Não lhes dê nenhuma razão para olhar
Nenhum fracasso se você fugir
Então eu não tenho nada a compartilhar
Não, eu não tenho nada a dizer
(Waving Through a Window - Dear Evan Hansen)
Ímola, Itália.
Derrota, frustração, fiasco, desastre, todos sinônimos de como tinha sido aquele domingo. O ar condicionado frio no motorhome da equipe trazia desconforto, e se não bastasse ainda tinha de lidar com o silêncio que vinha de todas as partes.
Diana White, a chefe de equipe, tinha chamado Alice para conversar e ela sabia que era sobre seu desempenho, afinal não tinha sido convocada para a tradicional reunião pós corrida com todos os engenheiros, estrategistas e pilotos para discutir o desempenho catastrófico de horas atrás. Alice sabia que tinha feito merda, sabia que tinha fracassado de novo, mas ter de encarar o olhar de desilusão de Diana era demais para ela. Tudo o que ela queria naquele momento era fugir dos seus problemas de maneira bem covarde se jogando em sua confortável cama durante as próximas horas.
Enquanto Alice se martirizava pelo resultado desastroso Diana abriu a porta e chamou a pilota para sua sala que apesar de pequena era muito aconchegante. A loira estampava um sorriso contido nos lábios. Diana White, além de ser a pessoa que organizava toda equipe, era também o seu maior modelo dentro de um esporte tão masculino. Na década de 90, a irlandesa foi uma promissora pilota que sonhava em conquistar o mundo e ela tinha talento, muito talento, só não chegou a categoria principal do automobilismo porque na época houve uma grande polêmica por ela ter engravidado com 20 anos, o que acabou com suas chances de concorrer de igual para igual com outros pilotos depois de se tornar mãe.
— Não vou me alongar muito, Alice. Você não está aqui para ouvir de todas as coisas que você já sabe.
Diana se apoiou em sua mesa encarando a jovem que estava sentada em sua frente. O tom de voz da chefe de equipe era calmo e quase sereno, como de alguém que já tinha passado por muitas frustrações dentro do esporte.
— Hoje você não fez o seu melhor trabalho, não foi a Alice em que apostamos e acreditamos que um dia vai chegar ao título.— Continuou —E eu sinceramente não sei o que está acontecendo com você, mas eu gostaria muito de tentar entender. — Disse em um tom quase maternal.
Alice suspirou fundo e mais do que nunca quis sair correndo, mas ela não era assim. Desde pequena tinha aprendido a enfrentar seus problemas de forma corajosa. Aprender com seus erros sempre foi um traço de sua personalidade, no entanto, ultimamente se sentia muito inferior mesmo que tivesse chegado onde sempre quis estar. Tudo parecia fora de ordem, sem controle, e mesmo que quisesse não sabia explicar o que de fato estava prejudicando seu desempenho. O automobilismo é um esporte cruel, nem sempre dar o seu melhor é garantia de sucesso, por isso Alice não podia explicar exatamente o que estava acontecendo.
— Eu me sinto uma fraude, eu não sinto que mereço estar aqui e eu vou entender completamente se a equipe decidir não me apoiar mais. — Suspirou mais fundo não se deixando chorar em frente à sua chefe, seria embaraçoso demais. — Sinto que por ser mulher eu não posso ser medíocre, eu não posso ficar feliz por chegar em quarto lugar em uma corrida, porque isso já é um resultado ruim. Eu preciso ganhar sempre pra ser levada a sério, estou cansada dessa cobrança, estou cansada de não poder me irritar com medo das pessoas dizerem que meu temperamento é ruim.
Pela primeira vez desde que saiu de dentro do cockpit se sentia mais leve. Alice sabia que não deveria ter sido tão sincera com sua chefe, afinal seu contrato terminava no fim do ano e expor de forma tão crua o quanto não sabia lidar com cobranças externas não era nada bom para quem deveria mostrar profissionalismo.
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Only Us | Charles Leclerc
FanfictionAlice Walsh planejou passo a passo como seria sua vida. Seus planos seguiam conforme o programado: era a primeira piloto mulher a ganhar o campeonato de Fórmula Regional Europeia, tinha conseguido com folga os pontos para super licença e com 20 anos...
