Capítulo 29 - Garotas Só Querem Diversão

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Hoje só quero estar cercado de amigos 
E sofrer de amnésia até amanhã 
 Nada de assuntos sérios 
 Tudo que se torne complicado, deixaremos de lado

(El Abrigo - Tommy Torres)


Fisher Island, Estados Unidos.

Ter amigas sempre foi uma questão para Alice, desde a época da escola ela tinha dificuldade em se relacionar com mulheres, era muito difícil saber fazer o delineado perfeito quando se preocupava com as aulas de física e tinha que treinar todos os dias para manter sua rotina de atleta. Também era complicado estar presente aos finais de semana quando as meninas iam para festas, marcavam uma noite das garotas ou iam para festivais de música. Na verdade, boa parte da sua adolescência podia ter sido descrito como Alice sendo a perfeita caracterização de uma "pick me girl", a garota que buscava algum tipo de validação masculina, mas por mais que gostasse de carros, velocidade, filmes de ação e esportes ainda não se sentia encaixada em grupo algum, quando acontecia alguma confraternização, viagem ou festa, os meninos nem pensavam em convidá-la a relembrando toda vez que não fazia parte.

Quando entrou para o time principal da McDonell Racing Team e foi apresentada para Lia Maya Shastri, Alice descobriu que ser feminina não era um grande erro da humanidade, na verdade, não era vergonha alguma gostar de filmes de romance, músicas melosas, maquiagem bem feita, vestidos bonitos e tudo o que era considerado feminino. Tudo bem não gostar de performar feminilidade pelos quatro cantos do mundo, não tem nada de errado também, mas foi só quando pôde dividir as dores, crises e ansiedades com outra mulher que Alice descobriu que ter mulheres presentes na sua vida era não só necessário como um presente, e no final das contas não existia de tal coisa ser masculina demais ou feminina demais.

Foi com esse pensamento que depois do jantar harmonioso no restaurante chique do hotel em Fisher Island, em que seus amigos riam, interagiam e conversavam sobre coisas diferentes de velocidade, corridas e campeonatos. Aimée podia ser controladora o suficiente para enlouquecer qualquer pessoa racional ao planejar uma viagem, mas a francesa era muito boa em deixar o clima leve para confraternizações. Quando o jantar terminou, a francesa sugeriu que as meninas fossem até a praia terminar uma garrafa de vinho enquanto aproveitavam a noite quente da ilha.

— Eu realmente gosto de ser professora, eu amo crianças. — Sara respondeu à Lia depois de dar um gole no vinho. — E é por isso, por respeitá-las o suficiente que não quero ser mãe.

— Eu entendo seu ponto, mas dizer para uma família indiana que você não quer ser mãe é quase como ameaçar seus pais de morte. — Lia complementou e Sara concordou.

As duas beiravam os 27 anos e já tinham escutado vezes o suficiente como só se tornariam completas depois da maternidade. Sara um pouco menos, pois apesar da profissão tradicional, Sara se comportava como aquela tia legal que aparece em todo natal, mas que os pais odeiam porque ela é livre demais, descolada, fala o que pensa, tudo sem perder o charme de ser alguém que trabalha com educação. Por outro lado, Lia tinha escolhido uma profissão pouco comum, mas o seu íntimo era mais tradicional do que gostaria, era a primeira geração da sua família nascida no Reino Unido, vivia a ambiguidade de uma cultura que zelava o casamento, a família, para outra que acreditava que a liberdade era o oposto, e mesmo assim sofria as mesmas crises de Sara.

— Eu quero ser mãe. — Alice se pronunciou com um sorriso no rosto. — Eu só não consigo imaginar em qual altura da minha vida, não dá pra imaginar uma piloto no auge da carreira grávida.

— Ou uma diretora de marketing. — Aimée completou direcionando a garrafa para Alice que deu um longo gole.

— É uma loucura e chega até ser injusto todas essas merdas que jogam para cima a gente. — Lia bufou.

Only Us | Charles LeclercOnde histórias criam vida. Descubra agora