade, como se Lyria estivesse olhando através das lentes de um sonâmbulo. Apoiada sob a superfície gélida, ela analisou se o vidro cederia e se questionou se a queda seria rápida, a jovem sabia que brincar com a gravidade era um risco.
Mas o sentimento que a mantinha estática era mais do que uma necessidade; era um vício perigoso. Ela se sentia mais viva quando estava à beira do abismo, quando a adrenalina sussurrava em seus ouvidos como uma amante insaciável.
Sob a capa escura que envolvia seu corpo, Lyria trajava um vestido de seda vermelho-sangue, uma chama solitária em meio à escuridão. O ouro bordado nas mangas reluzia, o contraste entre a beleza da peça e a sujeira do ambiente era quase poético. Ela segurava um cigarro entre os dedos, tragando profundamente e deixando a fumaça se misturar ao ar impuro.
Zaun à noite era uma sinfonia dissonante. Os motores roncavam como feras famintas, as engrenagens gemiam sob o peso de suas próprias ambições. Lyria fechou os olhos e ouviu os sons mais sutis: o crepitar de cabos elétricos, o som das chaminés cuspindo fumaça, os sussurros da brisa se insinuando entre os vales e cânions que cortavam Piltover.
As estrelas acima eram como fragmentos fracos e distantes. Elas não vibravam com a intensidade que deveriam, mas com a melancolia opaca de serem limitadas pela névoa. Lyria se perguntava se as estrelas também tinham suas batalhas internas, se lutavam para manter sua luz acesa em meio à escuridão.
Se perguntou se havia liberdade lá em cima e se existia algum lugar para ela, qualquer um, onde as correntes da responsabilidade não insistissem em mantê-la cativa. Ela se sentia como uma máquina desgastada, uma engrenagem quebrada. Mas sua alma ansiava ser mais do que isso.
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Corações de Zaun_ Colisão Profana.
Romance{Primeiro Livro da Trilogia Corações de Zaun.} Sinopse Simplificada: Em meio às penumbras de Zaun, onde o Caos e a Ordem se entrelaçam como amantes traiçoeiros, duas figuras formidáveis se enfrentam como peças em um tabuleiro do destino. Lyria Glasc...