Capítulo 7 - Esquilinho

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Você cale sua boca
Como pode dizer
Que eu levo as coisas para o lado errado?
Eu sou humano e preciso ser amado
Assim como todo mundo precisa

(How Soon Is Now? – The Smiths)

Portimão, Portugal. 

— Muito bom, Alice. — Pelo rádio a inglesa ouviu o engenheiro com a voz calma de quem tinha acabado de sair de um spa. Tinha terminado o terceiro treino livre na quarta colocação, com certeza o seu melhor resultado no ano.

Dez dias passaram rápido demais. Nesse meio tempo Lia visitou seus pais em Bolton, Tom ajudou Alice a reorganizar sua dieta e exercícios diários, inclusive se inscrevendo junto com ela em um grupo de zumba só por diversão e para tentar ajudar a amiga a sentir menos falta de Noah que odiava dança. Terminar um relacionamento é difícil por vários motivos, mas se deparar com você mesma, seus gostos e preferências era penoso demais depois de um relacionamento longo. Nos dias em que passou longe do trabalho teve algumas crises de choro por não saber se preferia sorvete de limão ou morango, pois passou tempo demais com Noah pedindo sempre o mesmo sabor nos restaurantes, nesse dia Tom teve que ir ao apartamento da amiga munido de diversos sabores do doce e junto com ela decidiram quais sabor ela gostava mais, não era morango e nem limão.

Mas o martírio de ter de lidar com um término, pelo menos tinha acabado no momento em que pisou em Portugal. O país sediaria o próximo GP, o que era a oportunidade perfeita para Alice melhorar seus resultados. Pelo menos foi isso que ela decidiu assim que chegou ao autódromo de Portimão, seria uma nova Alice com resultados positivos e menos reclamona. Era sexta-feira e os treinos livres já tinham acabado, estava naquele momento sentada dentro do cockpit correndo como nunca, a sensação de alta velocidade e adrenalina era o que a trazia de volta a vida, na pista não lembrava de namoros fracassados ou das suas derrotas pessoais, na pista Alice podia ser ela mesma, sem medo de parecer tímida demais, ousada demais ou alguém que deve se desculpar por gostar do que gosta. Então, no momento em que ouviu seu engenheiro a parabenizando pelo desempenho, pôde sentir que tudo estava de volta aos eixos. Assim que saiu do carro e tirou seu capacete e a balaclava ficou claro que estava no caminho certo. Viu Lia se aproximar com sua habitual prancheta e gravador, aquilo só poderia indicar que seu dia ainda não tinha terminado.

— Como é possível seu cabelo continuar bonito depois de ficar uma hora com esse capacete? — Perguntou franzindo o cenho como se aquela fosse realmente a pergunta importante do dia.

— Não me faça perguntas difíceis — Respondeu Alice descendo metade do zíper do macacão. — Eu só queria voltar para o hotel agora.

— Eu sei, meu anjo, mas temos agendadas pequenas entrevistas com dois canais ingleses e prometo que em menos de duas horas eu te libero. — Lia sorriu mostrando todos os dentes sabendo a possibilidade de as entrevistas durarem um pouco mais.

Alice seguiu para seu motorhome onde se ajeitou minimamente, trocou de roupa, fez uma maquiagem bem básica e colocou o tradicional uniforme da equipe, ou seja, camisa branca com detalhes em azul royal e uma calça jeans preta. Lia já a esperava do lado de fora e foi dando indicações de como a entrevista seguiria, aquilo que poderia falar e como responder do melhor jeito.

— Hoje aconteceu uma coisa interessante. Clara Sinelli apareceu me dando indiretas sobre uma certa piloto inglesa que se divertiu demais na Itália e acabou bebendo tanto que vomitava sem pudor algum no banheiro do bar do hotel.

Lia com suas sobrancelhas impecáveis e traços marcados e valorizados pela maquiagem disse com o tom de voz que era conhecido por Alice como "ferrou geral", esse tom de voz foi usado duas vezes com Alice, a primeira quando a inglesa esqueceu o aniversário da amiga e a segunda quando não foi convidada para um show exclusivo do Harry Styles com direito a foto e uma possível, mas não confirmada troca de telefones entre o cantor e a piloto.

Only Us | Charles LeclercOnde histórias criam vida. Descubra agora